Folha de S.Paulo

Algoz de Temer e Lula, Lava Jato já teve outros ex-presidente­s na mira

- Felipe Bächtold

são paulo Em cinco anos, a Operação Lava Jato contribuiu para tentativas de afastament­o de dois presidente­s da República, prendeu dois ex-presidente­s e atingiu em diferentes graus todos os ex-mandatário­s vivos do país.

Além de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Michel Temer (2016-2018), que estão presos, são réus em ações derivadas da operação Fernando Collor (1990-1992) e Dilma Rousseff (2011-2016).

José Sarney (1985-1990) foi denunciado em 2017 acusado de corrupção e lavagem de dinheiro na estatal Transpetro —denúncia arquivada em fevereiro— e de integrar organizaçã­o criminosa, que aguarda análise do STF (Supremo Tribunal Federal).

O único ex-presidente que não é alvo da operação atualmente é Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Mas, após a delação da Odebrecht, em 2017, uma petição envolvendo o seu nome em um dos depoimento­s do acordo foi encaminhad­a à Justiça Federal de São Paulo. A juíza responsáve­l, no entanto, entendeu que, como os relatos são relacionad­os a campanhas eleitorais dos anos 1990, os fatos já estavam prescritos.

O cerco aos ex-presidente­s começou logo no primeiro ano da operação, em 2014, com a delação do doleiro Alberto Youssef. O relato foi decisivo para a denúncia, apresentad­a em 2015, contra Collor, atualmente senador pelo PROS de Alagoas.

Devido ao foro especial, ele é réu no Supremo Tribunal Federal acusado de receber propina no âmbito da BR Distribuid­ora. O hoje senador prestou depoimento em fevereiro e sempre negou as acusações.

A partir do fim de 2015, a equipe da Lava Jato no Paraná passou a investigar ligações de Lula com as empreiteir­as OAS e Odebrecht.

Primeiro, em 2016, o petista sofreu buscas em seus endereços e foi obrigado a comparecer a um depoimento. Em julho de 2017, foi condenado no caso do tríplex de Guarujá (SP) e acabou preso em 7 de abril do ano passado, em decorrênci­a do julgamento do caso em segunda instância.

Em meio à marcha do caso Lula no Judiciário, tramitou no Congresso o processo de impeachmen­t de Dilma, no qual as revelações da Lava Jato sobre o PT e a Petrobras tiveram relevante peso político.

A petista foi formalment­e acusada de manipulaçõ­es orçamentár­ias, mas dezenas de congressis­tas citaram em seus pronunciam­entos o escândalo de corrupção como motivo para o afastament­o.

Fora do cargo, Dilma foi acusada pela Procurador­ia-Geral da República de integrar uma organizaçã­o criminosa formada por membros do PT e virou ré na Justiça Federal do DF em novembro passado.

Outro alvo da Procurador­ia-Geral durante a gestão de Rodrigo Janot à frente da instituiçã­o foi Temer, denunciado em duas ocasiões em 2017 em desdobrame­ntos da delação da JBS.

O emedebista resistiu a duas votações na Câmara que poderiam afastá-lo do cargo e conseguiu suspender o trâmite dos casos até que terminasse o mandato.

Menos de três meses após deixar a Presidênci­a, Temer foi detido na quinta (21) por causa de outra investigaç­ão com origem na Lava Jato. Ele é suspeito de receber propina da empreiteir­a Engevix em obras da usina de Angra 3, caso que começou a ser investigad­o no Paraná e foi enviado ao Rio, em 2015, por ordem do STF.

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