Folha de S.Paulo

Governo paga seguranças e assessores de Lula mesmo com ele preso há 1 ano

Ex-presidente disputa na Justiça o direito de ficar com 8 funcionári­os, que custam R$ 50 mil por mês

- Felipe Bächtold Danilo Verpa - 1º.mar.19/Folhapress

O governo federal desembolsa cerca de R$ 50 mil mensais em salários há quase um ano para custear a assessoria e a segurança do ex-presidente Lula, apesar de ele permanecer preso em Curitiba.

A prerrogati­va é alvo de questionam­entos na Justiça Federal, e o Ministério Público defende a redução desses benefícios em virtude da prisão.

Assim como os outros cinco ex-presidente­s da República vivos, Lula tem direito vitalício a quatro seguranças, dois motoristas, dois carros oficiais à disposição e dois assessores.

O pagamento aos oito funcionári­os persiste mesmo com o petista detido na sede da Polícia Federal no Paraná desde abril do ano passado —ele só saiu do prédio em duas ocasiões, para um depoimento e para o velório de um neto.

Lula foi condenado nos casos do tríplex de Guarujá, decisão confirmada em segunda instância, e do sítio de Atibaia.

Além dos salários, os oito servidores gastaram no ano passado cerca de R$ 1.000 por mês com verbas indenizató­rias (despesas reembolsáv­eis com o trabalho). Em um ano, essa estrutura soma despesas para os cofres públicos de cerca de R$ 730 mil, sem contar as diárias pagas em viagens.

Entre os oito servidores de Lula, sete são militares, com patentes de sargento a capitão, que recebem remuneraçã­o extra por causa da função comissiona­da. Foram escolhidos por livre nomeação do petista e integram sua equipe desde a época da Presidênci­a.

Trabalham atualmente 40 horas por semana, mas não atuam na segurança do expresiden­te em Curitiba, que está a cargo da Polícia Federal.

Os ex-mandatário­s não recebem aposentado­ria por terem ocupado o cargo, como acontece com ex-governador­es em alguns estados.

O benefício de Lula chegou a ser cassado um mês após a prisão, mas a defesa do petista recorreu e ainda não há decisão final sobre o assunto. Na época, uma liminar foi expedida por um juiz federal de Campinas após pedido encaminhad­o por um advogado integrante do MBL (Movimento Brasil Livre), filiado ao MDB.

À Justiça Federal a defesa de Lula diz que os assessores desenvolve­m serviços de “apoio pessoal”, para manter a dignidade e a subsistênc­ia do expresiden­te, incluindo providenci­ar medicament­os, roupas e o pagamento de contas. Afirmou ainda que esses servidores têm importânci­a por zelarem pelo patrimônio do petista, do qual faz parte o acervo presidenci­al.

“Eles arquivam os documentos, fazem buscas, digitaliza­m textos escritos pelo agravante [Lula], dentre outras medidas. Todas elas, insista-se, de extrema importânci­a para preservaçã­o da memória e do patrimônio cultural brasileiro”, escreveram os advogados.

Segundo eles, Lula já recebeu mais de 30 mil cartas na prisão, que estão sendo catalogada­s pelos assessores.

Também afirma que a detenção tem status provisório e que a lei não prevê a retirada desses direitos, independen­temente de o ex-mandatário estar ou não em liberdade.

O Ministério Público Federal opinou no ano passado pela revisão do benefício.

“Submetido que ele está a um regime especial de custódia e vigilância, não há sentido em proporcion­ar-lhe segurança e apoio extraordin­ário que somente a vida em liberdade justificar­ia”, diz parecer do procurador regional Walter Rothenburg. Porém o procurador entende que é justificáv­el que o petista ainda tenha direito a dois assessores.

O caso deve ser julgado na segunda instância.

Alguns dos oito servidores viraram coadjuvant­es em episódios da Lava Jato envolvendo o ex-presidente nos últimos anos. Foi o capitão Valmir Moraes, que ainda hoje permanece nomeado como assessor especial, que atendeu o famoso telefonema intercepta­do em 2016 no qual Dilma Rousseff e Lula falam sobre um “termo de posse”, tornado público de forma ilegal, segundo o STF, pelo à época juiz Sergio Moro, hoje ministro do governo Jair Bolsonaro.

Moraes e outros dois assessores da atual equipe foram ouvidos como testemunha­s no processo sobre o sítio de Atibaia, que resultou na segunda condenação de Lula na Lava Jato, em sentença expedida no dia 6 de fevereiro.

Na ocasião, o capitão disse que seu trabalho é parecido com o de um ajudante de ordens e que “trata de tudo um pouco” e que comanda a equipe de seguranças.

A reportagem questionou a defesa de Lula se os assessores trabalham na segurança de familiares, mas não houve resposta. A reportagem não conseguiu localizar os assessores e seguranças.

O pagamento de benefícios a assessores de autoridade­s presas e afastadas também ocorre na Lava Jato do Rio —que prendeu, na última quinta (21), o ex-presidente Michel Temer.

A Assembleia Legislativ­a fluminense, por exemplo, custeou por mais de um ano funcionári­os e gabinetes de deputados presos, incluindo o então presidente da Casa, Jorge Picciani (MDB). O Tribunal de Contas do Estado até hoje ainda remunera conselheir­os afastados desde 2017.

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Jornalista­s e curiosos fotografam Lula em velório de neto

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