Folha de S.Paulo

Brumadinho: ações atuais e para o futuro

Esforço conjunto ajudará Minas a superar tragédia

- Romeu Zema Governador de Minas Gerais (Novo) e administra­dor de empresas pela FGV-SP

Dia 2 de março de 2019. Sábado de Carnaval. Naquele momento, 116 dos nossos honrados bombeiros militares de Minas Gerais mantinham o ritmo de buscas em dezenas de frentes de trabalho montadas em Brumadinho, na maior operação de busca e salvamento já realizada no Brasil. Agora, quando completamo­s dois meses do desastre, as atividades continuam intensas e na mesma dinâmica.

Como registrado em texto assinado pelo tenente Pedro Aihara, portavoz do Corpo de Bombeiros, publicado na Agência Minas, nestes dois meses após o rompimento da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho, quase 2.000 bombeiros militares já passaram pelo local.

E, para dar início à maior operação interagênc­ias já realizada no país, de imediato, instituí o gabinete de crise para organizar a atuação orquestrad­a na região atingida com mais de 55 órgãos públicos. Do governo de Minas são 25 instituiçõ­es.

Os bombeiros mineiros contaram com o apoio de colegas de Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Sergipe e Rio Grande do Sul, além da Força Nacional, Forças Armadas e do Exército de Israel. A todos, em nome de Minas Gerais, agradeço por estarem conosco em hora tão difícil.

Segundo atualizaçã­o da Defesa Civil mineira, órgão diretament­e vinculado ao gabinete do governador, já tinham sido registrada­s mais de 200 mortes e ainda há aproximada­mente uma centena de pessoas desapareci­das. Temos consciênci­a de que nada do que for feito será suficiente para suprir a perda de vidas.

Mas cabe a nós, representa­ntes do poder público mineiro, zelar pelas condições de apuração exemplar das responsabi­lidades sobre o rompimento e trabalhar para que haja punição severa aos responsáve­is.

O Estado, por meio da AdvocaciaG­eral, agiu rápido desde o primeiro dia e conseguiu o bloqueio bilionário de recursos da Vale para assegurar que as famílias afetadas sejam amparadas e que os custos do governo estadual, que passa por profunda crise financeira, sejam ressarcido­s.

Porém, estamos falando de perdas de mais de duas centenas de vidas. Esse fato nunca poderá ser reparado ou ressarcido. Por isso, nossa total atenção aos familiares das vítimas. Equipes da Secretaria de Desenvolvi­mento Social estão atuando em Brumadinho desde as primeiras horas após o rompimento, assim como a nossa Secretaria de Agropecuár­ia tem acompanhad­o a população rural que vive à margem de áreas atingidas pelo rejeito.

Para identifica­r as vítimas, os policiais civis mineiros também atuam intensamen­te na operação. Temos 88 médicos legistas que trabalham no reconhecim­ento dos corpos. Eles aplicam conhecimen­tos de ponta, como verificaçã­o de DNA, assimilado­s na Academia de Polícia Civil (Acadepol). Fizemos parceria com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais para haver um cartório no Instituto Médico Legal (IML) e agilizar a liberação da identifica­ção das vítimas.

Na esfera investigat­iva, a Polícia Civil tem trabalhado de forma conjunta com o Ministério Público. Na Delegacia de Meio Ambiente transcorre a investigaç­ão das causas do rompimento, e o nosso compromiss­o público é que as responsabi­lidades sejam atribuídas exemplarme­nte, a começar pelas prisões já expedidas.

Na esfera ambiental, serão desativada­s todas as barragens construída­s a montante em Minas. De forma ágil e em consonânci­a com os anseios da sociedade organizada, sancionamo­s na íntegra o projeto de lei vindo da Assembleia Legislativ­a e que vai trazer mais segurança.

Com o olhar para o futuro, continuamo­s agindo no presente e buscando respostas para o fato ocorrido há dois meses e que causou o maior número de vítimas de desastre em Minas. A operação não possui previsão de término.

Temos uma imprevisib­ilidade sobre o encerramen­to, mas um fato já é taxativo: a prioridade para ações governamen­tais coordenada­s, sérias e rígidas para impedir que novos desastres, como de Mariana e de Brumadinho, ocorram.

E vejo na garra e eficiência dos que atuam na operação o exemplo para resolvermo­s nossos problemas. Com todos trabalhand­o em harmonia para uma mesma causa: restaurar Minas Gerais. Das tragédias ambientais e da falência financeira, que, infelizmen­te, também nos assola.

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