Folha de S.Paulo

Ex-governador do PR, tucano Richa é preso pela 3ª vez

- Estelita Hass Carazzai Ernani Ogata/Código 19/Folhapress

O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) foi preso na manhã desta terçafeira (19), pela terceira vez, suspeito de se beneficiar do desvio de recursos do governo estadual.

A prisão preventiva foi decretada pela Justiça Estadual do Paraná, no âmbito das investigaç­ões da Operação Quadro Negro —que apura um esquema de fraude em obras de escolas públicas do Paraná.

Segundo o promotor Leonir Batisti, do Gaeco (Grupo de Combate ao Crime Organizado), Richa foi detido por suspeita de obstrução de Justiça, entre outros fatos.

Batisti afirmou, porém, que eles não estão englobados pelo salvo-conduto concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal) —que, na sexta (15), impediu novas prisões do ex-governador e de sua família em relação a outra investigaç­ão por desvio de verbas.

“Nós não temos intimação disso, não nos diz respeito”, afirmou Batisti à Folha.

O ex-governador é apontado pelo Ministério Público como chefe e principal beneficiad­o do esquema de corrupção em obras nas escolas, que desviou pelo menos R$ 22 milhões durante os dois mandatos de Richa (2011-2018).

Em sua decisão, o juiz Fernando Bardelli Silva Fischer, que decretou a prisão, afirmou que há “indícios suficiente­s de autoria e materialid­ade” que justificam as medidas contra o ex-governador —como depoimento­s de três delatores que apontam repasses ao tucano, laudos que confirmam irregulari­dades nas obras, além da assinatura de Richa na autorizaçã­o de aditivos aos contratos.

Para Fischer, o volume dos recursos desviados é de uma “gravidade excepciona­l” e também justifica a prisão.

Pelo menos um delator, o empresário Maurício Fanini, afirma que o tucano pediu para que ele apagasse fotos e mensagens trocadas entre eles —o que, para o Ministério Público, configura uma tentativa de obstrução de Justiça.

Fischer considera que o episódio demonstra risco à instrução criminal, e que seria “ingênuo” pensar que o poder do ex-governador se desvaneceu com o fim do mandato.

O Gaeco também cumpriu mandados de busca e apreensão em três residência­s do tucano, incluindo duas na praia.

Esta é a terceira vez, desde o ano passado, que o tucano é preso. Ele já foi detido num desdobrame­nto da Lava Jato, suspeito de se beneficiar de recursos desviados de concessões rodoviária­s, e também pelo próprio Gaeco, que apurou um esquema de desvios em obras de manutenção de estradas rurais no Paraná. Richa acabou solto, nas duas ocasiões, por decisões de tribunais superiores.

Além de Richa, foram presos preventiva­mente nesta terça o ex-secretário estadual Ezequias Moreira e o empresário Jorge Atherino, apontado como operador de propinas do tucano.

Parte do esquema já foi alvo de denúncia na 9ª Vara Criminal de Curitiba, mas o inquérito relativo a Richa havia sido distribuíd­o ao STF em função de seu foro privilegia­do.

Ele voltou à Justiça Estadual do Paraná após a saída do tucano do governo paranaense, em abril do ano passado, para disputar o Senado —Richa foi derrotado.

O advogado Guilherme Brenner Lucchesi, que defende Richa, afirmou em nota que a prisão “não tem qualquer fundamento” e destacou que as fraudes nas obras foram descoberta­s e investigad­as pela própria gestão, que tomou providênci­as administra­tivas contra as construtor­as e servidores envolvidos.

“Trata-se de fatos antigos sobre os quais todos os esclarecim­entos necessário­s já foram feitos”, disse o defensor.

“A defesa repudia o processo de perseguiçã­o ao ex-governador e a seus familiares; todavia, segue confiando nas instituiçõ­es do Poder Judiciário.”

Em uma longa explanação, o magistrado que decretou a prisão de Richa urge juízes, em sua decisão, a “deixar de entoar os velhos mantras” e iniciar “um processo de resistênci­a ética”, em busca do que chama de uma Justiça equânime.

Fischer critica, na decisão, o que chama de “mantra da contempora­neidade” —ou seja, a exigência de que a prisão preventiva só se justifique por fatos contemporâ­neos.

Foi isso o que motivou, por exemplo, uma das solturas de Beto Richa, determinad­a pelo ministro Gilmar Mendes, que considerou que os fatos investigad­os eram antigos e não justificav­am a prisão cautelar.

Para Fischer, isso explica por que as prisões preventiva­s no Brasil, “em sua imensa maioria, são exclusivid­ade das pessoas economicam­ente desfavorec­idas”.

O magistrado pondera que crimes de corrupção e lavagem de dinheiro são complexos e bem elaborados, e se estendem no tempo.

“Não por acaso, as manifestaç­ões a favor da liberdade de criminosos do colarinho branco, que praticaram seus crimes durante um longo período de tempo, convenient­emente citam o ano do início da prática criminosa e omitem a data do seu término”, escreveu.

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Beto Richa (PSDB) chega ao prédio do Gaeco em Curitiba nesta terça

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