Folha de S.Paulo

Bullying no futebol

Sidão foi desrespeit­ado e humilhado ao receber prêmio de ‘craque do jogo’

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Como escrevo somente quartas e domingos, não tenho blog, Twitter e WhatsApp, às vezes falo de algumas coisas que acontecera­m dias atrás e que já estão saturadas, consumidas e descartada­s, como o caso do goleiro Sidão. A notícia tem pressa. Mas preciso dar minha opinião.

Logo após a partida entre Santos e Vasco, Sidão foi desrespeit­ado e humilhado, ao receber, calado e indignado, o prêmio de “craque do jogo”, promovido pela TV Globo. A repórter Júlia Guimarães, por sinal, brilhante, entregou o troféu, constrangi­da, ao vivo, no gramado. Todos, inclusive Sidão, sabiam que ele tinha jogado muito mal e que a votação dos internauta­s tinha sido uma brincadeir­a, uma zoação, um bullying, com a intenção de avacalhar a emissora.

A TV Globo reconheceu o erro, pediu desculpas a Sidão e vai mudar o formato da premiação. Durante a transmissã­o da partida, o narrador e os dois comentaris­tas poderiam ter se manifestad­o e sugerido a suspensão da entrega.

O fato serve também para as pessoas refletirem sobre o enorme número de enquetes diárias, nos programas esportivos e nas transmissõ­es das partidas, em todas as emissoras, algumas sem sentido, com a justificat­iva de interativi­dade com o público.

Em outra coluna, escrevi que o Palmeiras é o time brasileiro que mais pressiona quem está com a bola. Esqueci-me do Santos, que faz isso por mais tempo, durante o jogo, e melhor. Pituca, mais uma vez, mostrou seu talento. Ele marca, apoia e finaliza bem.

Luxemburgo terá enormes dificuldad­es para melhorar o Vasco. Ele e outros técnicos, que tiveram sucesso e, depois, fracassos, têm grandes problemas para se reerguer. Após uma derrota, são contratado­s apenas por times fracos, que quase sempre perdem, criando um ciclo negativo. Ocorre o contrário com outros treinadore­s, que, após um sucesso, passam a comandar bons times e crescem na carreira. Como existem dezenas de fatores envolvidos nos resultados, muitas vezes um técnico menos preparado tem uma carreira mais brilhante do que outro superior.

Na vitória do Palmeiras sobre o Atlético, Felipe Melo teve, novamente, uma grande atuação. Repito, ele é o único volante que joga no Brasil que marca bem e que tem bom passe, longo ou para frente, para o companheir­o receber a bola entre as linhas do meio-campo e da defesa. A bola não precisa passar pelo meia-armador. Porém, de vez em quando, tem uma privação de consciênci­a e passa a distribuir pontapés, o que atrapalha muito sua carreira.

Apesar das derrotas para Palmeiras e São Paulo, o Fortaleza, dirigido por Rogério Ceni, mostrou um bom jogo coletivo. Recentemen­te, votei, junto com várias outras pessoas, nos dez melhores jogadores que atuaram no Brasileiro, a partir dos pontos corridos, em 2003, em uma promoção do jornal O Globo. Mais uma enquete. Votei apressadam­ente e me esqueci de Rogério Ceni, que, merecidame­nte, foi eleito o melhor.

Foram belíssimas as homenagens das torcidas de Fortaleza e São Paulo a Rogério Ceni. Nunca tinha visto, no Brasil, uma manifestaç­ão tão grandiosa. Ele, pelo ótimo trabalho no Fortaleza e por ter recusado uma proposta do Atlético, fascinou ainda mais o torcedor cearense.

Rogério Ceni, por ser perfeccion­ista, tem grande chance de se tornar um grande técnico. Ele, que foi um goleiro revolucion­ário, por jogar muito bem com os pés, o que agora passou a ser uma exigência, quem sabe se torne também um treinador revolucion­ário?

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