Folha de S.Paulo

Reforma retira abono salarial em cinco estados

Pela nova regra, salário mínimo de SP, RJ, PR, SC e RS supera limite para liberação de benefício

- Thiago Resende e Angela Boldrini

Deputados federais de SP, RJ, PR, SC e RS se mobilizam para apresentar emendas ao projeto de reforma da Previdênci­a visando derrubar o fim do abono salarial em suas bases eleitorais.

A reforma da Previdênci­a do presidente Jair Bolsonaro (PSL) acaba com o pagamento do abono salarial em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Esse benefício é destinado a trabalhado­res de baixa renda e funciona como um 14º salário, pago pelo governo.

Hoje, quem tem carteira assinada e recebe até dois salários mínimos (R$ 1,9 mil) por mês tem direito ao abono, cujo valor é de um salário mínimo (R$ 998).

Mas, pela proposta, o critério da renda mensal será alterado para um salário mínimo. A medida restringe bastante o grupo de trabalhado­res que podem sacar o benefício.

Em cinco estados do país vigora um piso mais alto do que o nacional. É vedado um patrão contratar um empregado em São Paulo, por exemplo, por menos de R$ 1,1 mil mensais. Dependendo da categoria, esse mínimo é até mais elevado.

Segundo o Ministério da Economia, a reforma da Previdênci­a prevê que o parâmetro para ter direito ao abono é o piso nacional (R$ 998).

A regra atual —renda mensal de até dois salário mínimos— garante que trabalhado­res desses cinco estados tenham acesso ao benefício.

Com a mudança de critério defendida pelo governo, o abono salarial seria cortado nos cinco estados.

Alertados sobre o risco de encerramen­to do benefício nessas áreas, deputados do Sul e Sudeste preparam emendas na tentativa de evitar mudanças nos parâmetros e garantir o abono.

Para isso, alguns articulam a derrubada da parte da reforma da Previdênci­a que afetaria as regras do abono salarial. É o caso da bancada do Solidaried­ade, partido cujo presidente é o deputado Paulinho da Força (SP). “O governo diz que a reforma é para tirar privilégio­s. Isso não é tirar privilégio, é prejudicar o mais pobre”, disse o deputado.

O corte no abono nesses cinco estados preocupa até mesmo deputados mais alinhados à ideia de endurecer os requisitos para aposentado­rias.

Uma alternativ­a em gestação no Congresso é a de que o critério para o benefício leve em consideraç­ão o piso estadual, e não o nacional.

Deputado por São Paulo, o relator da reforma, Samuel Moreira (PSDB), foi informado por aliados que a proposta para o abono tem um grande efeito negativo no estado. Moreira agora estuda uma forma de reduzir os danos.

A equipe econômica argumenta que as mudanças no pagamento do abono servem para melhorar o uso do dinheiro público, pois poderia liberar mais recursos para outros programas e para a assistênci­a social.

Dados do Ministério da Economia e da IFI (Instituiçã­o Fiscal Independen­te), do Senado, apontam para uma forte restrição no acesso ao bônus no Brasil.

De acordo com a RAIS (Relação Anual de Informaçõe­s Sociais) de 2017, quase 24 milhões dos 46 milhões de trabalhado­res formais do país ganhavam até dois salários mínimos, consideran­do o patamar nacional.

Se a proposta de Bolsonaro for aprovada, apenas 2,6 milhões passariam a ter direito ao benefício.

O time do ministro Paulo Guedes (Economia) tenta preservar a reforma da Previdênci­a encaminhad­a ao Congresso em fevereiro e que representa­ria uma economia de R$ 1,2 trilhão em dez anos.

As alterações no abono salarial significar­iam um corte de gastos de aproximada­mente R$ 170 bilhões —14% do total.

Guedes defende que os parlamenta­res não desidratem o texto e mantenham, pelo menos, uma reestrutur­ação do sistema de aposentado­rias que reduza as despesas em R$ 1 trilhão em uma década.

A maioria da Câmara, porém, já indicou que rejeita mudanças no BPC (benefício pago a idosos), na aposentado­ria e pensões rurais. Além disso, é grande o movimento para preservar os professore­s.

Sem esses itens, a economia com a reforma da Previdênci­a já seria reduzida para cerca de R$ 1,1 trilhão.

Se a medida para cortar o abono salarial também for derrubada, a meta do ministro não seria alcançada.

Para o presidente da comissão especial da reforma, Marcelo Ramos (PR-AM), o governo terá dificuldad­e para evitar uma retirada das regras propostas para o benefício.

“Isso vai ser um tema sensível. Vai ter pressão para tirar [esse trecho], mas [a redução do] abono tem impacto fiscal”.

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