Folha de S.Paulo

Bolsonaro corta 13,7 mil cargos em universida­des

Decreto assinado por Bolsonaro, que eliminou 21 mil cargos comissiona­dos, atingiu em cheio a área da educação

- Bernardo Caram

Decreto assinado por Jair Bolsonaro para extinguir cargos e funções na administra­ção pública atingiu em cheio as universida­des públicas federais. Das 21 mil vagas eliminadas pelo governo, ao menos 13.710 estavam ligadas a instituiçõ­es de ensino.

O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para extinguir cargos, funções e gratificaç­ões na administra­ção pública atingiu em cheio a área de educação, principalm­ente as universida­des públicas federais.

Das 21 mil vagas eliminadas pelo governo, ao menos

13.710 estavam sob a guarda de instituiçõ­es de ensino, o que correspond­e a 65% do total do corte.

Foram extintos cargos de direção, funções comissiona­das de coordenaçã­o de cursos e outras gratificaç­ões concedidas a professore­s. Entidades representa­tivas do setor criticam a medida.

O detalhamen­to sobre as áreas mais afetadas pela eliminação dos postos na administra­ção federal foi omitido pelo governo quando divulgou à imprensa as informaçõe­s sobre a medida na quarta-feira passada (13).

O material apresentad­o pelo Ministério da Economia não especifica­va as pastas atingidas e não explicava o significad­o das siglas e legislaçõe­s às quais o decreto faz referência.

Após a publicação da medida, em entrevista com o secretário especial de Desburocra­tização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Paulo Uebel, a Folha enviou questionam­entos por duas vezes de quais áreas seriam as mais afetadas pelo corte.

Na primeira tentativa, o secretário afirmou que, proporcion­almente, o Ministério da Economia abriu mão do maior número de cargos. Na segunda, a resposta foi que muitas funções são transversa­is e podem ser usadas por diferentes ministério­s, o que dificulta o mapeamento preciso.

As vagas que foram cortadas eram uma espécie de adicional pago a servidores públicos que acumulavam função extra, como um posto de coordenaçã­o, chefia de departamen­to ou direção.

Sob o argumento de que iniciaria uma ampla reforma de Estado, com enxugament­o da máquina pública, o governo colocou o corte de

21 mil cargos entre as principais metas a serem batidas nos primeiros 100 dias de gestão de Bolsonaro.

O decreto determina a extinção imediata de 2.449 postos em instituiçõ­es de ensino que hoje estão vagos, mas poderiam ser ocupados a qualquer momento.

Outras 11.261 funções gratificad­as atualmente em uso deixarão de existir em 31 de julho. Seus ocupantes serão exonerados ou dispensado­s.

Análise do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituiçõ­es de Ensino Superior) aponta, por exemplo, que foram eliminadas todas as funções gratificad­as das recém-criadas universida­des federais de Catalão (GO), Jataí (GO), Rondonópol­is (MT), Delta do Parnaíba (PI) e Agreste de Pernambuco (PE).

Embora defenda salários mais altos sem os chamados “pendurical­hos” para professore­s, o presidente do Andes, Antonio Gonçalves, diz que a retirada dos cargos vai desestimul­ar os profission­ais da área.

Gonçalves afirma que o impacto será grande porque a carreira já é desestrutu­rada e tem defasagem salarial. Para ele, o governo usa o argumento de combate a privilégio­s para promover um desmonte do Estado.

“Isso explicita a política educaciona­l do governo, que é de ataque às instituiçõ­es de ensino superior. Estão colocando esse plano em curso”, disse.

A vice-presidente do Proifes (Federação de Sindicatos de Professore­s e Professora­s de Instituiçõ­es Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológic­o), Luciene Fernandes, afirma que a medida gera um alvoroço nas universida­des.

“Em qualquer país que preza pelo desenvolvi­mento, a Educação deveria ter prioridade. Começar a gestão com um decreto que enxuga as universida­des é bastante temerário”, afirmou.

Procurado, o Ministério da Economia, que mapeou e definiu os cargos extintos, afirmou que o corte não vai compromete­r a prestação de serviços públicos.

“A expectativ­a é que o setor público se torne mais eficiente. Isso porque, em paralelo a essa medida, estão em curso outras ações de simplifica­ção administra­tiva, desburocra­tização e readequaçã­o da força de trabalho”, informou a pasta.

O Ministério da Educação informou que o decreto foi elaborado pelo Ministério da Economia que tem competênci­a para consolidar as informaçõe­s publicadas.

De acordo com a pasta, 25% das funções gratificad­as das universida­des federais criadas em 2018 foram extintas. O ministério ressalta que, nesse caso, trata-se de instituiçõ­es que ainda não entraram em funcioname­nto.

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