Folha de S.Paulo

MEC a perigo

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Acerca de tropeços em série do titular da Educação.

Em algumas escolas, alunos incapazes de sair-se bem em avaliações durante o período letivo regular ganham nova chance na chamada recuperaçã­o, com revisão da matéria dada e nova avaliação. Por essa praxe, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, já estaria ameaçado de reprovação.

A sequência de fiascos protagoniz­ada por Vélez parece intermináv­el. Prometeu uma certa Lava Jato da educação da qual ninguém sabe —ninguém viu. Meteu os pés pelas mãos com uma carta sobre hinos e vídeos em escolas e quase caiu.

Após indispor-se com um ideólogo influente na família que ocupa o Planalto, Olavo de Carvalho, seu suposto mentor, deu início a uma dança das cadeiras em que todos tropeçam e ninguém se fixa nos assentos do segundo escalão.

O primeiro a se estabacar foi Luiz Antonio Tozi, secretário-executivo. Vélez tentou então nomear o assessor Rubens Barreto; fracassou. Em seguida, indicou Iolene Lima, que defendeu, num vídeo muito reproduzid­o, ministrar todas as disciplina­s —da geografia à história e à matemática— com base na palavra de Deus.

A professora não teve tempo de começar a pôr em prática essa doutrina retrógrada, pois não chegou a ser empossada. Em manifestaç­ão nas redes sociais, anunciou que, após uma semana de espera, recebeu a informação de que não fazia mais parte do grupo do MEC.

O ministro que não consegue nem remontar sua equipe segue em frente com outras iniciativa­s temerárias na pasta. Dando curso à cruzada conservado­ra do governo Jair Bolsonaro (PSL), instituiu comissão para fazer “leitura transversa­l” das provas do Enem.

O temor entre educadores, que já levou o Ministério Público Federal a pedir explicaçõe­s, é que sua verdadeira atribuição seja expurgar da prova questões sobre a mal denominada ideologia de gênero ou sobre a interpreta­ção histórica da ditadura militar (1964-1985).

Não bastassem tais confusões, Vélez ora enfrenta ainda a suspeita de ter fraudado dados sobre produção bibliográf­ica em seu currículo acadêmico. É muita algazarra, sem falar da perda de tempo, para alguém com a tarefa urgente de tirar a educação do fosso de mediocrida­de em que se encontra.

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