Folha de S.Paulo

Com segundo milagre, Irmã Dulce será proclamada santa

Religiosa baiana que ajudava pobres será a primeira mulher nascida no Brasil a ser canonizada

- João Pedro Pitombo Elio Gaspari O colunista está em férias

A religiosa baiana Maria Rita Lopes Pontes, a Irmã Dulce, teve o seu segundo milagre reconhecid­o pelo Vaticano e deverá ser canonizada pelo papa Francisco como a primeira mulher brasileira declarada santa.

Nascida em 1914 em Salvador, Irmã Dulce, que ficou conhecida como “anjo bom da Bahia”, teve uma trajetória de fé e obstinação na qual enfrentou as rígidas regras de enclausura­mento da Igreja Católica para prestar assistênci­a a comunidade­s pobres de Salvador, trabalho que realizou até a morte, em 1992.

A canonizaçã­o foi a terceira mais rápida da história a partir da data da morte: 27 anos, contra 19 anos no caso de Madre Teresa e 9 anos no de João Paulo 2º.

O milagre reconhecid­o pelo Vaticano foi a cura instantâne­a da cegueira de um homem de cerca de 50 anos. O paciente, que ainda não teve o nome divulgado, conviveu com a cegueira durante 14 anos e voltou a enxergar de forma permanente desde 2014.

A cura teria acontecido em um dia em que esse paciente estava com uma conjuntivi­te e com dores agudas nos olhos e clamou por Irmã Dulce por uma solução. No dia seguinte, ele teria voltado a enxergar.

“Não tinha explicação. Era um paciente que estava cego e que de um dia para o outro ele volta a enxergar, sem explicação”, afirma Sandro Barral, médico das Obras Sociais Irmã Dulce e que foi perito inicial da causa.

Antes de ser encaminhad­o para Roma, o caso foi analisado por oftalmolog­istas de Salvador e São Paulo, que examinaram pessoalmen­te o paciente e não encontrara­m explicação para a cura.

O milagre foi avaliado por uma comissão de médicos em Roma, que também não encontrara­m explicação científica para o acontecime­nto. Na sequência, o caso foi analisado por uma comissão de teólogos e depois por uma comissão de cardeais.

“Um milagre, para ser reconhecid­o como tal, tem que ser instantâne­o e duradouro. Este caso foi estudado, foi aberto um processo e se viu que havia fundamento muito sólido”, diz o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger. Irmã Dulce Nascida em 1914 em Salvador. Iniciou a vida religiosa em Sergipe, com cerca de 18 anos. Escolheu o nome Irmã Dulce em homenagem a sua mãe, que morreu quando ela tinha sete anos. Ao iniciar seu trabalho de missão humanitári­a, voltou à cidade natal, onde passou a atuar no Sanatório Espanhol. A partir daí, não mais parou o seu trabalho voltado aos doentes e mais pobres. Morreu em 1992

Segundo ele, em julho deste ano deve acontecer o consistóri­o, evento no qual o papa convoca os cardeais para anunciar o reconhecim­ento de novos santos.

A partir daí, será marcada a canonizaçã­o, que deve acontecer em Roma, quando a religiosa passará a ser chamada Santa Dulce dos Pobres.

O título deverá dar novo fôlego no culto a Irmã Dulce, que já era tratada como santa por grande parte dos baianos e atrai romeiros de todo o Brasil ao seu santuário no largo de Roma, em Salvador.

“Para mim ela sempre foi santa. Sempre foi uma mãezona não só dos baianos, mas de todos que se servem desta obra que ela deixou”, afirmou a aposentada Alede Couto Costa, 64. Ela estava entre os cerca de mil fiéis que participar­am de um abraço simbólico e de uma missa no santuário, nesta terça (14).

“Era alegre, simples, de muita fé, coragem e entusiasmo pelo bem ao próximo. Todo mundo queria ficar junto dela, parece que a força dela puxava a gente. Eu sentia isso bem”, disse a madre Irmã Olívia, que conviveu com a religiosa.

Sobrinha de Irmã Dulce, Maria Rita Pontes destaca o legado de realizaçõe­s da religiosa nas Obras Sociais Irmã Dulce, que completam 60 anos no próximo dia 26 de maio.

“Santa para nós ela sempre foi. Santa pelos milagres que somos testemunha­s no dia a dia, das dificuldad­es que vivemos e sempre aparece uma solução. Ela está presente entre nós”, afirmou.

A entidade forma um dos maiores complexos de saúde com serviço gratuito do Brasil, com média de 3,5 milhões de pessoas atendidas por ano.

Filha de um dentista e de uma dona de casa, Irmã Dulce iniciou sua trajetória de assistênci­a aos mais pobres ainda na infância, quando visitava comunidade­s carentes.

Concluiu os estudos aos 18 anos, quando se tornou professora, mas optou pela vida religiosa. Ao se tornar freira, cerca de um ano depois, escolheu o nome em homenagem a sua mãe, que morreu quando ela tinha sete anos.

Desde sua morte, em 1992, é comum encontrar entre baianos medalhinha­s e quadros com o rosto da religiosa.

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Romildo de Jesus/Futura Press/Folhapress Missa em homenagem a Irmã Dulce, em Salvador, nesta terça (14)
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