Folha de S.Paulo

Meninos vencem jogos e podem ganhar campeonato­s

- Paulo Vinícius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

Há uma antiga lei aplicada a ferro e fogo por técnicos conservado­res: “Meninos ganham jogos, homens ganham campeonato­s.” Quer dizer que times de garotos têm entusiasmo, ajudam a vencer partidas sem importânci­a, às vezes clássicos. Mas para ganhar jogo grande e levantar taças é preciso ter os experiente­s.

Há capítulos da história do futebol que indicam que pode ser diferente. Os Meninos da Vila do Santos têm quatro versões. O São Paulo tem a dos Menudos, de 1985.

Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, era diretor das divisões de base, quando o presidente Carlos Miguel Aidar avisou que não poderia contratar porque o dinheiro tinha acabado. Antes de trazer Falcão, o São Paulo promoveu Muller, Silas, juntouos a Sídney, Márcio Araújo e Nelsinho. Foi campeão paulista com cinco pratas da casa.

O jogo contra o Ituano começou mostrando a importânci­a dos meninos. Vagner Mancini declarou ter escalado Hudson na lateral direita para anular Martinelli, 17 anos, revelação do Paulista.

O Ituano entregou a posse de bola ao São Paulo, marcou atrás do meio-de-campo, mas liberou seus dois pontas como flechas. Morato teve chance de gol e Martinelli entrou em diagonal em lance que Hudson usou o corpo para traválo, dentro da área.

O São Paulo trocou mais passes (406), teve mais posse de bola (65%), finalizou mais (21 contra 6). Mas faltava a jogada definitiva. Quem a conseguiu foi um menino. Igor Gomes tem 20 anos, não foi campeão da Copa São Paulo porque estava na campanha fracassada da seleção brasileira no Sul-Americano Sub-20.

Ele recebeu o passe de Reinaldo e finalizou com perfeição. Em seu segundo jogo como titular, Igor fez o que veteranos como Nenê, 37, e Diego Souza, 33, não conseguem. Voltou até a intermediá­ria para combater e chegou à grande área para finalizar.

A jogada do segundo gol foi só de meninos. Antony intercepto­u a saída do Ituano, serviu Éverton Felipe e Igor Gomes marcou no rebote. Dos três, Éverton Felipe não é prata da casa, mas tem 21 anos.

Os R$ 45 milhões gastos no início do ano eram parte de uma tentativa de fazer o São Paulo brigar em investimen­tos com o Palmeiras. O Palmeiras não é modelo de sucesso inquestion­ável no futebol brasileiro e o São Paulo vai conseguir competir em dinheiro. O modelo de sucesso para o São Paulo é muito mais o Grêmio, de revelações e contrataçõ­es certeiras, do que o do rival alviverde.

A atuação contra o Ituano foi a melhor do São Paulo neste ano. Nem nos 4 a 1 sobre o Mirassol, nem nos 3 a 0 sobre o Novorizont­ino, nas duas primeiras rodadas, antes da eliminação da Libertador­es, o São Paulo chegou a 65% de posse de bola e vinte finalizaçõ­es. Fez isso contra o Ituano. Ainda não está garantido nas semifinais do Estadual. O risco de eliminação é grande, por ter sofrido o gol de Morato.

Mas a vitória sobre o Ituano indica o caminho. O novo São Paulo, que precisa nascer, precisa ter a rapidez de raciocínio de Antony e Igor Gomes, a capacidade de marcação de Luan e a capacidade de recuperar a bola de Liziero.

Não existe marketing melhor do que ganhar campeonato­s. O São Paulo é prova disso, porque vencia títulos com Josué e Mineiro no time e não com Pato e Ganso.

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