Fisiculturistas brasileiros do Pan dizem estar limpos e não temem antidoping
Quando o fisiculturismo fizer sua estreia nos Jogos Pan-Americanos, em agosto, o Brasil estará representado por dois atletas com discursos afinados sobre um dos assuntos que geram mais controvérsia na modalidade.
Carla Lobo, 48, e Juscelino Santos, 46, dizem com orgulho que não fazem uso de anabolizantes. Os músculos que ostentam em competições, eles afirmam, são resultado de muitas horas de treino na academia, alimentação adequada, suplementação e acompanhamento médico.
“Nós sabemos das nossas lutas e dos nossos maiores desafios com dieta. Eu marmitei [levou a própria marmita] em Natal, casamento da minha irmã e outras comemorações. Sou feliz assim. É um esporte de superação, quem me vê treinando sabe”, afirma Carla.
O fisiculturismo, modalidade que mede o resultado do treinamento de musculação em várias categorias, tem o objetivo de se tornar olímpico. O primeiro passo foi a entrada no programa do Pan-Americano de Lima.
Esse reconhecimento, no entanto, vem acompanhado de algumas exigências. Entre elas está se adequar às normas da Agência Mundial Antidoping (Wada), que proíbe o uso de anabolizantes.
Isso gerou um racha internacional na modalidade. De um lado, entidades e atletas que defendem a realização de exames antidoping nas competições, o que acontecerá no Pan-Americano.
Do outro, aqueles que buscam competições em que não haja controle sobre as substâncias usadas pelos atletas. Eventos de destaque, como o Arnold Sports Festival, ligado a Arnold Schwarzenegger, e o Mr. Olympia abrem mão dos testes antidoping.
“Sou uma atleta natural, defendo isso com unhas e dentes e me orgulho disso. A memória muscular que eu carrego vem de uma vida que construí no esporte. Meu corpo não se transformou nos três anos em que estou no fisiculturismo. Ele vem se transformando desde que eu era criança”, diz Carla, que já foi bailarina, ginasta e maratonista.
Moradora de Brasília, a gaúcha concilia a rotina de quatro horas diárias de treinos dedicadas ao fisiculturismo com a profissão de personal trainer. O baiano Juscelino também orienta alguns fisiculturistas, mas precisa dividir o tempo com a atividade de dono de bar em São Paulo.
Ele descobriu cedo que tinha doença de chagas, uma infecção causada por protozoário e que pode ocasionar problemas cardíacos.
“As pessoas diziam que se eu tomasse alguma coisa seria o melhor de todos, mas descobri cedo que tinha essa doença. Meu médico sempre falou que se eu tomasse [anabolizantes] não viveria muito, porque a doença vai mexendo com os músculos internos e esses esteroides também, o que poderia levar à morte”, afirma Juscelino.
Segundo ele, muitos fisiculturistas optam por usar essas substâncias como um caminho mais fácil no processo de crescimento dos músculos.
“Se eu pude chegar aonde cheguei sem pressa, por que vou querer tomar? Quero saúde, quero viver. A garotada já quer competir depois de amanhã e está jogando a saúde e muito dinheiro fora”, diz.
Por outro lado, os representantes brasileiros no Pan evitam criticar colegas que usam anabolizantes. “Não é que eu seja contra, mas [defendo] que quem fosse usar procurasse um bom médico para ver a dosagem certa e ter acompanhamento. É a opção da pessoa, você não vai conseguir impedir”, diz Juscelino.
Ambos também compartilham a opinião de que o fisiculturismo e seus atletas sofrem com uma concepção errada da atividade, algo que a entrada no movimento olímpico pode ajudar a reduzir.
“Antigamente, quando a gente passava sem camisa na rua, as pessoas falavam: ‘olha que cara forte, deve ficar puxando ferro o dia todo’. Hoje, você passa e as pessoas falam: ‘também, fica tomando bomba’”, conta Juscelino.
O diretor de esportes do Comitê Olímpico do Brasil, Jorge Bichara, explica que todos os atletas convocados para os Jogos recebem orientações sobre doping. “Não temos suspeita nenhuma sobre os atletas do fisiculturismo, como não temos sobre os atletas da ginástica ou do atletismo. Cada um será responsável por seus atos”, diz.