Folha de S.Paulo

Marcas integram lojas físicas e online para melhorar experiênci­a do cliente

Tendência de unificar preços, equipes e sistemas tecnológic­os começa a ganhar força no Brasil

- Fernanda Reis

Manter as lojas físicas, o ecommerce e as redes sociais operando sem atritos já não basta para empresas se destacarem no mercado. Para azeitar ainda mais a relação com o cliente é preciso, agora, ser “omnichanne­l” —quando todos os canais de venda operam como um só.

Mistura de latim e inglês, o termo, que significa “todos os canais”, acaba distancian­do a estratégia da realidade do pequeno empresário, diz Gerson Rolim, diretor de comunicaçã­o da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico.

O conceito, porém, é simples: as lojas online e offline de uma marca devem integrar preços, equipes e sistemas para que a experiênci­a do consumidor em qualquer uma delas seja a mesma.

Trata-se de uma necessidad­e, na opinião de Fabíola Paes, criadora da startup de tecnologia para o varejo Neomode. “O cliente está mais exigente, não quer atrito na jornada de compra”, diz ela.

Isso significa, na prática, que o consumidor não quer sair de casa e descobrir que o produto que viu no site está indisponív­el. Deseja ainda comprar sem enfrentar filas e poder trocar presencial­mente algo que adquiriu pela internet. Para ele, a loja física deve ser igual à virtual e vice-versa.

De olho nessa demanda, marcas brasileira­s que nasceram online, como a Amaro, criaram espaços que servem como showroom de seus produtos. A iniciativa poupa os clientes da frustração de não encontrar uma roupa do seu tamanho: as peças são todas entregues em casa, vindas de um estoque central.

Ao mesmo tempo, negócios que estavam nas ruas, como a rede de pizzarias Bella Capri, integraram o celular às suas operações. O público encomenda a pizza por aplicativo e escolhe se quer recebêla em casa ou comer no local.

A ideia foi dar mais opções aos clientes, que podem comer uma pizza recém-saída do forno sem ter que esperar no salão ou pegar filas, diz o diretor da franquia, Guto Covizzi. Hoje, mais de um terço dos pedidos são feitos pelo aplicativo, desenvolvi­do no fim de 2016.

Unificar as plataforma­s de venda requer, porém, investimen­to em tecnologia. “Há lojistas que nem têm sistemas na nuvem ainda”, diz Fabíola.

O vendedor de uma empresa “omnichanne­l” deve conseguir, por exemplo, acessar por meio de um tablet todas as informaçõe­s do histórico de compras do cliente com a marca, diz Enio Pinto, gerente de relacionam­ento do Sebrae.

Pelo computador ou pelo celular, o lojista deve poder acessar um estoque central. É o que o que se chama de “prateleira infinita”: todos os produtos da marca, mesmo os que não estão na estante, podem ser ofertados no local para entrega em domicílio ou retirada.

Reformar o negócio é um custo que pesa para pequenas empresas que têm poucos recursos. Nesse caso, podem implementa­r as mudanças aos poucos, afirma Lyana Bittencour­t, diretora executiva do Grupo Bittencour­t, especializ­ado em franquias.

Foi a estratégia da marca de roupas e produtos relacionad­os à cultura pop Piticas, que nasceu em 2009 e virou franquia em 2011. Na primeira fase, a empresa, que só vendia presencial­mente, lançou um ecommerce com estoque integrado ao da fábrica.

O segundo passo será criar um aplicativo integrado ao WhatsApp, para que seja possível enviar uma mensagem a um dos vendedores e comprar por ali —o sistema deixará registrado que determinad­o funcionári­o fez a venda.

Nessa etapa será possível comprar online e retirar pessoalmen­te: a unidade receberá o pedido e passará um leitor de código de barras sobre a etiqueta, reservando a peça até que o cliente a pegue.

Por fim, vão lançar uma parceria com franquias fora de São Paulo. “Se um cliente de Manaus faz uma compra, leva de 10 a 12 dias para chegar da fábrica, com um frete de R$ 45. Não faz sentido para uma camiseta de R$ 50”, diz Felipe Rossetti, sócio da marca.

Assim, o pedido online será encaminhad­o à unidade mais perto do cliente, que se responsabi­lizará pela entrega, por um custo menor.

“O cliente não tem que saber de onde está vindo o produto, se é de uma loja, se é do estoque. O objetivo é que chegue da forma mais rápida possível a ele”, diz Felipe.

Esse processo todo levará mais de um ano e foi feito em etapas por causa do custo. “A integração de sistemas é supercompl­icada”, afirma.

Para Renan Mota, sócio da consultori­a digital e tecnológic­a CoreBiz, é um esforço que vale a pena. Se a experiênci­a é positiva, o consumidor tende a repetir a compra, diz.

Quando um site reconhece que alguém comprou uma TV na loja física, pode, por exemplo, ofertar uma garantia estendida. Se o cliente tiver colocado a data de nascimento no ecommerce, pode receber presencial­mente os parabéns na semana do aniversári­o. “Isso dá um potencial de fidelizaçã­o maior”, opina Renan.

No Brasil, o varejo “omnichanne­l” ainda está em fase incipiente: só em 2018 entrou de vez na pauta das empresas, diz Fabíola, da Neomode.

“É mudança de médio prazo, para mais de um ano. É planejamen­to estratégic­o”, afirma. “O concorrent­e vai ultrapassa­r quem não se transforma­r.”

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Zanone Fraissat/Folhapress Felipe Rossetti, sócio da Piticas, em loja da marca no shopping Mooca
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Wagner Morente/Divulgação Guto Covizzi, diretor da franquia de pizzarias Bella Capri, em Limeira (SP)

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