Após bate-boca, líder do governo na Câmara piora crise
Major Vitor Hugo (PSL) fala em buscar aproximação, mas em grupo de WhatsApp afirma que presidente está convicto de suas atitudes
Líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSLGO) disse que Jair Bolsonaro (PSL) está “convicto” após bate-boca com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, sobre a reforma da Previdência. Indicou que o presidente não negociará e criticou a “velha política”.
Após intenso bateboca, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, passaram o domingo (24) calados.
Desde sexta-feira (22), os dois vinham trocando farpas sobre a articulação política da reforma da Previdência, pela imprensa e por redes sociais.
O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), visitou Bolsonaro no Palácio da Alvorada na manhã deste domingo e tentou mostrar uma tentativa de aproximação.
O deputado, no entanto, afirmou a colegas de partido que Bolsonaro está convicto de suas atitudes. Isso acirrou a tensão entre os Poderes. Em mensagens de WhatsApp para a bancada do PSL, ele indicou que Bolsonaro não negociará e fez criticas à velha política.
Em clima de hostilidade, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) prevê audiência nesta terça-feira (26) com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para falar da reforma.
Além disso, parlamentares do chamado centrão, ligados ao PP, PRB, PR e DEM, preparam pautas para derrotar o governo Bolsonaro.
Na semana passada, mesmo integrantes do PSL mostraram irritação com a falta de articulação do governo e criticaram o envio da reforma da Previdência dos militares com a reestruturação da carreira.
As postagens do líder governista no grupo da legenda ocorreram logo depois de um encontro dele com o presidente, no Palácio da Alvorada.
“Nosso presidente está certo e também convicto de suas atitudes. Estive com ele hoje [domingo] pela manhã. As práticas do passado não nos levaram ao caminho em que queremos estar”, escreveu o líder no grupo de deputados, por volta de 13h30.
“Todos nós, em particular do PSL, somos agentes para ajudar a mudar a situação em que nos encontramos.”
“Todos que nos elegemos nessa Legislatura (passamos, pois, pelo crivo das urnas e da população que não aguenta mais...), eleitos e reeleitos, temos a possibilidade de escolher de que lado estar... Somos todos a nova política. Não dá mais...”, escreve.
Duas postagens em seguida fazem referência a supostas negociações de cargos nos governos Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT) em troca do apoio do Congresso.
A primeira mensagem resgata reportagem do jornal O Globo de novembro de 2017, com o título “Para aprovar mudanças na Previdência, Temer autoriza Maia a negociar cargos”.
A segunda é uma charge que ironiza o diálogo do governo Dilma com o Congresso. Na imagem, a ex-presidente leva ao Congresso um pacote de cargos para garantir as conversas.
Parte da troca de mensagens chegou ao presidente da Câmara e está circulando entre os principais líderes partidários. Elas foram recebidas como agressões do líder do governo à política.
No sábado (23), Maia disse que o presidente precisa mostrar o que é a “nova política”. Ele afirmou também que o presidente da República deveria assumir responsabilidades e não terceirizar a articulação política.
A avaliação do grupo do presidente da Câmara, após as mensagens do líder, é que Bolsonaro não está disposto a mudar sua relação com deputados e senadores, embora Vitor Hugo tenha saído do encontro com o presidente falando em aproximação.
“A semana passada foi uma semana muito tensa e agora a gente vai caminhar para uma aproximação”, disse.
À Folha o líder do governo afirmou que suas mensagens não foram ataques a Maia, mas foram enviadas para reforçar o posicionamento de mudança de práticas. Ele disse que a expressão “velha política” não foi usada.
“Eu não fiz crítica alguma ao Rodrigo [Maia]. O que eu fiz foi o seguinte: eu reforcei a posição do presidente da República, a disposição dele de trabalhar de uma maneira diferente”, afirmou.
“Eu fui na casa dele também para ajudar a traçar estratégia para apaziguar, eu venho tentando aproximar os Poderes, desde que assumi, na verdade. Mas eu concordo com o presidente quando ele mantém essa determinação de seguir o que ele falou no discurso de campanha”, disse.
Major Vitor Hugo (PSL-GO) líder do governo na Câmara
mo deputado, durante sua campanha criticou a reforma da Previdência, disse na quinta que não concorda com ela, e agora joga a responsabilidade para o Parlamento. Ele parece não querer aprovar a reforma”, escreveu Pereira, primeiro vice-presidente da Câmara, em uma rede social.
O deputado Cacá Leão (PPBA) disse que o governo precisa descer do palanque. “A responsabilidade de aprovar a reforma da Previdência é do presidente da República! O governo precisa descer do palanque e discutir com os parlamentares os ajustes”, afirmou.
Partidos como o DEM e o PSD divulgaram notas sobre a crise entre Maia e Bolsonaro.
“A implementação de regras duras e necessárias que cortem privilégios depende de posturas corajosas e de defesas enfáticas. O mundo real é assim. O virtual aceita ataques que só geram ódio, não o desenvolvimento”, diz o DEM.
A nota assinada pela bancada do PSD na Câmara argumenta que as agressões contra Maia atingem o Legislativo.
“Tais ataques, movidos por interesses não confessáveis e agentes manipulados, tentam amesquinhar o debate democrático”, afirma a nota da bancada, que reúne 34 deputados.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também se manifestou sobre o embate em rede social.
“Paradoxo brasileiro: os partidos são fracos, o Congresso é forte. Presidente que não entende isso não governa e pode cair; maltratar quem preside a Câmara é caminho para o desastre. Precisamos de bom senso, reformas, emprego e decência. Presidente do país deve moderar não atiçar.”
Nosso presidente está certo e também convicto de suas atitudes. Estive com ele hoje [domingo] pela manhã. As práticas do passado não nos levaram ao caminho em que queremos estar