Folha de S.Paulo

Startup quer salvar o mundo com hambúrguer vegano que sangra

- Emiko Terazono e Tim Bradshaw Fotos Jane Lanhee Lee/Reuters Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Um professor de bioquímica de 64 anos, Pat Brown, se destaca entre os muitos jovens fundadores de startups bilionária­s no Vale do Silício.

Mas o que ele não tem de juventude compensa em ambição. Em vez de simplesmen­te mudar o mundo, Brown pretende salvá-lo, e um novo acordo anunciado recentemen­te entre sua startup de carne à base de plantas, Impossible Foods, e a Burger King é um grande passo para se alcançar a meta de reduzir as emissões de carbono geradas pela indústria da carne.

Brown é conhecido na comunidade científica por sua pesquisa em genética e microbiolo­gia —inclusive a definição do mecanismo pelo qual o vírus HIV infecta as células.

Após tirar uma longa folga de seu trabalho como professor na Universida­de Stanford em 2010, ele quis encontrar um problema global em que pudesse fazer diferença.

Concluiu que descobrir as causas do câncer ou do mal de Alzheimer era secundário aos danos ambientais causados pelo consumo de carne e laticínios. “Nada chega perto do impacto ambiental da indústria [pecuária]”, diz ele.

Dos gases do efeito estufa produzidos pelo gado aos efeitos negativos para a terra e a água, ele está convencido de que os seres humanos estão indo em direação ao desastre ecológico, a menos que o consumo de carne e leite seja reduzido ou mesmo eliminado.

Brown percebeu que em vez de pregar uma mudança nos hábitos alimentare­s ou fazer lobby para mudar os regulament­os, oferecer proteínas alternativ­as saborosas seria a maneira mais eficaz de produzir mudanças. Vegano e corredor de maratonas, ele não come carne há quase 50 anos, e laticínios há mais de 15.

Com o apoio da investidor­a do Vale do Silício Khosla Ventures, ele lançou a Impossible em 2011, reunindo uma equipe que incluía bioquímico­s moleculare­s, químicos e cientistas de dados, para fazer uma carne à base de plantas a partir do nível molecular.

Samir Kaul, sócio fundador da Khosla com um passado na genômica que consultava Brown em seu tempo de cientista, diz que apoiá-lo foi uma decisão fácil. “Ele tem um histórico de encarar grandes desafios e, francament­e, vencer.”

A Impossible descobriu que “heme”, uma molécula proteica que contém ferro e está presente em plantas e animais, era o ingredient­e mágico que dava à carne seu aroma, sabor e textura. Heme, produzida através de engenharia genética e fermentaçã­o de levedo, também está por trás dos “sucos” que fazem o hambúrguer da Impossible sangrar.

Em 2016 ela lançou uma carne feita de trigo e proteínas de batata, óleo de coco e heme, que tinha aparência, sabor e cheiro de um hambúrguer e fritava com o mesmo ruído.

Antes que a Impossible lançasse um produto, Brown recusou uma oferta da Google pela companhia, em 2015. “Para Pat Brown, seu motivo não é ficar rico. É tornar o mundo um lugar melhor”, diz Kaul.

Em 2019, a empresa lançou um hambúrguer novo e aperfeiçoa­do, depois de trocar o trigo por soja e usar menos sal. Depois de assinar o acordo de distribuiç­ão com a Burger King, está levantando fundos para aumentar a capacidade de sua instalação de produção em Oakland, na Califórnia.

Juntamente com a rival Beyond Meat, que está preparando sua entrada na Bolsa dos EUA, a Impossible tentou atrair consumidor­es de carne que querem reduzir a ingestão de carne ou procuram opções mais saborosas.

O teste da Burger King está começando em St. Louis, no Missouri, mas a Impossible espera estar disponível em todos o país até o final do ano.

Se o hambúrguer da Impossible fizer sucesso, Brown espera eliminar a carne animal da rede alimentar até 2035, ajudando a Terra a restaurar sua cobertura vegetal.

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Pat Brown observa carne da sua startup Impossible Foods
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À esq., funcionári­a da Impossible Foods coloca uma solução com heme, molécula que tem ferro e confere o sabor e cheiro à carne, à mistura vegana; à dir., o produto final
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