Folha de S.Paulo

O fato é que o dinheiro público acabou

- Hélio Schwartsma­n

Escolas e universida­des param nesta quarta (15) para protestar contra o corte de verbas para educação e pesquisa na administra­ção federal. O movimento é correto e tem todo o meu apoio. É importante para a democracia que o governo Bolsonaro (ou qualquer outro governo) encontre oposição e que ela seja feita por setores relevantes da sociedade, não por alas rebeldes do próprio bolsonaris­mo, como vinha ocorrendo até aqui.

Isso dito, os protestos não vão mudar o fato de que o dinheiro público, se não acabou, tornou-se bem mais escasso. Não dá para esperar que, num contexto em que faltam recursos até para assegurar o funcioname­nto de hospitais, verbas de educação e pesquisa sejam mantidas intocadas. Há, porém, modos melhores e piores de restringir orçamentos.

Aumentar o nível de exigência para financiar projetos ou para conceder bolsas, por exemplo, é algo que faria todo sentido. Mas o governo, ao ideologiza­r a questão e emburrecer o debate em torno do que merece ou não aportes oficiais, escolheu um caminho péssimo, que pode legitimame­nte ser repudiado.

No fundo, o que estamos discutindo é se o Brasil deve ser o país do futuro ou do passado. Destinar verbas para educação e para a ciência (incluindo as humanidade­s) sinaliza uma aposta no futuro. Priorizar gastos em Previdênci­a e mesmo em saúde (velhos ficam mais doentes do que jovens) indica comprometi­mento maior com o passado.

Não estou, obviamente, sugerindo que deixemos os idosos ao deus dará ou que o SUS pare de atender às moléstias típicas da terceira idade. Compromiss­os assumidos precisam ser honrados, e o cuidado que uma sociedade dedica a seus membros mais vulnerávei­s diz muito sobre o seu grau de civilizaçã­o. Ainda assim, nosso perfil de investimen­tos —Previdênci­a, 13% do PIB; saúde, 10%; educação, 6%; e pesquisa; 1,3%— sugere que o Brasil anda mais preocupado com o passado do que com o futuro. É uma pena.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil