Folha de S.Paulo

De cara no muro

- Bruno Boghossian

O partido do presidente se empenhou. Enquanto monarquist­as batiam boca com o movimento negro numa sessão alusiva à Lei Áurea, Eduardo Bolsonaro gravava tudo com o celular. O líder do PSL dançava, fazendo corações com as mãos, e o deputado da família real subia à tribuna para relativiza­r a escravidão e defender a princesa Isabel.

O governo Jair Bolsonaro se perde no meio de suas próprias cortinas de fumaça. O presidente e seus aliados insistem em buscar distrações absurdas para encobrir retrocesso­s reais e esconder o fato de que não conseguem levar adiante políticas públicas importante­s para o país.

No momento em que bolsonaris­tas se curvavam à realeza só para irritar ativistas rivais, o ministro da Educação defendia o congelamen­to de despesas nas universida­des e o presidente mantinha firme seu decreto que expandiu o porte de armas.

Sem enxergar o caminho pela frente, a turma do Palácio do Planalto bate de cara no muro. A equipe de Bolsonaro nem viu quando deputados articulara­m uma convocação relâmpago de Abraham Weintraub para explicar o bloqueio do orçamento das instituiçõ­es de ensino superior. A ida do ministro à Câmara no dia do protesto contra a política educaciona­l tende a desgastar o governo.

Nos últimos dias, o Congresso também se movimentou para modificar o ato de flexibiliz­ação das armas de fogo e trabalhou para retirar o Coaf das mãos de Sergio Moro.

Ao acumular derrotas, o bolsonaris­mo reclama que velhos políticos impedem o presidente de implantar o programa vitorioso nas urnas. Não consegue, porém, explicar um corte de gastos severo ou o sentido do decreto que formaliza o banguebang­ue. Também não conta aos eleitores que o governo mal se mexeu para defender a vontade de Moro.

Na última semana, Bolsonaro disse que alguns reveses são como “tsunamis”. Faltou dizer que, quando entra em brigas inúteis e leva o país por estradas perigosas, é ele quem provoca os terremotos que dão origem às ondas de devastação.

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