Folha de S.Paulo

RJ tem queda de homicídio e alta na letalidade policial

- Júlia Barbon

Na contramão dos homicídios comuns, as mortes por policiais no estado do Rio de Janeiro seguiram em alta e bateram novo recorde no primeiro bimestre deste ano. Foram 305 óbitos em janeiro e fevereiro, um a cada quatro horas e meia.

O número é o maior para o período nos últimos 16 anos, início da série histórica. Enquanto isso, os homicídios dolosos (intenciona­is) atingiram seu menor patamar em 28 anos, também consideran­do os dois primeiros meses do ano: 705, um a cada meia hora.

Uma das operações da PM que inflaram a estatístic­a da letalidade policial foi a que terminou com 15 homens mortos no dia 8 de fevereiro nos morros do Fallet, Fogueteiro e Prazeres, no centro da capital. Foi a que deixou mais vítimas em 12 anos, desde uma ação no Complexo do Alemão com 19 mortos em 2007.

A corporação afirma que todos foram mortos em confronto e que os corpos foram encontrado­s em vias das comunidade­s. Moradores, porém, sustentam que a maioria foi baleada dentro de uma casa e que os policiais atiraram mesmo após rendição.

O caso está sob investigaç­ão. Apesar de imagens que mostram a casa ensanguent­ada e os corpos no chão, a perícia no local corroborou a versão apresentad­a pelos agentes.

Nas redes sociais, o governador Wilson Witzel (PSC) disse que a ação da PM foi legítima. Ele tem defendido, desde a campanha eleitoral, o “abate” de criminosos portando armas pesadas, inclusive com drones e atiradores de elite em helicópter­os.

O aumento da letalidade policial, porém, não é novidade e tem ocorrido há cinco anos. As ocorrência­s sofreram uma queda acentuada a partir de 2008, quando as Unidades de Polícia Pacificado­ra (UPPs) começam a ser implantada­s, e atingiram seu menor nível em 2013. A partir de 2014, porém voltaram a subir, e a credibilid­ade do programa caiu.

Diante disso, as UPPs passaram a ser esvaziadas no ano passado. Nove 38 existentes já foram extintas.

A PM afirma que suas operações são executadas dentro da lei. Também disse que, em áreas conflagrad­as, sua missão é primordial­mente prisões e apreensões de armas e drogas. “Muitas vezes, no entanto, os criminosos fazem a opção pelo enfrentame­nto”.

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