Folha de S.Paulo

Escritor e antologist­a Flávio Moreira da Costa morre aos 77 anos

- Luciano Teixeira

O escritor Flávio Moreira da Costa morreu, no fim da tarde deste sábado (23), aos 77 anos. Ele estava internado há dez dias na Casa de Saúde Pinheiro Machado, no Rio de Janeiro, com uma pancreatit­e.

A notícia foi confirmada por sua ex-mulher, Célia Junqueira, com quem ele viveu cinco anos e teve um filho, Francisco, de 35 anos.

“Ele era um arquivo vivo. Era como se revivesse todos os dias os contos que leu na adolescênc­ia e na vida adulta”, diz ela

O escritor e amigo Antônio Torres, imortal da Academia Brasileira de Letras, lamentou a morte.

“É muito triste ver um colega de ofício daqueles puro-sangue indo embora, num tempo em que a literatura está se esgarçando. Conheço o Flávio desde 1971. Era um trabalhado­r incansável, um organizado­r de antologias fantástico”, afirmou Torres.

Moreira da Costa nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e ficou conhecido por suas antologias de contos. Foram mais de 30 ao longo da carreira, entre elas “Aquarelas do Brasil – Contos da Nossa Música Popular” (Agir, 2006), “Contos de Medo, Horror e Morte” (Nova Fronteira, 2005) e “Os Melhores Contos de Loucura” (Ediouro, 2007).

Algumas de suas coletâneas se tornaram sucesso de vendas. As mais conhecidas foram lançadas entre 2000 e 2010. São edições com as melhores histórias de humor, terror, mistério, erotismo, fantasia. Cães e gatos, futebol, música popular brasileira —tudo lhe serviu de inspiração.

Seus contos e romances foram premiados. “O Equilibris­ta do Arame Farpado” (Record, 1997) ganhou o Jabuti de romance e “Nem Todo Canário é Belga”, (Record, 1997) o de contos.

Moreira da Costa disse, numa entrevista à Folha em 2016, que as antologias o ajudaram a ganhar a vida como escritor.

“Fiz a primeira na adolescênc­ia, uma antologia do conto gaúcho, que me deu a alegria de me tornar amigo de Erico Verissimo. Mas precisava descobrir os novos. Lembro-me de ir à faculdade de medicina de Porto Alegre e encontrar um estudante e contista iniciante. Era o Moacyr Scliar.”

Além de romances e contos, o escritor também é autor de livros policiais, literatura infantojuv­enil, ensaios e um perfil biográfico do compositor Nelson Cavaquinho (Relume-Dumará/RioArte, 2000).

Ele também manteve por duas décadas uma oficina de ficção, por onde passaram grandes nomes da literatura brasileira.

O autor enfrentava um câncer de rim há seis anos e fazia hemodiális­e. Segundo a ex-mulher, a pancreatit­e foi uma consequênc­ia dos problemas no rim.

O amigo e escritor Antônio Torres conta que, mesmo enfrentand­o graves problemas de saúde, o antologist­a tinha muitos projetos em vista.

Um deles é a antologia com título provisório de “Contos Curtos”. Em fase final de produção, ela deve ser lançada ainda este ano, como trabalho póstumo.

O velório acontece nesta segunda (25), 13h30, no cemitério do Caju, no Rio.

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