Quem espera ajuda do governo perde tempo, diz dono da Caoa
Empresário, que negocia compra da fábrica da Ford, se reúne com Guedes
O setor privado não deve esperar qualquer tipo de incentivo por parte do governo de Jair Bolsonaro (PSL) para fazer investimentos, afirmou o fundador do grupo Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade.
“O empresário que estiver pensando que vai receber ajuda do governo está perdendo tempo, porque cada um é que tem de fazer a sua parte. O governo tem de fazer a dele, e o empresário tem de fazer a sua”, disse Andrade, ao deixar o Ministério da Economia nesta segunda-feira (13).
A Caoa está negociando a aquisição da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
Em fevereiro, a montadora anunciou que vai fechar a unidade se não houver um comprador, porque decidiu deixar o mercado global de caminhões. A fábrica tem duas linhas de produção: caminhões e automóveis.
Andrade foi recebido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a pedido do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Doria se comprometeu a ajudar a vender a fábrica da Ford a fim de preservar os empregos de cerca de 3.000 trabalhadores.
Segundo apurou a reportagem, Guedes e o dono do grupo Caoa conversaram por 30 minutos. O empresário narrou ao ministro sua trajetória e seus planos de investimento no setor automotivo. Depois que Guedes deixou a sala, a reunião foi conduzida pelo secretário de Produtividade, Carlos da Costa.
Pessoas próximas às negociações afirmaram que as tratativas para a aquisição da fábrica da Ford pela Caoa estão esbarrando na questão do crédito. Andrade teria sinalizado que esperava que a administração Doria financiasse a aquisição, mas foi informado que não era possível.
O governo estadual dispõe apenas de um programa de redução de ICMS para o setor automotivo, chamado IncentivAuto, que contempla novos investimentos. Ainda conforme fontes envolvidas, a Caoa planeja aplicar R$ 1 bilhão em quatro anos na fábrica da Ford caso concretize a aquisição.
No encontro desta segunda, também não houve espaço para qualquer solicitação de financiamento do BNDES ou de incentivo fiscal federal.
Com convicções liberais, a equipe econômica de Bolsonaro tem sido bastante restrita em conceder subsídios para o setor automotivo, ao contrário do que ocorreu nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), que lançaram programas de ajuda.
Ao sair da reunião, Andrade negou que estivesse em busca de incentivos ou financiamento. “Nós nunca tivemos nenhum benefício do BNDES nem de nenhum órgão do governo. Nós fizemos todos os nossos investimentos até hoje com recursos próprios.”
O empresário afirmou ainda que está negociando com parceiros da China para fabricar carros na unidade da Ford. O grupo Caoa já possui um acordo com a montadora chinesa Chery e produz o veículo Tiggo em Jacareí (SP).