Folha de S.Paulo

Proposta de reforma tributária que unifica 5 tributos deve ter 1º avanço hoje no Congresso

- Anaïs Fernandes

A bola da reforma tributária está com o Congresso, e o momento é de conversas com parlamenta­res, mas o economista Bernard Appy diz esperar que a PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) 45 seja aprovada na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara dos Deputados.

“A função da comissão é avaliar a constituci­onalidade, e temos confiança de que a proposta é constituci­onal. A expectativ­a é que seja aprovada. Quando? Depende do Congresso”, diz o diretor do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal).

Em entrevista à Folha, o relator da reforma na CCJ, deputado João Roma (PRB-BA), disse que pretende apresentar nesta terça-feira (14) relatório pela admissibil­idade (leia abaixo).

O projeto do CCiF para alterar o sistema brasileiro de impostos sobre bens e serviços foi a base para a PEC apresentad­a pelo deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) em abril.

A ideia central do texto é unificar cinco impostos —três federais (PIS/Cofins e IPI), um estadual (ICMS) e um municipal (ISS)— em um único (de alíquota estimada em 20%), sem aumento de carga.

A unificação torna o sistema brasileiro menos complexo, mas Appy diz que o objetivo da reforma vai muito além de uma simplifica­ção.

Segundo ele, a forma como ocorrem as cobranças desses impostos hoje no Brasil gera distorções na alocação de capital e trabalho, o que prejudica a produtivid­ade do país.

“O papel da reforma tributária é ampliar o potencial de cresciment­o. É bem razoável dizer que ela pode gerar um aumento no PIB [Produto Interno Bruto] potencial de pelo menos 10% em um horizonte de 15 anos”, afirma.

Appy já sinalizou não ver problema de a reforma tributária ser debatida enquanto tramita a mudança na Previdênci­a, mas disse que a alteração nas aposentado­rias tem preferênci­a para votação.

“A reforma da Previdênci­a é macroeconô­mica. Sem ela, o Brasil não cresce nem seu baixo potencial atual. A reforma da Previdênci­a é necessária, mas não suficiente, e não adianta ter reforma tributária sem a da Previdênci­a”, diz.

Sobre qual tema seria mais difícil de ser aprovado, Appy diz ver resistênci­as para ambos. “São grupos diferentes. A reforma da Previdênci­a lida com trabalhado­res públicos e privados. No caso tributário, impactos federativo­s e setoriais podem gerar alguma resistênci­a.”

O relatório será pela admissibil­idade total da PEC?

Sim. Ainda não concluí, mas penso que sim, por tudo que observei. Minha intenção é apresentar nesta terça-feira [14].

Não atrapalha a reforma da Previdênci­a?

Não vejo que dificulta. Apesar de sabermos que a reforma mais importante para o Brasil é a da Previdênci­a, igualmente importante é a tributária. Acho que elas podem sim estar tramitando. Mas acho correto que primeiro se vote a reforma da Previdênci­a.

A comissão especial da Previdênci­a precisa terminar para formar a da tributária?

Não. Tem muitas discussões em paralelo no Parlamento.

Isso não é o Congresso comandar uma discussão que o governo queria fazer?

Revela um protagonis­mo do Congresso na agenda que enxerga como mais importante para os brasileiro­s. Acho salutar.

Verifico com muito gosto isso na fala do presidente Jair Bolsonaro, de ministros, de que o Congresso precisa ser protagonis­ta das ações, não apenas dizer amém. O presidente foi eleito e o Congresso também foi, tem legitimida­de.

O Palácio do Planalto fez contato com o senhor?

Não fui procurado pelo governo para tratar da reforma tributária.

O governo não tem participaç­ão nessa proposta?

Tive contato com líderes do governo no Congresso, mas ninguém falou comigo sobre a reforma. Chegamos a uma situação em que tanto o Legislativ­o como governo estão em sintonia no caminho de simplifica­r a estrutura tributária e diminuir o peso fiscal nos ombros do cidadão.

A reforma tributária é mais fácil?

A reforma da Previdênci­a é um assunto que gera muita disputa ideológica e política. Na tributária, existe mais convergênc­ia do que divergênci­a.

O sr. acha possível votar o relatório na próxima semana?

Temos expectativ­a sim, mas é provável que haja pedido de vista.

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PFL nos anos 1990. Filiouse ao PRB em 2016 para concorrer à Câmara
João Roma (PRB-BA) Deputado de primeiro mandato, o político de 46 anos foi chefe de gabinete do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM). Fez carreira no DEM e chegou a ser presidente do braço jovem do então PFL nos anos 1990. Filiouse ao PRB em 2016 para concorrer à Câmara

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