Bolsonaro terá agenda esvaziada no Texas
Em jantar em NY ao qual o presidente desistiu de ir, anfitrião defende brasileiro e diz que o homenageará em Dallas
Às 18h35 do dia 8 de maio, convidados do jantar de gala que homenagearia Jair Bolsonaro em Nova York receberam um email com o aviso de três cancelamentos.
Assinada pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, a mensagem dizia que um café da manhã, um almoço e uma palestra no meio da tarde da segunda (13) não aconteceriam mais.
O motivo era bastante simples: o presidente brasileiro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, protagonistas desses encontros, não estariam em Nova York.
Cinco dias antes, o Planalto havia anunciado que Bolsonaro desistira da viagem após pressão de ativistas e políticos nos EUA, inclusive do prefeito nova-iorquino, o democrata Bill de Blasio.
Menos de 24 horas depois do primeiro email, novo recado aos convidados. “Por favor, desconsiderem a mensagem anterior sobre o cancelamento do almoço promovido pelo Bank of America no dia 13 de maio. Ele ainda está agendado para o meio-dia”.
Outro lembrete: o jantar que celebraria o prêmio “Pessoa do Ano” também seguia marcado para esta terça (14) em Nova York, apesar de que Bolsonaro já estava articulando uma viagem a Dallas, no Texas, a pelo menos três horas de avião dali.
Entre duas enormes bandeiras do Brasil e dos EUA estendidas ao lado do palco, Alexander Bettamio, presidente da Câmara de Comércio Brasil-EUA, fez o desabafo e o anúncio: “Esta noite, de fato, é completamente diferente do que foi planejado, mas estamos aqui, de casa cheia”, afirmou, sob aplausos da plateia de cerca de mil pessoas.
O jantar num hotel em Nova York acabou por ser um desagravo a Bolsonaro, muito aplaudido quando Bettamio anunciou que o presidente não compareceria ao jantar “após manifestações de intolerância”, mas que deve receber o prêmio na quinta-feira (16), em um almoço em Dallas.
Desde a semana passada, o Itamaraty tenta fechar às pressas uma agenda no Texas, estado historicamente conservador, para que o presidente possa se encontrar com empresários e políticos livre de protestos — no entanto, grupos ligados às causas LGBT, mulheres e negros organizam manifestações contra ele.
Bolsonaro queria mostrar que tem respaldo nos EUA, mas a desorganização do governo e do evento —e a ausência do presidente e de seu superministro em Nova York— acabou irritando investidores e aliados americanos.
Eles haviam gastado entre US$ 1.500 e US$ 2.500 (cerca de R$ 6.000 a R$ 10 mil) nos ingressos para o jantar de gala e esperavam ouvir o discurso liberal de Guedes nos eventos que ocorrem durante a semana da premiação.
Agora, quem quisesse encontrá-los teria que ir a Dallas para um almoço promovido pelo World Affairs Council, na quinta (16), único evento público confirmado oficialmente até as vésperas da chegada do presidente.
O Itamaraty também tentou que Bolsonaro se encontrasse com o senador republicano Ted Cruz e o ex-presidente George W. Bush, mas só a segunda reunião estava na agenda antes do embarque da comitiva.
Bush foi contemporâneo do ex-presidente Lula na Presidência e tinha boa relação com o líder petista.
O ex-presidente dos EUA é hoje, no Partido Republicano, um dos nomes mais críticos ao presidente Donald Trump, com quem Bolsonaro quer manter um alinhamento automático em diversas áreas.
Enquanto não viam uma agenda concreta ser desenhada em Dallas, muitos empresários desistiram de ir ao jantar de gala em Nova York —e nem pensaram em viajar ao Texas.
Na cidade para palestras e encontros com investidores, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), havia recebido de três empresários diferentes convite para jantar nesta terça.
Fizeram o deputado rever sua presença no jantar de gala. Dois dias antes, Maia cancelou a participação. Compareceram ao evento os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.
Enquanto isso, a Embaixada do Brasil nos EUA agia para tentar levar nomes relevantes, pelo menos do lado americano. O ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani foi convidado, mas alegou que estava em viagem.
Bolsonaro chega nesta quarta (15) a Dallas para uma agenda de pouco mais de 24 horas, acompanhado por Guedes, Ernesto Araújo (Itamaraty) e outros ministros.
O governador de São Paulo, João Doria, encontrará o presidente já no Texas. Com pretensões de disputar o Planalto em 2022, Doria tentou assumir o protagonismo nos eventos de Nova York.