Folha de S.Paulo

Bolsonaro diz que prometeu próxima vaga no STF a Moro

Para presidente, ‘Brasil inteiro vai aplaudir’ uma indicação de seu ministro da Justiça, que acumula derrotas na função

- Ricardo Della Coletta

O presidente Jair Bolsonaro disse que assumiu compromiss­o de indicar o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, para a próxima vaga disponível no Supremo Tribunal Federal.

Moro era o juiz federal de maior destaque na Operação Lava Jato quando aceitou integrar o governo Bolsonaro, no fim de 2018.

“Eu fiz um compromiss­o com ele, ele abriu mão de 22 anos de magistratu­ra. A primeirava­ga que tiver lá[ noSu premo] e sta ráàdis posição. O Brasil inteiro vai aplaudir”, disse o presidente em entrevista à rádio Bandeirant­es.

O Supremo tem 11 vagas, e a próxima a abrir por aposentado­ria compulsóri­a (75 anos)éa de Celso de Mel lo.

O decano terá de deixar a corte em novembro de 2020.

Moro, que assumiu com aura de superminis­tro e não comentou a fala de Bolsonaro, tem acumulado derrotas.

Seu pacote anticrime recebeu várias ressalvas, e comissão do Congresso vetou que a Justiça assumisse órgão de controle de atividades financeira­s.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste domingo (12) que assumiu compromiss­o com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, para indicá-lo para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).

“Eu fiz um compromiss­o com ele, porque ele abriu mão de 22 anos de magistratu­ra. Eu falei: ‘A primeira vaga que tiver lá [no STF], está à sua disposição’”, disse Bolsonaro, em entrevista ao programa do jornalista Milton Neves na rádio Bandeirant­es.

“A primeira vaga que tiver, eu tenho esse compromiss­o com Moro, e se Deus quiser nós cumpriremo­s esse compromiss­o. Acho que a nação toda vai aplaudir um homem desse perfil lá dentro do STF”, acrescento­u o presidente.

O primeiro ministro do Supremo que deve deixar a corte é o decano Celso de Mello, que cumpre 75 anos —a idade de aposentado­ria obrigatóri­a— em novembro de 2020.

A segunda vaga no STF deve ficar disponível com a aposentado­ria de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.

Bolsonaro fez os comentário­s após ser questionad­o pelos entrevista­dores sobre uma fala recente do ex-juiz da Lava Jato, que no final de abril disse ao jornal português Expresso que ir para o STF seria “como ganhar na loteria”.

“Eu vou honrar esse compromiss­o. Caso ele [Moro] queira ir pra lá [STF], será um grande aliado. Não do governo, mas dos interesses do nosso Brasil dentro do STF”, disse o mandatário.

Ao revelar o acordo feito com o ex-juiz da Lava Jato, Bolsonaro ressaltou que, mesmo indicado, Moro terá que se submeter ao crivo do Congresso antes de assumir uma cadeira na corte.

“Obviamente ele teria que passar por uma sabatina no Senado. Eu sei que não lhe falta competênci­a para ser aprovado lá, mas é uma sabatina técnico-política”, concluiu o presidente.

O ministro da Justiça não se manifestou sobre o conteúdo das declaraçõe­s de Bolsonaro.

Sergio Moro foi anunciado ministro da Justiça em 1º de novembro do ano passado, poucos dias depois da vitória do atual presidente no segundo turno das eleições presidenci­ais.

Quando comunicou seu embarque no governo, Moro disse ter aceitado o convite de Bolsonaro “com certo pesar” por ter de “abandonar 22 anos de magistratu­ra”.

“No entanto, a perspectiv­a de implementa­r uma forte agenda anticorrup­ção e anticrime organizado, com respeito à Constituiç­ão, à lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocesso­s por um bem maior”, disse o ex-juiz à época.

Moro assumiu um ministério turbinado, fruto da fusão da pasta da Justiça com a da Segurança Pública.

Além disso, o ministro tomou posse como o integrante mais conhecido da equipe de Bolsonaro, fruto dos anos de exposição como o juiz da Lava Jato responsáve­l, entre outras medidas, pela condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex de Guarujá (SP).

Pesquisa Datafolha realizada no início de abril apontou Moro como o ministro mais popular e mais bem avaliado do governo Bolsonaro.

No entanto, o status de superminis­tro e a popularida­de não se traduziram, até o momento, em vitórias políticas para o ex-juiz da Lava Jato.

Pelo contrário, ele já foi obrigado a recuar de uma nomeação e sofreu derrotas no Legislativ­o.

A mais recente delas ocorreu na semana passada, quando a comissão especial do Congresso que analisa a medida provisória da reforma administra­tiva retirou o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) da alçada do Ministério da Justiça.

Contra a vontade de Moro, deputados e senadores decidiram que o conselho de inteligênc­ia financeira que investiga operações suspeitas deverá ficar subordinad­o ao Ministério da Economia, como ocorre desde 1998.

Moro também enfrenta tramitação lenta no Congresso do seu pacote de endurecime­nto de penas e de combate ao crime organizado, conhecido como projeto anticrime.

Na entrevista deste domingo, Bolsonaro defendeu a agenda legislativ­a de Moro e argumentou que a proposta já deveria ter sido “discutida e votada” pelos parlamenta­res.

Indagado se a demora era responsabi­lidade do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro disse apenas que o deputado é o “dono da pauta” na Casa.

No final de fevereiro, um episódio lançou dúvidas se Moro de fato contava com carta branca do Palácio do Planalto nos assuntos do ministério.

O ex-juiz foi obrigado a recuar da indicação da especialis­ta em segurança pública Ilona Szabó como membro suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá­ria. O veto a Szabó, cuja nomeação para o órgão consultivo havia sido publicada no dia anterior, ocorreu após uma onda de críticas de aliados de Bolsonaro nas redes sociais e por pressão do próprio presidente.

Se confirmada a indicação de Moro para o STF no final do ano que vem, o ex-juiz da Lava Jato não será o primeiro ministro da Justiça a trocar a pasta pelo Supremo.

O caso mais recente é o de Alexandre de Moraes, que foi ministro da Justiça do ex-presidente Michel Temer por pouco mais de oito meses. Ele ocupou a vaga de Teori Zavascki, que morreu em janeiro de 2017.

Outros casos após a promulgaçã­o da Constituiç­ão em 1988 são dos ex-ministros do STF Paulo Brossard, Maurício Corrêa e Nelson Jobim, que chefiaram a pasta da Justiça nos governos José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, respectiva­mente.

Seria [ir para o STF] como ganhar na loteria. Não é simples. O meu objetivo é apenas fazer o meu trabalho

Sergio Moro ao ser questionad­o sobre a possibilid­ade de ser indicado ao STF, em entrevista publicada em 23.abr.19

A primeira vaga que tiver, eu tenho esse compromiss­o com Moro, e se Deus quiser nós cumpriremo­s esse compromiss­o. Acho que a nação toda vai aplaudir um homem desse perfil lá dentro do STF

Jair Bolsonaro em entrevista neste domingo (12)

 ?? Rodolfo Bührer - 10.mai.19/La Imagem/Fotoarena/Agência O Globo ?? Bolsonaro e Moro durante inauguraçã­o de centro de inteligênc­ia em Curitiba
Rodolfo Bührer - 10.mai.19/La Imagem/Fotoarena/Agência O Globo Bolsonaro e Moro durante inauguraçã­o de centro de inteligênc­ia em Curitiba

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