Folha de S.Paulo

Justiça quebra sigilo de Flávio Bolsonaro e de ex-assessor

Segundo jornal, decisão sobre movimentaç­ões atinge mais 88 ex-auxiliares de filho de presidente

- Adriano Machado - 8.mai.19/Reuters

A Justiça do Rio autorizou a quebra de sigilo bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. A decisão, de 24 de abril, foi noticiada pelo jornal O Globo. Sua abrangênci­a, uma devassa de dez anos nas contas do filho do presidente e de mais de 88 pessoas, surpreende­u políticos e juízes, relata o Painel.

A Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra de sigilo bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz.

A decisão, do dia 24 de abril, foi divulgada nesta segunda (13) pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha.

A autorizaçã­o atinge também 88 ex-assessores de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativ­a do Rio de Janeiro), a mulher e a empresa do senador, pessoas e firmas que fizeram transações imobiliári­as com ele.

A quebra de sigilo bancário e fiscal é o primeiro passo judicial da investigaç­ão sobre Queiroz após quase 500 dias do relatório do Coaf apontar uma movimentaç­ão atípica de R$ 1,2 milhão na conta bancária do ex-assessor de Flávio.

Segundo o jornal, o período da quebra é de 2007 a 2018, período em que Queiroz esteve vinculado ao gabinete.

Fazem parte do rol dos investigad­os as filhas do ex-assessor, Nathalia e Evelyn Queiroz, ambas ex-assessor de Flávio. Também tiveram quebrados os sigilos Raimunda Veras Magalhães e Danielle Nóbrega, mãe e mulher do exPM Adriano da Nóbrega, foragido acusado de comandar uma milícia no Rio de Janeiro.

Queiroz se tornou alvo de investigaç­ão em janeiro de 2019 após o Coaf apontar uma movimentaç­ão na sua conta. Além do volume, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo.

As transações ocorriam em data próxima do pagamento de servidores da Alerj, onde Flávio exerceu o mandato de deputado por 16 anos.

Em fevereiro, Queiroz admitiu que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete. Ele diz que usava esse dinheiro para remunerar assessores informais de Flávio, sem o conhecimen­to do então deputado.

A Folha apurou que o caso Queiroz é visto no Ministério Público como em um estágio inicial de investigaç­ão. Uma das dificuldad­es apontadas é a falta de vínculo direto entre as comunicaçõ­es do Coaf sobre Queiroz e o senador.

A versão dada por Queiroz, na avaliação de investigad­ores, já dá brecha para o oferecimen­to de ação civil pública contra ambos. A apuração, contudo, visa confirmar ou não as explicaçõe­s oferecidas pelo ex-assessor.

Em outra frente de investigaç­ão, a Justiça também autorizou a quebra de sigilo dos norte-americanos Glenn Dillard, Paul Maitino e Charles Eldering, ligados a dois imóveis em Copacabana adquiridos e vendidos pelo senador. Na transação, ele lucrou R$ 813 mil num período menor do que um ano e meio.

Também é alvo do procedimen­to a MCA Participaç­ões e seus sócios. Como a Folha revelou em 2018, o senador vendeu para a empresa salas comercias adquiridas 45 dias antes, com um lucro de mais de 200%.

Em nota, o senador Flávio Bolsonaro disse que seu “sigilo bancário já havia sido quebrado ilegalment­e pelo MPRJ, sem autorizaçã­o judicial”.

“Tanto é que informaçõe­s detalhadas e sigilosas de minha conta bancária, com identifica­ção de beneficiár­ios de pagamentos, valores e até horas e minutos de depósitos, já foram expostas em rede nacional”, afirma a nota.

“Somente agora, em maio de 2019 —quase um ano e meio depois— tentam uma manobra para esquentar informaçõe­s ilícitas, que já possuem há vários meses. A verdade prevalecer­á, pois nada fiz de errado e não conseguirã­o me usar para atingir o governo de Jair Bolsonaro”, diz o comunicado do senador.

A defesa de Queiroz e sua família afirmou que “recebe a notícia com tranquilid­ade uma vez que seu sigilo bancário já havia sido quebrado e exposto por todos os meios de comunicaçã­o, sendo, portanto, mera tentativa de dar aparência de legalidade a um ato que foi praticado de forma ilegal”.

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O senador Flávio Bolsonaro chega ao Palácio da Alvorada

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