Guerra comercial se intensifica, e Bolsas despencam
China retalia EUA e anuncia aumento de tarifas; Ibovespa cai 2,7% e volta ao nível de janeiro, e dólar chega a tocar R$ 4
guerra comercial travada desde 2018 entre a China e os Estados Unidos escalou nesta segunda (13), quando Pequim retaliou Washington e anunciou aumento de tarifas sobre US$ 60 bilhões em produtos americanos. Em reação, as Bolsas americanas tiveram o maior recuo desde janeiro. No Brasil, o dólar bateu os R$ 4.
O Ministério das Finanças da China anunciou que elevará tarifas sobre bens que variam de gás natural liquefeito a espinafre congelado e creme dental, em resposta “ao unilateralismo e ao protecionismo comercial dos EUA” —a caracterização dada pelas autoridades chinesas à decisão do governo Trump, na sexta (10), de aumentar de 10% para 25% a tarifa incidente sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.
O índice Nasdaq, que reúne empresas de tecnologia listadas na Bolsa de Nova York, perdeu 3,41%, o maior tombo do ano. O índice Dow Jones recuou 2,38%. O S&P 500 cedeu 2,41%.
O Ibovespa caiu 2,68%, para 91.726 pontos, menor patamar desde 7 de janeiro.
O dólar, que chegou aos R$ 4 no início do pregão, perdeu força ao longo do dia e fechou a R$ 3,9790, alta de 0,86%.
Ainda nesta segunda-feira, o governo Trump anunciou planos para impor tarifas de 25% a mais US$ 300 bilhões em produtos chineses —medida que ainda não está fechada e não entrará em vigor antes do fim de junho.
Trump disse que retaliações eram esperadas, da parte de Pequim, e confirmou que se encontrará com o dirigente Xi Jinping em uma reunião de cúpula do Grupo dos 20 no Japão, no mês que vem.
Trump havia advertido a China contra novas retaliações. “A China não deveria retaliar —vai só piorar as coisas”, tuitou Trump pouco antes do anúncio chinês, ameaçando Pequim de que a China “sofreria muito” se o conflito comercial continuasse.
O aumento tarifário era lido pelo mercado como uma tática de negociação de Trump para acelerar um acordo, além de um blefe para aumentar o poder de barganha. Com o retrocesso nas negociações, a derrubada das tarifas pode se prolongar e aumentar o impacto na economia.
Com a aversão a risco, o cenário piora para emergentes. Investidores estrangeiros migram aplicações para opções consideradas mais seguras. No ano, a balança comercial de investimentos estrangeiros na Bolsa brasileira está negativa em R$ 1 bilhão.
No mercado, aumentaram as expectativas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) reaja com um corte nas taxas de juros. A probabilidade de um corte antes do fim do ano, calculada com base nos preços futuros, subiu para 74%, ante 58% uma semana atrás.
“O confronto agora se tornou uma batalha de testosterona entre dois líderes que acreditam ter muito a provar ao seu público. Mas, quanto mais tempo durar essa exibição de força bruta, maior a probabilidade de uma recessão nos Estados Unidos, e talvez no mundo”, disse Bernard Baumohl, do Economic Outlook Group, de Nova Jersey.
Pequim anunciou que 2.493 itens vindos dos EUA terão sua tarifa elevada a 25% a partir de 1º de junho. Eles incluem gás natural liquefeito; produtos agrícolas como mel natural; compostos como sulfato de potássio, usado em fertilizantes; e diversos produtos industrializados, tais como lâmpadas de LED.
Sobre duas outras listas com 1.098 e 974 itens, a tarifa subirá a 20% e 10%, respectivamente. Elas incluem muitos produtos de uso doméstico, tais como alvejante e creme dental, e diversos tipos de roupas e equipamentos industriais correlatos, como trajes de banho masculinos e máquinas para produzir sapatos.
“A China está mantendo sua estratégia de retaliação proporcional e direcionada, contra as tarifas americanas. A mensagem de Pequim é clara —as autoridades querem solução para a disputa comercial mas não evitarão um confronto se Trump escolher esse caminho”, afirmou Eswar Prasad, professor na Universidade Cornell.