Guarda chavista cerca prédio e impede sessão de Assembleia opositora
Os deputados venezuelanos amanheceram alarmados nesta terça-feira (14) ao receberem a notícia, vinda do subsecretário da Assembleia Nacional, Roberto Campos, de que 15 agentes do Sebin, o serviço de inteligência bolivariano, estariam desde as primeiras horas do dia dentro do Palácio Legislativo, investigando uma suposta ameaça de bomba.
O funcionário administrativo do Parlamento também alertou, por volta das 7h (8h no Brasil), a chegada de um grande contingente de oficiais da Guarda Nacional Bolivariana, que cercou a entrada do edifício. As sessões costumam começar às 10h.
Jornalistas locais logo constataram que o cerco impedia funcionários e legisladores de entrar no palácio.
Isso ocorre com certa frequência desde que a Assembleia Nacional, de maioria opositora à ditadura de Nicolás Maduro, tenta manter suas sessões regulares. Os encontros costumam ocorrer nos dias em que a Assembleia Constituinte, ligada ao regime, não tem expediente.
Nesta terça, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela pediu à Assembleia Constituinte que retire a imunidade de quatro deputados da Assembleia Nacional: Miguel Alejandro Pizarro Rodríguez, Carlos Alberto Paparoni Ramírez, Winston Eduardo Flores Gómez e Franco Manuel Casella —este último buscou refúgio na embaixada do México em Caracas após o anúncio.
Eles são acusados de delitos de “traição à pátria, conspiração, instigação e insurreição, rebelião civil, organização para delinquir, usurpar funções e desobediência das leis” os
Horas depois, a Assembleia Constituinte anunciou a retirada da imunidade parlamentar de Pizarro e Paparoni, além de Freddy Superlano, Sergio Vergara e Juan Andrés Mejía. Pizarro é uma das figuras que fazem o elo entre Juan Guaidó —o autoproclamado presidente interino—, a ONU e outros países.
As mesmas acusações foram utilizadas pelo Supremo na semana anterior para solicitar a retirada do foro especial de outros dez parlamentares opositores, entre eles o vice-presidente da Assembleia Nacional, Edgar Zambrano, que foi preso por agentes do Sebin.
Em entrevista coletiva na tarde desta terça, Guaidó afirmou que o cerco não resolvia os problemas do país. “Não iremos produzir mais petróleo, não vão aparecer mais remédios nem comida; este é um regime que não governa, apenas resiste.”
Guaidó afirmou, ainda, que na quarta (15) haverá sessão da Assembleia Nacional, porque é a “única instância democrática [da Venezuela] reconhecida pelo mundo”.
Em ocasiões em que foi vetada a entrada dos deputados da Assembleia Nacional no edifício, eles realizaram as sessões em outros locais ou mesmo por meio de aplicativos de mensagens.
Há uma semana, quando compareceram à sessão regular das terças, os deputados foram cercados por jornalistas dos meios governistas, que intimidaram Guaidó e outros parlamentares chamando-os de golpistas e de traidores.
Neste ano, é a terceira vez que a Guarda Nacional cerca o prédio. A primeira foi em 5 de janeiro, quando a Assembleia votaria em Guaidó como novo presidente da Casa e cinco dias antes da posse do novo mandato de Maduro.