Folha de S.Paulo

Leandro Colon

- Leandro Colon

Presidente foge de culpa pelo eventual fracasso da reforma

Essa tal nova política de Jair Bolsonaro tem se revelado um desastre em quase cem dias de governo. Usando-a como escudo, o presidente tenta fugir da culpa que terá pelo eventual fracasso na aprovação da reforma da Previdênci­a.

“A bola está com ele [Rodrigo Maia], já fiz a minha parte, entreguei, o compromiss­o dele é despachar e o projeto andar dentro da Câmara”, disse Bolsonaro, durante viagem ao Chile. “A responsabi­lidade no momento está com o Parlamento brasileiro”, reforçou, em resposta às críticas do presidente da Câmara.

Se a mudança previdenci­ária fracassar, não haverá nenhum outro culpado que não seja o governo de Bolsonaro, por mais que o presidente da República tergiverse para fazer colar a versão de que já fez sua parte ao enviar a proposta ao Congresso.

A poucos dias de completar três meses de mandato, o capitão reformado não conseguiu formar uma base aliada. Não há nova política (seja lá o que signifique) que faça projetos de interesse governista seguir adiante sem um bloco de apoio. Não há, por exemplo, crime algum na prática de discutir cargos com os partidos, desde que não haja negociação espúria por trás das cortinas.

Errado é nomear como líder do governo na Câmara o major Vitor Hugo, uma figura inexperien­te, desconheci­da e ignorada pelos colegas.

Bolsonaro pede voto dos parlamenta­res com um discurso que os afugenta. Tem minado potenciais aliados ao pensar que só ele age com ética e correção. Nem o seu PSL, manchado pelo laranjal eleitoral, engoliu a reforma dos militares, recheada de privilégio­s para a carreira.

O PSL, aliás, também dá sua parcela para o caos político ao criar problemas desnecessá­rios com legendas que poderiam ajudar o governo a (enfim) sair do ponto morto.

Rodrigo Maia está certo ao afirmar que Bolsonaro não pode terceiriza­r a articulaçã­o. É tarefa do Planalto buscar maioria. Não há nova fórmula que altere um modelo lógico de trabalhar com o Congresso. Dizer o contrário é enganar os eleitores.

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