HOMEM MORRE APÓS INCÊNDIO EM FAVELA ONDE VIVIAM 261 FAMÍLIAS NA ZONA LESTE DE SÃO PAULO
Reintegração de posse estava marcada para ocorrer neste domingo; polícia não se manifesta
Favela do Cimento pegou fogo na noite de sábado, um dia antes de reintegração de posse; um homem foi preso, e moradores citam abuso da PM
Um incêndio na favela do Cimento, na zona leste de São Paulo, consumiu dezenas de barracos na noite de sábado (23) e deixou ao menos uma pessoa morta.
Um homem foi preso sob suspeita de ter iniciado o fogo. Segundo a Secretaria da Segurança Pública da gestão João Doria (PSDB), ele foi detido na madrugada deste domingo (24). Um galão de 20 litros vazio também foi encontrado no local.
A vítima, não identificada, foi internada em estado grave com queimaduras na unidade de terapia intensiva do hospital particular Salvalus, na Mooca, às 20h30, uma hora depois do início do incêndio.
Segundo o hospital, ele morreu na tarde de domingo. A favela ficava na radial Leste, perto do viaduto Bresser.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o fogo começou por volta das 19h30 e foi controlado às 22h. O incêndio aconteceu horas antes de uma reintegração de posse ser cumprida pela PM na favela, que terminou de ser desocupada pela manhã.
A vítima foi vista por moradores desabrigados correndo muito machucada em direção ao hospital.
Até a manhã deste domingo, a prefeitura e a Polícia Militar divulgavam que o incêndio não havia deixado mortos ou feridos.
Revoltados com a reintegração, moradores chegaram a bloquear, com barricadas, a radial no sentido centro na noite de sábado, minutos antes do início do fogo. Foram contidos pela Força Tática da PM.
Ao mesmo tempo, outras pessoas se encaminhavam para outra ocupação, na rua do Hipódromo, a duas quadras. Foi nesse ínterim, logo após o incêndio e ainda sob a tensão do protesto, que agentes da Força Tática começaram a circular nas ruas dos arredores e, segundo relatos, atacaram pessoas que se deslocavam entre as duas favelas.
Ao menos quatro homens relataram que teriam sido vítima de violência policial logo depois do incêndio. O autônomo Soleo da Conceição Ramos, 21, tomou um tiro de bala de borracha na perna — ele já tinha marcas de balas de borracha de outros despejos.
“Primeiro chegou o [Batalhão de] Choque. Não fizeram nada. Mas já tinha quatro viaturas da Força Tática na radial Leste, e pediram apoio, falando que a situação estava incontrolável. O pessoal estava correndo, olhando para trás chorando, todo mundo desesperado”, relatou.
O carroceiro Carlos Henrique Prado de Farias, 31, disse que estava indo do local do protesto para casa quando foi abordado na rua do Hipódromo. “Um magrinho deu com o cassetete na cabeça e um grandão, nas costas. Ainda pegaram minha carteira do meu bolso e nem jogaram na rua depois.”
Segundo a Polícia Militar, o fogo na ocupação começou por volta de 19h30. Sobre as reclamações de truculência policial na ação, a PM não respondeu até a publicação desta reportagem.
De acordo com a Prefeitura, 216 famílias que viviam no local foram cadastradas para serem levadas a abrigos e inclusas em programas sociais de moradia.