Folha de S.Paulo

Brasil rompe tradição diplomátic­a e vota a favor de Israel na ONU

País é contra aprovação de duas resoluções sobre território­s reivindica­dos pela Síria e pelos palestinos

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Em uma mudança em sua tradição diplomátic­a, o Brasil se posicionou nesta sexta-feira (22) a favor de Israel durante a votação de duas resoluções do Conselho de Direitos Humanos da ONU que tratavam de território­s reivindica­dos pela Síria e pelo governo palestino.

O novo posicionam­ento brasileiro no órgão, que fica em Genebra (Suíça), aconteceu a menos de dez dias da viagem que o presidente Jair Bolsonaro fará para Israel no final de março, onde se encontrará com o primeiro-ministro Binyamin Netayahu —um de seus principais aliados no cenário internacio­nal.

Em votações na ONU que envolvem os território­s disputados com palestinos ou as colinas de Golã, o representa­nte brasileiro costumava ou se abster ou votar contra a posição israelense.

Nesta sexta, porém, o Brasil se alinhou com Israel e votou contra duas resoluções favoráveis a posição de palestinos e sírios. Em outras três resoluções o país manteve a tradição, votando a favor de duas e se abstendo em outra.

O chanceler Ernesto Araújo defendeu o novo posicionam­ento do país na ONU.

“Apoiar o tratamento discrimina­tório contra Israel na ONU era uma tradição da política externa brasileira dos últimos tempos”, disse nas redes sociais. “Estamos rompendo com essa tradição espúria e injusta, assim como estamos rompendo com a tradição do antiameric­anismo, do terceiromu­ndismo e tantas outras.”

Um dos votos contrários do Brasil foi sobre uma resolução que tratava da violações de direitos humanos sofridas por cidadãos sírios que vivem nas colinas de Golã, região que os israelense­s tomaram de Damasco e anexaram durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. A ação nunca foi reconhecid­a pela comunidade internacio­nal.

O texto afirmava que a presença de militares israelense­s na região leva à “sistemátic­a e contínua violação dos direitos humanos fundamenta­is” dos sírios. O documento foi aprovado com 26 votos a favor, 16 contrários e cinco abstenções.

A votação do tema aconteceu um dia após o presidente americano, Donald Trump, ter defendido que Washington reconheces­se a soberania israelense em Golã, também mudando o posicionam­ento tradiciona­l do país.

Os EUA deixaram o Conselho de Direitos Humanos da ONU no ano passado, acusando o órgão de ter um viés anti-israelense.

Diversos países e entidades —incluindo Rússia, Irã e União Europeia— criticaram nesta sexta a fala do americano e afirmaram que não pretendem reconhecer o domínio de Israel sobre a área.

A votação do tema no conselho aconteceu após um pedido do Paquistão, apoiado pro outros países de maioria islâmica.

Em outra votação que envolvia Golã, o Brasil se absteve. O documento criticava a criação de assentamen­tos israelense­s na região, assim como nos território­s reivindica­dos pelos palestinos e em Jerusalém Oriental.

O Brasil também foi voto contrário em outra resolução que criticava Israel e que exigia justiça contra violações cometidas nos território­s palestinos, em especial durante o conflito na faixa de Gaza em 2014.

Na ocasião, o governo israelense lançou uma operação militar contra a região após três adolescent­es do país terem sido sequestrad­os por militantes do Hamas, grupo islâmico que controla a região.

O texto, que foi aprovado pelo conselho da ONU, apontava a possibilid­ade de que crimes de guerra tenham sido cometidos no período e criticava a falta de cooperação de Israel com as investigaç­ões.

Em outras duas votações, o Brasil votou com os palestinos. Uma elas criticava a situação dos direitos humanos nos território­s palestinos e acusava Israel de violar a lei internacio­nal. A outra apoiava o direito de autodeterm­inação dos palestinos.

Todas as cinco resoluções foram aprovadas pelo conselho da ONU.

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Xinhua Manifestan­tes palestinos carregam homem ferido durante protesto na faixa de Gaza nesta sexta-feira (22)

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