Folha de S.Paulo

Militares viram réus por morte de músico no RJ

- Júlia Barbon

A Justiça Militar aceitou a denúncia feita na sexta-feira (10) contra 12 militares que participar­am da ação que resultou na morte de um músico e de um catador de material reciclável em Guadalupe, na zona oeste do Rio de Janeiro, em 7 de abril.

A decisão é da juíza federal Mariana Queiroz Aquino Campos, que determinou a prisão preventiva de nove dos suspeitos três dias após o ocorrido. Eles continuam presos, aguardando uma definição do Superior Tribunal Militar (STM) quanto ao direito de aguardar o processo em liberdade.

Todos vão responder por dois homicídios qualificad­os (crime que prevê pena de 12 a 30 anos de prisão), tentativa de homicídio qualificad­a (que pode chegar à mesma punição) e omissão de socorro (de um a seis meses ou multa, mas pode ser ampliada).

Na ação, morreu o músico Evaldo Rosa dos Santos, que levava a família para um chá de bebê. Seu sogro, Sérgio de Araújo, ficou ferido. Baleado ao tentar ajudar os ocupantes do carro, o catador Luciano Macedo morreu 11 dias depois. A mulher de Evaldo, seu filho e uma amiga do casal também estavam no carro, mas não se feriram.

A juíza marcou para esta segunda-feira (13) o sorteio do chamado Conselho Especial de Justiça, grupo que julgará o caso. Ele será formado pela própria magistrada e por quatro militares do Exército, que devem estar acima dos réus na hierarquia militar — como um dos acusados é segundo-tenente, os julgadores devem ser no mínimo primeiros-tenentes.

Em 21 de abril, esse conselho deverá ouvir as vítimas e testemunha­s envolvidas. Após o julgamento, a ser feito em outra data, ainda é possível que a acusação ou a defesa recorram ao STM, e depois ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O processo corre na Justiça Militar, segundo a decisão deste sábado (11), porque o caso foi enquadado com um crime doloso contra a vida, cometido por militares contra civis, em um contexto que envolve a segurança de uma instituiçã­o ou missão militar, conforme o Código Penal Militar.

Segundo a denúncia, os militares envolvidos efetuaram 257 tiros de fuzil e pistola durante a ação, dos quais 62 atingiram o carro em que estavam as vítimas. O resultado das investigaç­ões aponta que os militares confundira­m o carro da família com o usado por criminosos num assalto que haviam visto minutos antes.

Para as promotoras Najla Nassif Palma e Andrea Helena Blumm Ferreira, que assinam a denúncia, os militares agiram com excesso em dois momentos: tanto nos disparos feitos no momento do assalto quanto ao avistar o Ford Ka de Evaldo. Elas destacaram ainda o fato de os militares não terem prestado socorro às vítimas.

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