Centenária, tinha nos amigos o segredo da longevidade
EMÍLIA PEREIRA PINTO (1912-2019)
Quando Emília Pereira Pinto completou 90 anos, os filhos e netos se reuniram. Pensaram em fazer uma grande festa para celebrar a idade avançada, pois não sabiam quanto tempo restaria à matriarca da família —dona Emília ainda teria outras 16 festas.
O salão da igreja em Lins, no interior de São Paulo, ficou pequeno para as comemorações da centenária, já tradicionalmente lotadas.
Aliás, o espaço que era alugado para outras pessoas, para ela era cedido. Também, pudera: se houvesse reza todos os dias, lá estaria ela.
Católica fervorosa, frequentou a missa até o fim de sua vida. Quando se sentia indisposta para ir à igreja, uma amiga levava até Emília a comunhão.
Apesar de ser viúva há quase 30 anos, não se sentia sozinha —dificilmente sua casa ficava vazia. Teve oito filhos, 21 netos, 31 bisnetos, oito trinetos e mais afilhados do que ela podia contar.
Em uma entrevista para um jornal local, disse que o segredo de sua longevidade era as boas amizades que cultivava.
Aos visitantes, fazia questão de presentear com as toalhas que bordava —passava o dia fazendo crochê. Mantinha a destreza e a agilidade das mãos, que já trabalharam na roça.
Emília também foi cozinheira por um período e amava fazer quitutes para os netos, que insistiam em pedir por um bolinho frito chamado de cueca virada. “A gente até tenta, mas ninguém consegue fazer igual ao dela”, conta o filho, Antenor.
Era ainda dona de um bom humor invejável. Uma trombose fez com que tivesse de amputar a parte inferior da perna, mas nem isso abalou sua serenidade. Os netos a chamavam, de brincadeira, para corridas e para jogar futebol. Ela gargalhava.
Certa vez, se perguntou porque é que Deus ainda não a haviachamado.Comosuaaudição não era boa, um de seus netos brincou: “Vó, ele até chamou, mas a senhora não ouviu!”.
Na última terça-feira (12), dona Emília escutou. Morreu de causas naturais, aos 106.
RUTE LACERDA BORGES
Aos 88, viúva. Terça (19/3) às 13h. Cemitério do Araçá, av. Doutor Arnaldo, 666, Consolação