Folha de S.Paulo

Derrotas em série

Hélio Schwartsma­n

- helio@uol.com.br

são paulo Uma das primeiras perguntas que se fez sobre o governo de Jair Bolsonaro é como ele agiria para obter maioria no Legislativ­o. A resposta, que vem ficando mais clara a cada semana, é que ele não a terá.

Até aqui, a administra­ção perdeu todas as votações relevantes que enfrentou no Congresso. Está prestes a ver desfeitos até mesmo alguns pontos da medida provisória nº 870, baixada no primeiro dia do novo governo, que reorganizo­u os ministério­s e outros órgãos federais. Se há algo que o Legislativ­o sempre concedeu a presidente­s eleitos, é a prerrogati­va de desenhar como preferisse­m a estrutura com a qual trabalhari­am.

Em condições normais, poderíamos cravar como próxima de zero a probabilid­ade de uma administra­ção assim fraca no âmbito do Legislativ­o aprovar uma reforma impopular como é a da Previdênci­a. Mas nós definitiva­mente não vivemos tempos normais.

Prefeitos e governador­es já se aproximara­m o bastante do abismo para constatar que, sem refrear os gastos com aposentado­rias e pensões, as contas públicas se tornarão inadminist­ráveis. Essa percepção está chegando aos parlamenta­res. O mais provável, portanto, é que uma versão desidratad­a da reforma proposta pela equipe econômica venha a ser aprovada, apesar da falta de empenho do presidente, que passa sempre a impressão de ser instintiva­mente contrário às mudanças.

Como Bolsonaro já deu todas as indicações de que não alterará seu estilo de gestão, a pergunta relevante passa a ser se a aprovação de uma reforma da Previdênci­a basta para assegurar a sobrevivên­cia do governo.

A resposta é que dependerá do desempenho da economia. Se a revisão do sistema previdenci­ário trouxer a chuva de investimen­tos e contrataçõ­es com a qual sonham alguns empresário­s, Bolsonaro termina tranquilam­ente o mandato e pode até ser reeleito. De minha parte, acho difícil. Reequacion­ar a Previdênci­a é condição necessária, mas não suficiente para destravar o cresciment­o.

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