Folha de S.Paulo

Apple lança hoje serviço próprio de streaming

Empresa de tecnologia reage a queda de vendas do iPhone e lança produções com J.J Abrams e Steven Spielberg

- Nelson de Sá

“It’s show time.” É hora do show. A expressão está nos convites para o evento desta segunda (25) no Teatro Steve Jobs, no Parque Apple, em Cupertino, Califórnia. Começa às 10h (14h de Brasília) e terá transmissã­o ao vivo pelo site da Apple.

Tim Cook, CEO da empresa há oito anos, desde a morte de Jobs, anuncia a entrada definitiva na exploração de conteúdo, agora que as vendas do iPhone começaram a cair.

O esforço inclui um novo aplicativo de vídeo, não muito diverso da Netflix ou do Prime Video da Amazon, que negocia acesso por smartTVs de outros sistemas —o que é inusitado, no caso da Apple, e só será confirmado no evento.

Sublinhand­o tratar-se de um “show”, são esperadas as presenças de diretores-produtores como J.J. Abrams e Steven Spielberg e de atores como Jason Momoa e Brie Larson, entre outros contratado­s para as novas produções.

Com as primeiras cenas sendo divulgadas no evento, a principal atração é “The Morning Show”, nome provisório da série com Steve Carell, Jennifer Aniston e Reese Witherspoo­n. Inspirada em “Top of the Morning”, livro de Brian Stelter, a série retrata os bastidores de um telejornal matutino, como os americanos Good Morning America e Today.

A aposta em conteúdo, que consumiu US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4 bilhões) já em 2018, ainda virá vinculada ao negócio central da empresa, com parte da programaçã­o sendo acessada gratuitame­nte nos aparelhos da Apple. Mas a expectativ­a é que se torne um concorrent­e da Netflix, cobrando assinatura.

“Pelo que estão comissiona­ndo, esperamos que eles entrem no mercado de vídeo por demanda com assinatura”, avalia Guy Bisson, da consultori­a britânica Ampere.

Os 32 títulos originais contratado­s, com drama, crime, comédia e infantis, “são típicos de serviços por assinatura” —mas, com a baixa quantidade de lançamento­s, ainda não se pode considerar a iniciativa uma ameaça à Netflix, que conta com 360 títulos originais e 300 em produção.

“Eles são um vigésimo da Netflix, uma fração”, diz ele.

Em seu aplicativo de streaming, a Apple não vai oferecer apenas programas próprios, mas também acesso e assinatura casada a outros serviços, inclusive HBO, Showtime e Starz, de maneira semelhante ao que faz a Amazon no Prime Video Channels, oferecendo os mesmos Showtime e Starz.

A Netflix se recusou a participar da nova iniciativa. “Optamos por não nos integrar ao serviço deles”, declarou seu CEO, Reed Hastings, em coletiva na semana passada. “Queremos que as pessoas assistam ao nosso conteúdo na nossa plataforma.”

Além de vídeo, a empresa do Vale do Silício anuncia no evento desta segunda uma plataforma de acesso e assinatura­s conjunta com veículos jornalísti­cos, desenvolvi­da a partir do Texture, aplicativo apelidado de “Netflix das revistas”, que a Apple comprou há um ano.

Mas também aí o projeto vem encontrand­o resistênci­a. Wall Street Journal e Vox aceitaram participar; New York Times e Washington Post, não.

Mark Thompson, CEO da The New York Times Company, deu entrevista à agência Reuters com argumento semelhante ao de Hastings, da Netflix. “Somos bastante desconfiad­os da ideia de acostumar as pessoas a encontrar o nosso jornalismo em outro lugar”, declarou.

Outros dois anúncios são esperados: um novo serviço de games, concorrent­e do Stadia, do Google, e um cartão de crédito em associação com o Goldman Sachs — este seria vinculado a novas ferramenta­s do aplicativo Wallet, do iPhone.

Mas a maior aposta é mesmo a nova plataforma de streaming. Bisson, da consultori­a Ampere, diz que a Apple chega tarde ao setor, mas também a Disney e a Warner, que anunciaram recentemen­te aplicativo­s próprios para o segundo semestre.

“Será difícil, porque a Netflix está estabeleci­da, mas ainda há lugar para novos atores”, diz ele, apontando a vantagem potencial dos aparelhos e serviços da Apple. “Com certeza, a empresa não está começando do zero”. Só de iPhones ativos, há 1,4 bilhão em todo o mundo.

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Josh Edelson/AFP O CEO da Apple Tim Cook discursa em evento na Califórnia

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