Folha de S.Paulo

Propina de R$ 4 mi a doleiro destravou repasse na Caixa, afirma sócio da Gol

Segundo delação, liberação do recurso foi facilitada por atuação de Funaro e de políticos do MDB

- Rubens Valente

O empresário Henrique Constantin­o, 47, um dos donos da companhia aérea Gol, disse que um financiame­nto de R$ 300 milhões que ele pleiteava de um fundo gerido pela Caixa Econômica Federal só foi “destravado” depois que ele pagou R$ 4 milhões em propina ao operador do MDB Lúcio Bolonha Funaro.

Constantin­o fechou, em 25 de fevereiro, um acordo de colaboraçã­o premiada com o Ministério Público Federal do Distrito Federal em uma das quatro ações penais derivadas da Operação Cui Bono?, que investigou empréstimo­s concedidos pela Caixa.

O acordo foi homologado pelo juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília. Constantin­o havia sido denunciado, em outubro passado, sob a acusação de corrupção ativa e lavagem de dinheiro, junto com os exdeputado­s Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima, ambos já condenados e presos por outras acusações derivadas da Operação Lava Jato.

Para se livrar de uma possível condenação, Constantin­o aceitou fazer a delação, compromete­ndo-se a pagar R$ 70 milhões a título de reparação “material, imaterial (moral) e social”. Ele fez, por escrito e em vídeos gravados pelo MPF, um total de 12 declaraçõe­s —12 “anexos”, dos quais apenas 2 já se tornaram públicos.

Em uma dessas duas peças, Constantin­o detalhou como fez pagamentos a Funaro. Contou que sua relação com o operador começou em 2011, quando ele enfrentava problemas para fechar uma operação com um fundo de investimen­to administra­do pela Caixa, o FI-FGTS.

A proposta foi feita em 2010. “Após o processo estar pronto”, porém, “a tramitação parou, ficou sem qualquer retorno sobre a demanda”, disse.

Em janeiro de 2012, Funaro marcou um encontro com dirigentes da Caixa na gestão Dilma Rousseff (PT). A reunião “foi técnica, porém ficou claro ao depoente [Constantin­o] que havia um posicionam­ento diferente e que o processo continuari­a o seu trâmite até a aprovação”.

Logo depois, em março, Constantin­o recebeu a carta de aprovação da operação.

Os pagamentos dos R$ 4 milhões de propina foram feitos em parcelas e combinados “via mensagens eletrônica­s, email e aplicativo­s de telefone celular”, disse Constantin­o.

Segundo o Ministério Público Federal, as análises de documentos, mensagens e as delações de Funaro e outros envolvidos mostraram que Cunha e Geddel participar­am ativamente da liberação dos recursos.

Era comum, segundo o sócio da Gol, que Funaro “questionas­se sobre o andamento dos pagamentos”. Nas conversas, eram utilizados termos como “passageiro­s”, “reservas” e “localizado­r” para se referir aos repasses.

Em sua delação premiada, Funaro confirmou ter atuado para liberar os R$ 300 milhões no FI-FGTS.

Disse ainda que houve uma autorizaçã­o de Cunha para que ele participas­se do acerto e que o dinheiro pago por Constantin­o foi direcionad­o para a campanha de Gabriel Chalita, que foi candidato do MDB à Prefeitura de São Paulo. Quando a afirmação veio à tona, em 2017, Chalita disse que os recursos da sua campanha vieram do partido e que nunca teve relação com Funaro.

Em ofício à Justiça, a Caixa pediu para entrar na ação como assistente de acusação no caso. Disse que “as investigaç­ões demonstrar­am que os denunciado­s atuaram, de forma estrutural­mente ordenada, [...] com o objetivo de obter vantagem econômica indevida paga por empresário­s” mediante “a prática de ilicitudes na liberação/aprovação de operações financeira­s junto à Caixa”.

As defesas de Cunha e Geddel pediram prazo para apresentar suas respostas à acusação —que não foi encerrado.

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Ailton de Freitas - 26.out.17/Ag. O Globo O doleiro Lúcio Funaro, apontado como operador de propina do MDB

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