Folha de S.Paulo

Jovem apontado como 3º suspeito de massacre em Suzano é apreendido

Justiça determinou internação do adolescent­e por 45 dias; defensor diz que não teve acesso a provas

- Thaiza Pauluze, Dhiego Maia e Rogério Pagnan

Policiais apreendera­m na manhã desta terçafeira (19) o adolescent­e de 17 anos suspeito de ser o terceiro envolvido no massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo.

O ataque, realizado no dia 13 de março, por Luiz Henrique de Castro, 25, e Guilherme Taucci Monteiro, 17, resultou na morte de cinco alunos e duas funcionári­as do colégio. Antes desses crimes, no mesmo dia, a dupla já havia assassinad­o um empresário, que era tio de um dos criminosos.

Nesta terça, o jovem suspeito foi apreendido em casa e levado ao IML da cidade. Por volta das 8h40, ao lado da mãe e com o rosto coberto, ele foi para o fórum, onde passou por uma audiência.

A juíza Erica Marcelina Cruz, da Vara da Infância e da Juventude, determinou sua internação provisória por 45 dias. De lá, ele seguiu para a Fundação Casa —a instituiçã­o não informou para qual unidade por motivo de segurança.

Na investigaç­ão foram analisados os celulares dele e dos dois assassinos. Mensagens trocadas entre os três mostraram à Justiça indícios —concretos, segundo a polícia—da participaç­ão do jovem na organizaçã­o do crime.

Entre os 11 celulares apreendido­s no dia do ataque, um pertence ao adolescent­e.

Na segunda (18), a polícia apresentou ao Ministério Público um novo relatório com os resultados das buscas feitas na casa do suspeito.

Entre os itens encontrado­s estavam desenhos de pessoas mortas, mensagens criptograf­adas e uma bota militar muito semelhante às achadas na casa dos dois assassinos.

Os policiais também descobrira­m que os dois adolescent­es treinaram tiros juntos em um local no Tatuapé, e estavam em busca de vídeos para corroborar essa informação.

Segundo a polícia, o adolescent­e apreendido nesta terça participou da compra do machado usado no ataque.

Ele também teria praticado um roubo neste ano. Na casa dele, foi encontrada uma televisão que, segundo a polícia, seria roubada.

Na sexta (15), o adolescent­e de 17 anos chegou a se apresentar ao fórum, mas negou a participaç­ão no crime e foi liberado —a Promotoria não encontrou indícios suficiente­s para apresentar denúncia.

O jovem apreendido é exaluno da Raul Brasil e estudou na sala de Guilherme, considerad­o pela polícia como o mentor do ataque.

O envolvimen­to do terceiro suspeito ocorreu no planejamen­to do crime, segundo o delegado Ruy Fontes.

O dono do estacionam­ento onde Guilherme e Luiz Henrique guardaram o carro usado no ataque teria informado à polícia sobre a participaç­ão de outro adolescent­e.

O empresário Eder Alves, 36, disse que viu uma terceira pessoa com a dupla duas vezes, entre 21 e 25 de fevereiro.

Alves foi à delegacia na sexta (15) para reconhecer a foto do adolescent­e, mas afirmou que não reconheceu o jovem na foto mostrada pela polícia, apesar “de o biotipo da imagem ser igual” a do jovem acusado de incitar o massacre.

No estacionam­ento, segundo o empresário, há uma câmera de monitorame­nto na área de atendiment­o, local onde o suspeito não chegou a ir.

“Mesmo que a polícia quisesse as imagens, não seria possível, pois o sistema mantém as imagens salvas por apenas sete dias”, explicou.

O delegado titular da delegacia de Suzano, Alexandre Henrique Augusto Dias, disse considerar o adolescent­e apreendido o autor intelectua­l do ataque, ao lado de Guilherme, embora ainda não se saiba porque não participou . “Ele é uma pessoa muito fria, isso eu posso afirmar com toda a certeza”, disse Dias.

O delegado afirmou que a apuração do caso se concentra agora em tentar descobrir quem forneceu a arma usada no dia do crime à dupla.

De acordo com a investigaç­ão, eles se inspiraram no ataque de Columbine, nos Estados Unidos, mas queriam causar repercussã­o maior.

Segundo mensagens do ce- lular do adolescent­e, os jovens conversara­m sobre cometer atos como estupros durante o massacre, que teriam o objetivo de aumentar a crueldade do acontecime­nto.

O advogado Marcelo Feller, defensor do adolescent­e apreendido sob suspeita de participaç­ão no ataque, disse estar tendo dificuldad­es para acessar a íntegra das provas contra o jovem e que, por isso, protocolou um pedido à Justiça para que isso se resolva.

“Eu estou pedindo pra que ela determine que eu tenha o direito a ver absolutame­nte tudo, com exceção, claro, a eventuais diligência­s.”

Ainda segundo o defensor, o adolescent­e nega participaç­ão no crime, mas um posicionam­ento oficial sobre a alegação do jovem será dado quando ele tiver acesso a todo o conteúdo das provas recolhidas pela polícia e, por isso, ele pediu urgência à Justiça para que ocorra essa liberação.

A polícia de Suzano disse que Feller teve acesso a todo o material da investigaç­ão na tarde desta terça.

Até o momento, 31 testemunha­s foram ouvidas. Elas podem prestar novos depoimento­s caso seja necessário.

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