Brasileira reforça ideal de igreja missionária e próxima dos marginalizados
Ao reconhecer a baiana Irmã Dulce (1914-1992) como a primeira santa nascida no Brasil, o papa Francisco reforça um dos elementos mais presentes nas canonizações de seu pontificado: o papel de religiosos que se dedicavam a cuidar dos marginalizados, em especial nas regiões periféricas do mundo católico.
É o caso da recém-declarada santa, que pertencia a uma congregação ligada aos franciscanos (honrados, é claro, pelo próprio nome que o pontífice argentino adotou ao assumir o comando da Igreja Católica).
O mesmo vale para canonizações recentes de sacerdotes e freiras da Índia (o caso mais famoso é o de madre Teresa de Calcutá), da Palestina e da própria Argentina. A imprensa católica de língua inglesa chegou a apelidar a nova santa de “madre Teresa do Brasil”.
Isso não significa necessariamente que essas “candidaturas” à santidade tenham furado a longa fila de processos na Santa Sé.
A própria Irmã Dulce, por exemplo, teve seu primeiro milagre reconhecido ainda em 2003, durante o papado de João Paulo 2º, e foi beatificada pelo pontífice que o sucedeu, Bento 16, em 2011. O reconhecimento pelo Vaticano de um segundo milagre operado por intercessão dela acabou confirmando a canonização.
Em situações especiais, por outro lado, o papa pode dispensar a necessidade de um primeiro ou segundo milagre confirmados, por meio da chamada canonização equipolente. Foi o que permitiu que se reconhecesse a santidade do missionário jesuíta José de Anchieta (1534-1597), que nasceu na Espanha, mas se tornou uma das figuras mais veneradas dos primeiros séculos de catolicismo no Brasil.
Anchieta exemplifica outra constante das canonizações ocorridas sob Francisco: a importância dos religiosos que levaram a fé católica para locais distantes da Europa na Era das Navegações, o que, nos últimos anos, alçou aos altares figuras dos séculos 16 e 17 que pregaram para indígenas mexicanos, canadenses e americanos..
O conjunto das canonizações retrata bem o ideal que Francisco tem pregado para o catolicismo do século 21: uma Igreja próxima dos pobres, missionária e que não tema o martírio.