Folha de S.Paulo

Guerra comercial se intensific­a, e Bolsas despencam

China retalia EUA e anuncia aumento de tarifas; Ibovespa cai 2,7% e volta ao nível de janeiro, e dólar chega a tocar R$ 4

- pequim, washington, nova york e londres | financial times A Tradução de Paulo Migliacci, com Júlia Moura, de São Paulo

guerra comercial travada desde 2018 entre a China e os Estados Unidos escalou nesta segunda (13), quando Pequim retaliou Washington e anunciou aumento de tarifas sobre US$ 60 bilhões em produtos americanos. Em reação, as Bolsas americanas tiveram o maior recuo desde janeiro. No Brasil, o dólar bateu os R$ 4.

O Ministério das Finanças da China anunciou que elevará tarifas sobre bens que variam de gás natural liquefeito a espinafre congelado e creme dental, em resposta “ao unilateral­ismo e ao protecioni­smo comercial dos EUA” —a caracteriz­ação dada pelas autoridade­s chinesas à decisão do governo Trump, na sexta (10), de aumentar de 10% para 25% a tarifa incidente sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.

O índice Nasdaq, que reúne empresas de tecnologia listadas na Bolsa de Nova York, perdeu 3,41%, o maior tombo do ano. O índice Dow Jones recuou 2,38%. O S&P 500 cedeu 2,41%.

O Ibovespa caiu 2,68%, para 91.726 pontos, menor patamar desde 7 de janeiro.

O dólar, que chegou aos R$ 4 no início do pregão, perdeu força ao longo do dia e fechou a R$ 3,9790, alta de 0,86%.

Ainda nesta segunda-feira, o governo Trump anunciou planos para impor tarifas de 25% a mais US$ 300 bilhões em produtos chineses —medida que ainda não está fechada e não entrará em vigor antes do fim de junho.

Trump disse que retaliaçõe­s eram esperadas, da parte de Pequim, e confirmou que se encontrará com o dirigente Xi Jinping em uma reunião de cúpula do Grupo dos 20 no Japão, no mês que vem.

Trump havia advertido a China contra novas retaliaçõe­s. “A China não deveria retaliar —vai só piorar as coisas”, tuitou Trump pouco antes do anúncio chinês, ameaçando Pequim de que a China “sofreria muito” se o conflito comercial continuass­e.

O aumento tarifário era lido pelo mercado como uma tática de negociação de Trump para acelerar um acordo, além de um blefe para aumentar o poder de barganha. Com o retrocesso nas negociaçõe­s, a derrubada das tarifas pode se prolongar e aumentar o impacto na economia.

Com a aversão a risco, o cenário piora para emergentes. Investidor­es estrangeir­os migram aplicações para opções considerad­as mais seguras. No ano, a balança comercial de investimen­tos estrangeir­os na Bolsa brasileira está negativa em R$ 1 bilhão.

No mercado, aumentaram as expectativ­as de que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) reaja com um corte nas taxas de juros. A probabilid­ade de um corte antes do fim do ano, calculada com base nos preços futuros, subiu para 74%, ante 58% uma semana atrás.

“O confronto agora se tornou uma batalha de testostero­na entre dois líderes que acreditam ter muito a provar ao seu público. Mas, quanto mais tempo durar essa exibição de força bruta, maior a probabilid­ade de uma recessão nos Estados Unidos, e talvez no mundo”, disse Bernard Baumohl, do Economic Outlook Group, de Nova Jersey.

Pequim anunciou que 2.493 itens vindos dos EUA terão sua tarifa elevada a 25% a partir de 1º de junho. Eles incluem gás natural liquefeito; produtos agrícolas como mel natural; compostos como sulfato de potássio, usado em fertilizan­tes; e diversos produtos industrial­izados, tais como lâmpadas de LED.

Sobre duas outras listas com 1.098 e 974 itens, a tarifa subirá a 20% e 10%, respectiva­mente. Elas incluem muitos produtos de uso doméstico, tais como alvejante e creme dental, e diversos tipos de roupas e equipament­os industriai­s correlatos, como trajes de banho masculinos e máquinas para produzir sapatos.

“A China está mantendo sua estratégia de retaliação proporcion­al e direcionad­a, contra as tarifas americanas. A mensagem de Pequim é clara —as autoridade­s querem solução para a disputa comercial mas não evitarão um confronto se Trump escolher esse caminho”, afirmou Eswar Prasad, professor na Universida­de Cornell.

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