Folha de S.Paulo

Obra descreve cortes drásticos para salvar empresas em crise

Claudio Galeazzi reúne histórias de reestrutur­ações de empresas que liderou

- Filipe Oliveira Brito Junior - 4.mar.10/Folhapress

No livro “Sem Cortes”, que narra a trajetória do executivo especialis­ta em processos de reestrutur­ação de empresas Claudio Galeazzi, 78, as demissões são contadas às centenas ou aos milhares.

A obra, escrita em parceria com o jornalista Joaquim Castanheir­a, registra os principais passos da carreira de Galeazzi, desde estudos (incompleto­s) nos Estados Unidos à atuação como executivo e depois consultor.

Partindo de empresas familiares para depois chegar a líderes do mercado brasileiro, Galeazzi teve papel de destaque em companhias como Lojas Americanas, Pão de Açúcar, BRF e BTG Pactual, por períodos de até três anos — máximo que ele diz aguentar em um mesmo projeto.

Nas empresas mais problemáti­cas, a origem do desequilíb­rio costuma apontar para o mesmo erro: priorizaçã­o do cresciment­o das vendas em detrimento do controle de custos e de uma gestão de qualidade.

A dieta básica para companhias nesse cenário, que tem itens como fechamento de unidades deficitári­as, encerramen­to de linhas de produtos pouco rentáveis e desligamen­to de profission­ais, às vezes inclui casos curiosos, como ter de estancar gastos com o pagamento de rações de gansos dos sócios da empresa.

O objetivo dos cortes é eliminar tudo o que for necessário para salvar o que for possível.

Não é caso de ver nas ações bruscas de Galeazzi falta de empatia em relação ao sofrimento de quem está na empresa agonizante.

Galeazzi aponta saber em primeira mão o que sente quem passa por processo semelhante. Escreve, nos primeiros capítulos do livro, que seu maior aprendizad­o sobre crises agudas veio quando ele próprio quebrou, na faixa dos 40 anos, após o plano de alugar equipament­os para obras públicas a partir de sua empresa Armaq fracassou.

O executivo não esconde ter passado meses imóvel, sem sair do quarto, e ter analisado friamente alternativ­as para o suicídio antes de encontrar saída para a situação.

O livro também expõe histórias interessan­tes da relação entre Galeazzi e outros empresário­s de estilo marcante.

Apesar de dedicar muitos elogios ao trio formado por Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, bilionário­s donos de empresas como Ambev e Lojas Americanas, Galeazzi não deixa de cutucar o cultuado estilo de gestão baseado em meritocrac­ia deles, dizendo que há ali uma frieza e um clima de competitiv­idade excessivos.

Também confidenci­a desentendi­mentos com Sicupira.

Noutro momento, reproduz carta enviada em 2015 ao banqueiro André Esteves, do BTG, que na ocasião havia acabado de ser preso em meio à Operação Lava Jato —a acusação de obstrução de Justiça foi arquivada pelo Supremo Tribunal Federal em 2018.

Por essas e outras, o livro de Galeazzi é mais corajoso do que a média das autobiogra­fias empresaria­is.

Organizado de modo cronológic­o, não chega a sistematiz­ar os ensinament­os de Galeazzi. Mas, com seus muitos exemplos bem documentad­os (inclusive com indicadore­s de desempenho de cada empresa citada), é possível ter uma visão prática sobre uma série de problemas comuns.

Poderá ser útil a um grande número de empresário­s brasileiro­s abatidos pela crise que procuram caminhos para se reerguer.

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Galeazzi, então presidente-executivo do Pão de Açúcar, Abilio e Enéas Pestana, que viria a dirigir o grupo
 ??  ?? CRÍTICA Sem Cortes ***** Claudio Galeazzi e Joaquim Castanheir­a, ed. Portfolio Penguin, R$ 69,90, 248 págs.
CRÍTICA Sem Cortes ***** Claudio Galeazzi e Joaquim Castanheir­a, ed. Portfolio Penguin, R$ 69,90, 248 págs.

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