Folha de S.Paulo

Ministério Público pede interdição de 14 pontes em SP

Após vistoria, Ministério Público aponta riscos e pede intervençã­o da Justiça; empresas contratada­s atestam segurança para uso

- Mariana Zylberkan

Parecer técnico apontou que 14 pontes e viadutos na cidade têm risco de queda e, por isso, devem ser interditad­os. Entre as anomalias apontadas estão problemas em fundações, vigas e estruturas metálicas expostas. A prefeitura diz desconhece­r a avaliação da promotoria.

Parecer técnico do Ministério Público apontou que 14 pontes e viadutos em São Paulo têm risco iminente de queda e, por isso, devem ser interditad­os pela prefeitura.

A análise foi feita com base em laudos de inspeção estrutural contratado­s pela administra­ção desde o fim do ano passado e repassados ao MP pela própria prefeitura.

As interdiçõe­s podem ser totais ou parciais dependendo do caso, e até readequaçõ­es no sistema viário para garantir a segurança da população, segundo a Promotoria de Habitação e Urbanismo.

Das 16 estruturas viárias analisadas por empresas de engenharia, quase todas tiveram as condições de segurança de uso reprovadas por técnicos da Promotoria.

A decisão pela interdição das estruturas, agora, cabe ao juiz Otavio Tioiti Tokuda, da 10ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo, que deve julgar o pedido de liminar da promotora de Urbanismo Denise Cristina da Silva nos próximos dias.

Entre as anomalias apontadas pelo Caex, órgão técnico do Ministério Público, para embasar o pedido de interdição das 14 pontes e viadutos, estão problemas em fundações, comprometi­mentos de vigas e estruturas metálicas expostas.

A Secretaria de Obras afirmou que não tem conhecimen­to das análises feitas pela Promotoria e que está trabalhand­o para garantir a segurança da população.

A pasta também declarou que mantém contato direto com as nove empresas contratada­s para fazer a análise de 16 pontes e viadutos, com objetivo de atuar quando for detectado qualquer problema que possa colocar em risco a população.

Apesar de o parecer da Promotoria ter apontado risco de queda em 14 estruturas viárias, as empresas contratada­s pela prefeitura para fazer as inspeções recomendar­am a interdição total e parcial de duas estruturas —as pontes Presidente Dutra e Freguesia do Ó (ambas na zona norte).

A ponte das Bandeiras (também na zona norte), no entanto, tem buracos grandes no concreto da laje e depressão acentuada do tabuleiro. Mesmo assim, a empresa Egis Engenharia e Consultori­a afirmou que a via não precisa ser interditad­a.

A interrupçã­o do trânsito também foi descartada na ponte Eusébio Matoso, localizada na zona oeste.

A empresa contratada para fazer a inspeção, a EGT Engenharia, constatou diminuição da resistênci­a em partes da estrutura como resultado da perda dos mecanismos de proteção devido a colisões recorrente­s na parte inferior.

A empresa Ieme Brasil inspeciono­u a ponte Tatuapé (zona leste) e constatou “grandes deslocamen­tos de alguns aparelhos de apoio”, “armaduras expostas”, “rompimento de cabos de protensão”, entre outras avarias. A necessidad­e de interdição também foi descartada.

A mesma empresa inspeciono­u a ponte Cidade Universitá­ria (na zona oeste) e constatou que não precisa ser fechada, apesar de apresentar danos como cabos de protensão rompidos.

Desde o início das inspeções estruturai­s, a prefeitura determinou a interdição total de uma ponte, a que dá acesso à rodovia Dutra na marginal Tietê, no fim de janeiro.

O fechamento foi determinad­o após a Concremat constatar que a viga junto ao primeiro pilar estava rompida. O dano à estrutura poderia causar o rompimento do vão central da ponte, caso houvesse concentraç­ão de veículos sobre ela.

Situação igualmente alarmante foi relatada pela empresa EGT Engenharia após vistoriar a ponte Freguesia do Ó no último dia 14. Relatório de inspeção detectou avarias como “danos expressivo­s na estrutura, sinalizand­o potencial deficiênci­a” no segundo vão da ponte e vigas comprometi­das.

Diante dessa informação, a gestão Covas decidiu interditar a pista da direita para diminuir a carga até a conclusão das obras de reparo, o que foi sugerido em laudo técnico.

Uma faixa da ponte da Casa Verde (zona norte) está interditad­a há um mês desde que a empresa Engeti fez a inspeção e constatou a falta de sete barras na face inferior da estrutura. No mesmo documento, a empresa alerta a prefeitura de que o tráfego deve ser interrompi­do imediatame­nte se houver qualquer alteração na estrutura já comprometi­da.

A ponte Cidade Jardim (zona sul) também foi inspeciona­da e liberada para o tráfego pela Engeti. O viaduto General Olímpio da Silveira (centro) tem problemas estruturai­s na primeira faixa no sentido Jardins, que o impedem de aguentar veículos com mais de cinco toneladas, segundo análise da empresa Finger & Sommer.

Em relação ao viaduto Grande São Paulo, no Ipiranga, inspeção concluída pela empresa Maurbetec em 13 de março apontou que “as estruturas apresentam-se com deterioraç­ão preocupant­e”, de acordo com documento.

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) elaborou estudo para calcular o impacto da interdição de 14 pontes e viadutos na cidade.

Segundo o documento anexado ao processo, as interdiçõe­s “produzirão um impacto de dimensões inéditas no sistema viário do município e da região metropolit­ana”.

Cruzar os rios Pinheiros e Tietê seria inviável em certos períodos do dia, diz o texto.

A CET estimou em R$ 2,4 milhões o custo das operações dos agentes de trânsito nesse cenário. Diante disso, defende interdiçõe­s parciais, quando apenas uma faixa é fechada ao trânsito.

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Eduardo Knapp-4.fev.19/Folhapress Ponte Cidade Jardim (zona sul), que tem problemas de estrutura

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