Folha de S.Paulo

Vizinho de voo e taxista de rua ajudaram em cerco a Moreira Franco

- Anna Virginia Balloussie­r Vanderlei Almeida - 14.abr.11/AFP Renato Ventura/Arquivo pessoal

Esta é a história de como um advogado e um taxista ajudaram a prender um dos outrora gigantes da política brasileira, o ex-ministro e ex-governador do Rio Wellington Moreira Franco, um cacique do MDB que passou as últimas décadas ao lado de FHC, Lula, Dilma e, enfim, do amigo Michel Temer.

Esta história começa às 9h55 em Brasília, quando Moreira Franco decolou num voo da Avianca até o Rio de Janeiro, onde agentes da Polícia Federal o aguardavam com um mandado de prisão no aeroporto do Galeão.

De todas as poltronas possíveis, foi sentar justo na vizinha à do advogado Renato Ventura, 41.

Com a aeronave já no solo, perto do meio-dia, Ventura tirou o celular do modo avião e leu no WhatsApp a notícia dos mandados de prisão contra o ex-ministro.

A essa altura já havia reconhecid­o o senhor que passou a viagem inteira de olho na tela do celular, aparentand­o certo nervosismo, sem aceitar nada do serviço de bordo que não fosse um copo de água sem gelo.

“Percebi que era ele quando levantei da cadeira pra pegar minha mala. Já sabia [do mandado], quase comentei brincando”, conta por telefone à Folha Ventura, que é procurador da UERJ. Decidiu silenciar por ora e seguir o passageiro, que acreditou estar em fuga.

O ex-homem forte do governo Temer emitia sinais para que ele chegasse a essa conclusão, disse. Os passos acelerados, sobretudo para um senhor de 74 anos. Ventura diz que desacelero­u os seus, de modo a retardar a caminhada de Moreira Franco na rampa de saída do avião.

Enquanto isso, tentava avisar à PF, acionando amigos no WhatsApp para dizer que seu alvo estava ali e parecia estar disposto a despistá-los.

Segundo Ventura, o ex-ministro chegou a esbarrar nele. Sabia que não podia dar voz de prisão a Moreira Franco, o que seria um direito de qual- quer cidadão se diante de si tivesse alguém em flagrante delito. “Mas poderia, enquanto cidadão, colaborar com autoridade­s. Foi o que fiz.”

Chegou a falar para Moreira Franco: “Ei, a PF está atrás de você”. Ouviu como resposta: “Estou sabendo”.

Avistou seguranças do aeroporto perto da esteira de bagagens e notou que o emedebista, ao ver os homens fardados, “acho que pensou que pudesse ser alguém da polícia, porque fingiu que ia a uma lanchonete, observou e só depois saiu”.

Ventura diz que, nessa hora, pediu ao segurança privado que avisasse à PF que Moreira Franco possivelme­nte tentaria desviar dos agentes. O advogado conta que viu Moreira Franco entrando num Volvo e decidiu ficar na faixa de pedestres, para ver se impedia o carro de sair dali. É aí que o taxista Paulo Roberto de Souza, 52, entra na história.

Quatro agentes da PF já haviam detectado a movimentaç­ão de Moreira Franco, mas estavam longe das viaturas. Fizeram sinal para que Paulo Roberto parasse. Ele parou e recebeu as instruções: siga aquele carro. Obedeceu.

À revista Veja disse que chegou a perguntar se era assalto, roubo de carga ou algo que o valha. Só não imaginava que a perseguiçã­o, que durou cerca de cinco minutos, era atrás do homem que governou seu estado de 1987 a 1991.

Na correria, o taxista usou irregularm­ente uma pista só para ônibus expressos —e esqueceu de ligar o taxímetro. Chegaram a Moreira Franco, que estava no celular quando lhe deram voz de prisão.

Paulo Roberto contou à Veja que não se lembrava se tinha votado em Moreira Franco nos anos 1980. O advogado Ventura nem poderia: era uma criança.

Mas lembra de propaganda­s eleitorais com o homem que Leonel Brizola, um desafeto histórico, apelidaria de Gato Angorá, pela cabeleira branca e pelo costume de pular de colo em colo, o que seria um traço de Moreira Franco em suas alianças na política nacional.

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Planta de Angra 3 em construção em Angra dos Reis (RJ)
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Moreira Franco em voo antes de prisão

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