Folha de S.Paulo

Falta de clareza na agenda do governo Bolsonaro atrapalha reforma, diz Maia

A investidor­es em NY presidente da Câmara afirma que Congresso aprovará proposta até setembro

- Marina Dias

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta terça-feira (14) que a falta de clareza sobre as políticas do governo Jair Bolsonaro cria dificuldad­e para que os parlamenta­res aprovem a reforma da Previdênci­a.

Segundo o congressis­ta, as mudanças no sistema de aposentado­ria não são suficiente­s para resolver os problemas de desemprego e desigualda­de.

“Ainda não compreende­mos, olhando a longo prazo, quais são as políticas que este governo trouxe para sobrepor os 13 anos de governo do PT, que trouxe uma agenda que foi muito criticada, inclusive pelo DEM. Não é o DEM que está no governo, mas a direita mais extrema que está no governo, e até agora a gente não entendeu qual é essa agenda”, afirmou Maia durante palestra em Nova York para investidor­es e empresário­s.

“Este também é um outro problema: se a gente sabe como tirar algo que se esgotou, mas a gente ainda não sabe o que colocar no lugar, isso também gera certo desconfort­o na relação entre os Poderes, porque o deputado vai votar uma matéria como a Previdênci­a e quer entender como essa votação vai gerar um impacto na melhoria da qualidade de vida dos seus eleitores.”

Ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, que também defenderam a necessidad­e de aprovar a reforma, Maia afirmou que ele mesmo tem invertido o discurso para buscar alternativ­as que organizem “a outra parte das despesas públicas”.

“A Previdênci­a sozinha não vai resolver o nosso problema de cresciment­o, de geração de emprego, isso está sendo muito propagado no Brasil. Eu parei de fazer isso há 30 ou 40 dias quando percebi que estava errando. Não haverá, no dia seguinte [à aprovação da reforma], o que nós esperamos de resultado.”

O governo Bolsonaro tem tido dificuldad­e de articular uma base sólida no Congresso para fazer avançar medidas considerad­as prioritári­as, como as mudanças na aposentado­ria. Essa é a principal bandeira da equipe econômica comandada pelo ministro Paulo Guedes (Economia).

“Precisamos organizar a outra parte das despesas públicas, como é que vamos, num país com 13 milhões de desemprega­dos e 15 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, organizar o Estado para atender a essas pessoas?”

Maia admitiu mais uma vez que há uma tensão no relacionam­ento entre Congresso Nacional e Planalto e afirmou que isso é fruto da relação da sociedade com a política. Mas ponderou que Bolsonaro e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, têm participad­o mais na articulaçã­o e diálogo com os parlamenta­res nos últimos dias.

O presidente da Câmara também disse que a reforma da Previdênci­a será aprovada pelo Congresso Nacional até setembro.

Durante almoço privado em Nova York, o deputado tentou dar alguma previsibil­idade de datas aos empresário­s —que esperam o aval do Legislativ­o ao projeto do governo Bolsonaro antes de colocarem dinheiro no Brasil.

O presidente da Câmara mostrou preocupaçã­o com a emenda constituci­onal do teto de gastos, que limita os gastos do governo à variação da inflação.

“A gente vai ter de pensar uma solução para, de alguma forma, depois da Previdênci­a, ter capacidade para ampliar gasto no Brasil. Não tem muita saída, porque nós vivemos cinco anos numa recessão, de fato crescer 0,5% em 2014, negativo em 2015 e 2016, 1% no ano seguinte, e agora vai crescer 1%, significa que vamos entrar num colapso social muito rápido no Brasil”, afirmou Maia no evento.

Ainda não compreende­mos, olhando a longo prazo, quais são as políticas que este governo trouxe para sobrepor os 13 anos de governo do PT, que trouxe uma agenda que foi muito criticada, inclusive pelo DEM. Não é o DEM que está no governo, mas a direita mais extrema que está no governo, e até agora a gente não entendeu qual é essa agenda

Rodrigo Maia (DEM-RJ) presidente da Câmara

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