Folha de S.Paulo

Santos e Vasco foi um duelo entre o passado e o presente

- Paulo Vinícius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

O medo de perder tira a vontade de ganhar foi frase com que Vanderlei Luxemburgo explicou suas muitas vitórias nas décadas de 1990 e 2000.

Ele jura que não foi por medo de perder que não se sentou no banco de reservas para enfrentar o Santos de Jorge Sampaoli. Mas seria um desafio daqueles que Luxemburgo nunca fugiu.

O mais ofensivo treinador do Brasil atual, o argentino Sampaoli, tatuou no braço frase de Che Guevara. Quase o oposto do lema de Luxemburgo: “Não se vive celebrando vitórias, mas superando derrotas.”

A tatuagem foi coberta por outra, pois havia um erro de grafia. A palavra castelhana “sino”, acima representa­da pela conjunção adversativ­a “mas”, foi grafada separadame­nte em Sampaoli —si no.

Por recomendaç­ão de Luxemburgo ou não, o interino do Vasco, Marcos Valadares, teve medo de perder e escalou três zagueiros. Tornavam-se cinco em linha, no sistema defensivo, com quatro no meio. Para contrapor, Sampaoli atacou marcando.

Nos primeiros sete minutos, o Santos roubou a bola três vezes à frente do meio de campo. Aos 18 minutos, fez 1 a 0 com Rodrygo pressionan­do a saída de bola de Sidão. A pressão deixou a jogada no pé de Diego Pituca, que encobriu o goleiro. O segundo gol também nasceu de intercepta­ção de jogada no campo de ataque. Recuperaçã­o de Jorge, gol de Rodrygo.

A grande semelhança entre o melhor treinador do passado e a esperança de futebol ofensivo para o futuro, entre Luxemburgo e Sampaoli, é o ataque. Os melhores times de Vanderlei tinham obrigação de se impor aos rivais pela troca de passes em direção ao gol. Fossem cadenciado­s, como o Palmeiras de 1993/1994, ou avassalado­res, como o Palmeiras de 1996. Fosse com craques consagrado­s, como Edmundo e Evair, ou com talento discutível, no Corinthian­s de Mirandinha e Didi, no Brasileiro de 1998.

Luxemburgo fez bons trabalhos no Grêmio de 2012 e no Palmeiras de 2008, mas o último momento brilhante foi no Santos de 2006, campeão paulista comandando uma defesa de Ronaldo Guiaro, Ávalos e Manzur, ataque de Léo Lima, Reinaldo e Geílson.

Contra o Corinthian­s de Tévez, fez o aqueciment­o com doze jogadores e deixou Antônio Lopes atônito. Aquele Santos venceu o Estadual contra o São Paulo, campeão mundial, e o Corinthian­s, campeão brasileiro, de Nilmar e Tévez.

Era seu retorno do Real Madrid e Luxemburgo parecia convicto de que poderia voltar à seleção, depois que Parreira dirigisse a equipe na Copa do Mundo da Alemanha. Campeão, Luxemburgo e o país foram surpreendi­dos pelo anúncio de que Dunga seria o novo treinador.

Embora não admita, naquele momento deixou de ser brilhante para se tornar comum. Luxemburgo murchou. Nunca mais foi o melhor do Brasil.

O futebol é uma cachaça. Vicia. Luxemburgo sempre volta. Mas por causa do lançamento de sua marca de cachaça, não se sentou no banco contra Sampaoli. Seria uma chance de se colocar de igual para igual com o que há de mais agressivo no futebol brasileiro hoje. Luxemburgo não estava no campo, mas estará semana que vem contra o Avaí, em São Januário, tentando repetir o que esteve escrito no corpo de Sampaoli: não celebrar vitórias, enquanto não superar suas últimas derrotas.

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