Procurador entrega relatório sobre interferência russa nos EUA
washington O procurador especial Robert Mueller entregou nesta sexta-feira (22) seu relatório final sobre a possível interferência da Rússia nas eleições presidenciais dos EUA, elevando a pressão política sobre Donald Trump ao ápice dos últimos dois anos.
O documento, cujo conteúdo ainda não é público, foi apresentado ao secretário da Justiça, William Barr.
Segundo o Wall Street Journal, Mueller não faz uma acusação formal em seu relatório, o secretário Barr diz que vai dividir com o Congresso as “principais conclusões” do procurador especial até este fim de semana.
Após revelações do contato entre aliados de Trump e a Rússia, a prisão de auxiliares e uma forte campanha do presidente para desacreditar Mueller e as investigações, a entrega do documento abre um novo capítulo do purgatório político na Casa Branca —o que, para adversários mais contundentes, pode levar ao impeachment.
Os últimos dias foram de apreensão em Washington. Políticos e jornalistas perguntavam-se quando o relatório seria entregue e quais informações conteria.
O próprio Trump chegou a dizer, nesta semana, que preferia que o texto fosse divulgado —discurso encarado com ceticismo pela maior parte dos analistas americanos.
Desde que Mueller assumiu as apurações do caso, o presidente viu a crise avançar para dentro da Casa Branca, endossada por acusações de seus principais assessores, que decidiram colaborar com as investigações e, assim, instigar seus adversários.
O caldo criado a cada capítulo revelado por Mueller aumentou o desgaste político de Trump, que classifica as apurações como uma “caça às bruxas” e se diz inocente de qualquer irregularidade.
Quem acompanha de perto o trabalho do procurador especial afirma que a chave do relatório está em responder se o presidente sabia, orientou ou participou diretamente dos seguintes eventos: as negociações para a construção de uma Trump Tower em Moscou; o acesso e vazamento dos emails de Hillary Clinton, candidata democrata que foi sua adversária em 2016; os contatos de seu ex-assessor nacional de segurança Michael Flynn com autoridades russas; e, finalmente, a influência da Rússia na eleição presidencial e a suposta obstrução de Justiça de Trump para frear as investigações.
Supondo que uma parte significativa do documento venha a público e contenha fatos novos, além do que já é sabido até agora, a questão será identificar como as revelações poderão afetar o mandato de Trump —e a eleição de 2020.
Nos últimos meses, o presidente americano sofreu reveses conforme a apuração avançava. O mais recente deles ocorreu no fim de fevereiro, quando seu ex-advogado Michael Cohen depôs perante o Congresso americano.
Cohen acusou Trump de mentir sobre negócios na Rússia durante as eleições e sobre pagamentos para silenciar mulheres com quem teria se relacionado.
Segundo o advogado, Trump sabia e comandou as negociações para a construção de uma Trump Tower em Moscou em 2016 —os filhos do presidente também participaram das tratativas, afirma ele.
Além disso, Cohen afirmou aos parlamentares que Trump sabia que Roger Stone, seu conselheiro político até então, estava conversando com Julian Assange, do WikiLeaks, sobre a divulgação de emails do Comitê Nacional Democrata, que prejudicou Hillary na disputa de dois anos atrás.
O advogado de Assange, por sua vez, nega que a ligação tenha ocorrido.