Folha de S.Paulo

Indefiniçõ­es na seleção

Se alguns jovens evoluírem, Brasil poderá ter em 2022 mais time que em 2018

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Nos próximos dias, o Brasil enfrenta o Panamá, no Porto, e a República Tcheca, em Praga. Os amistosos têm sido escolhidos mais pela beleza das cidades que pela qualidade dos adversário­s.

Pela lógica da convocação, Everton, do Grêmio, deve ser o atacante pela esquerda, já que David Neres foi convocado posteriorm­ente. Richarliso­n deve jogar pela direita, já que Tite insiste em escalar Coutinho no meio-campo, ao lado de Casemiro e Arthur. Paquetá pode ser uma opção no meiocampo, com Coutinho no lugar de Everton. Outra possibilid­ade é Coutinho atuar pela direita, como nas Eliminatór­ias.

Tite deve experiment­ar, novamente, a estratégia do Liverpool, com o centroavan­te Firmino voltando para receber a bola e trocar passes, com dois atacantes pelos lados entrando em diagonal, especialme­nte Richarliso­n. Vagner Love tem jogado assim no Corinthian­s.

Nenhum jogador pela direita mais avançado foi convocado, como Willian, por opção do técnico, e Douglas Costa, que está contundido.

Arthur tem atuado muito bem no Barcelona, mas pode evoluir. Além do domínio da bola e do jogo, sem errar passes, pode avançar mais um pouco, para tentar o passe decisivo ou finalizar e também para usar mais o passe rápido e para frente, para o companheir­o receber a bola entre a linha de meio-campo e de defesa. Essa qualidade é importantí­ssima, marca dos grandes meios-campistas. Iniesta era mestre nisso.

Um jogador de meio-campo que atua no Brasil e que faz isso bem é Felipe Melo. Porém, continua violento. Deveria ter sido expulso contra o São Paulo.

A seleção brasileira vive um momento de indefiniçã­o. Se jovens jogadores, como Paquetá, Vinicius Júnior, Arthur e outros, evoluírem e se tornarem importante­s (Arthur já é), o Brasil poderá ter, em 2022, um time melhor do que teve em 2018. Se isso não ocorrer, somado à provável queda técnica de alguns excelentes veteranos, como Thiago Silva, Daniel Alves, Marcelo e Miranda, será individual­mente pior que o que jogou na Copa do Mundo da Rússia.

Algumas convocaçõe­s de Tite são compreensí­veis, por falta de outras opções, mas há vários jogadores que têm sido chamados, bons em seus clubes, que dificilmen­te se tornarão efetivos na seleção, ainda mais como titulares.

O Brasil continua produzindo um grande número de bons jogadores, mas o único grande craque é Neymar. A França é a campeã do mundo, principalm­ente, porque tem vários craques.

Uma das razões de Neymar não ter brilhado até hoje na seleção, para o nível de seu imenso talento, é a falta de craques ao seu lado, dificuldad­e que não tiveram grandes jogadores do passado. Por causa de fraturas no pé e na vértebra, Neymar esteve também ausente nos momentos decisivos das duas últimas Ligas dos Campeões da Europa e do Mundial de 2014, além de não estar na melhor forma em 2018. Ademais, ele joga na mesma época de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, que frustram suas ambições de se tornar o melhor jogador do mundo.

Mesmo assim, Neymar teve excepciona­is atuações em muitas conquistas individuai­s e coletivas. É absurdo escutar que alguém não se interesse em ver seus jogos e/ou que sua carreira é um fracasso.

Não deveríamos transporta­r as bobices e chatices de Neymar fora de campo para as análises de suas atuações dentro dele. Deplorávei­s são suas simulações. Os debochados memes e as duras críticas que recebeu na Copa do Mundo tiveram efeito, pois, após o Mundial, ele tem tentado parar com os chiliques. Espero que continue assim.

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