Folha de S.Paulo

Quem espera ajuda do governo perde tempo, diz dono da Caoa

Empresário, que negocia compra da fábrica da Ford, se reúne com Guedes

- Danielle Brant e Raquel Landim

O setor privado não deve esperar qualquer tipo de incentivo por parte do governo de Jair Bolsonaro (PSL) para fazer investimen­tos, afirmou o fundador do grupo Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade.

“O empresário que estiver pensando que vai receber ajuda do governo está perdendo tempo, porque cada um é que tem de fazer a sua parte. O governo tem de fazer a dele, e o empresário tem de fazer a sua”, disse Andrade, ao deixar o Ministério da Economia nesta segunda-feira (13).

A Caoa está negociando a aquisição da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Em fevereiro, a montadora anunciou que vai fechar a unidade se não houver um comprador, porque decidiu deixar o mercado global de caminhões. A fábrica tem duas linhas de produção: caminhões e automóveis.

Andrade foi recebido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a pedido do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Doria se compromete­u a ajudar a vender a fábrica da Ford a fim de preservar os empregos de cerca de 3.000 trabalhado­res.

Segundo apurou a reportagem, Guedes e o dono do grupo Caoa conversara­m por 30 minutos. O empresário narrou ao ministro sua trajetória e seus planos de investimen­to no setor automotivo. Depois que Guedes deixou a sala, a reunião foi conduzida pelo secretário de Produtivid­ade, Carlos da Costa.

Pessoas próximas às negociaçõe­s afirmaram que as tratativas para a aquisição da fábrica da Ford pela Caoa estão esbarrando na questão do crédito. Andrade teria sinalizado que esperava que a administra­ção Doria financiass­e a aquisição, mas foi informado que não era possível.

O governo estadual dispõe apenas de um programa de redução de ICMS para o setor automotivo, chamado IncentivAu­to, que contempla novos investimen­tos. Ainda conforme fontes envolvidas, a Caoa planeja aplicar R$ 1 bilhão em quatro anos na fábrica da Ford caso concretize a aquisição.

No encontro desta segunda, também não houve espaço para qualquer solicitaçã­o de financiame­nto do BNDES ou de incentivo fiscal federal.

Com convicções liberais, a equipe econômica de Bolsonaro tem sido bastante restrita em conceder subsídios para o setor automotivo, ao contrário do que ocorreu nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), que lançaram programas de ajuda.

Ao sair da reunião, Andrade negou que estivesse em busca de incentivos ou financiame­nto. “Nós nunca tivemos nenhum benefício do BNDES nem de nenhum órgão do governo. Nós fizemos todos os nossos investimen­tos até hoje com recursos próprios.”

O empresário afirmou ainda que está negociando com parceiros da China para fabricar carros na unidade da Ford. O grupo Caoa já possui um acordo com a montadora chinesa Chery e produz o veículo Tiggo em Jacareí (SP).

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