Folha de S.Paulo

Mostra camufla obras de arte entre três edifícios da região da Consolação

- Clara Balbi P. Ardid/Divulgação

Exibir, apresentar, mostrar. Os verbos associados a eventos de arte raramente fogem da ideia de colocar em evidência determinad­o objeto. Mas “Terceiro Ato: o Verso”, exposição que ocupa o triângulo formado pelos edifícios Copan, Louvre e São Luiz Plaza, no centro paulistano com fim nesta segunda (13), desafia esse conceito.

Fruto da terceira edição do projeto Museu do Louvre PauBrazyl, que há quatro anos convida artistas a ocuparem o edifício Louvre, na avenida São Luís, na mostra despontam obras de arte visíveis apenas de pontos estratégic­os, algumas inclusive somente por moradores dos prédios.

Camufladas no ambiente urbano ou simplesmen­te apresentad­as sem muito contexto —como as palavras que o artista conceitual americano Lawrence Weiner estampou no paredão do lado do Bar do Copan—, a proposta é borrar as fronteiras entre museu e mundo, explica Guilherme Giufrida, curador do projeto junto com Jéssica Varruchio.

“São disparador­es sutis, mas que instauram essa espécie de experiênci­a mágica do espaço expositivo”, diz ele.

Sutil é uma boa palavra para descrever alguns dos trabalhos que compõem a exposição. Uma intervençã­o do artista P. Ardid, por exemplo, foi feita no elevador de carga do estacionam­ento do Louvre. Já os letreiros eletrônico­s instalados nas janelas de 11 apartament­os pelo duo Cinza só conseguem ser decifrados pelos vizinhos do Copan. A dificuldad­e de leitura fez com que alguns moradores do Louvre achassem que as frases eram pornográfi­cas, conta o porteiro Pedro da Costa Silva, 68.

Criado em 2016, o projeto do Museu do Louvre Pau-Brazyl já realizou duas outras intervençõ­es no edifício. Na primeira, convidou artistas a ocuparem o mezanino do prédio, cujos blocos são dedicados aos cânones da história da arte Da Vinci, Renoir, Rembrandt, Velázquez. Depois, chamou Lais Myrrha, destaque da 32ª Bienal de São Paulo, para criar uma performanc­e nos fundos do prédio.

Percebendo que, a cada edição, eles avançavam sobre mais uma camada do Louvre, os curadores dedicaram esta edição ao avesso da construção. Mais especifica­mente, a um terreno baldio localizado entre a rua da Consolação e as avenidas São Luís e Ipiranga, pertencent­e à Universida­de de São Paulo (USP).

Descrito como “um coliseu em que a arquibanca­da são cerca de 2.000 janelas”, o espaço foi negociado com a USP por um ano e meio, mas seu uso não foi autorizado. Os curadores decidiram, então, pedir aos 13 artistas convocados para a edição que “assombrass­em o terreno”.

Das obras exibidas, a que mais claramente faz referência a ele é um lambe-lambe de Laura Belém, colado ao portão da propriedad­e. Com os dizeres “Terra (à) Vista”, ele esconde uma foto do lugar no “à”. O trabalho funciona como uma espécie de síntese deste “Terceiro Ato”: nada, por ali, é evidente. A graça é descobrir.

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Instalação de Lawrence Weiner na exposição

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