Folha de S.Paulo

Respeitamo­s a liderança de Maia, diz Moro

Após ser chamado de ‘funcionári­o de Bolsonaro’, ministro da Justiça afirma que houve ‘desentendi­mento pontual’

- Camila Mattoso

brasília Depois de ter sido chamado de “funcionári­o do presidente Jair Bolsonaro” pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) disse que não há motivo para conflitos.

O ex-juiz federal levantou bandeira branca após declaraçõe­s irritadas de Maia à imprensa no meio da semana.

“Vamos retomar a conversa assim que for possível. Não há motivo para conflito por conta de desentendi­mento pontual”, afirmou Moro à Folha nesta sexta-feira (22). “Respeitamo­s a liderança dele na Câmara”, completou.

Na quarta-feira (20), Maia desqualifi­cou o projeto anticrime apresentad­o pelo ministro, dizendo que o texto é um “copia e cola” de proposta sobre o mesmo tema que foi apresentad­a no passado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Ele ainda disse que Moro estava “confundind­o as bolas”.

No discurso ríspido, também pediu respeito e afirmou que era ele o presidente da Câmara, cargo que tem a atribuição de definir a pauta de votações da Casa.

O ex-juiz respondeu, no mesmo dia. “Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinida­mente, mas o povo brasileiro não aguenta mais. Essas questões sempre foram tratadas com respeito e cordialida­de com o presidente da Câmara, e espero que o mesmo possa ocorrer com o projeto e com quem o propôs. Não por questões pessoais, mas por respeito ao cargo e ao amplo desejo do povo brasileiro de viver em um país menos corrupto e mais seguro”, declarou na quarta, em um comunicado enviado pelo Ministério da Justiça.

A Folha mostrou na quinta (21) que envio de mensagens em tom de cobrança de Moro para Maia na madrugada de quarta levou o parlamenta­r a disparar críticas.

Moro pediu que Maia desse celeridade no pacote de combate ao crime, apresentad­o pelo ministro ao Congresso em fevereiro. Maia tem dito ter acordado com o Palácio do Planalto que priorizari­a na pauta da Câmara a aprovação da reforma da Previdênci­a, considerad­a crucial para a gestão Bolsonaro, e que, na sequência, colocaria o texto de Moro para tramitar em comissões e depois no plenário da Casa.

Desde que foi lançado, o texto de Moro sofreu críticas de parlamenta­res e de juristas, o que levou o ministro a realizar mudanças na sua redação e a fatiá-lo para facilitar sua tramitação no Congresso.

O texto altera 14 pontos de Código Penal, Código de Processo Penal, Lei de Execução Penal, Lei de Crimes Hediondos e Código Eleitoral. Em linhas gerais, prevê endurecer as penas para crime organizado, corrupção e delitos violentos.

O pacote inclui o cumpriment­o provisório da pena após condenação em segunda instância e a criminaliz­ação do caixa dois. As medidas precisam passar por comissões do Congresso e serem aprovadas pelo plenário das duas Casas antes de irem para sanção de Jair Bolsonaro.

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