‘Chernobyl’ serve não apenas como reflexão política, mas também como obra de horror
Chernobyl Sexta, às 21h, na HBO. Disponível também na plataforma HBO Go
Ninguém espera que uma minissérie chamada “Chernobyl” tenha momentos divertidos. O tom sombrio é estabelecido já na cena de abertura, que se passa no segundo aniversário do maior acidente nuclear da história.
Depois de gravar um testemunho incriminador, o químico Valery Legasov (Jared Harris) se suicida. Quem acompanha a carreira do ator vai lembrar que o personagem verídico tem o mesmo fim que o Lane Pryce da série “Mad Men”, o papel que consagrou Harris: morte por enforcamento.
Como um homem que sequer estava perto da cidade onde explodiu uma usina chegou a tal ponto? A ação volta então ao momento exato de 1986, quando os técnicos no plantão noturno em Chernobyl percebem que havia algo muito errado na usina nuclear.
O que se segue é digno de um filme B de terror. Os funcionários da usina começam a sentir um gosto metálico na boca. Alguns sangram pelos poros do rosto. Um deles vomita sangue e cai ao chão.
O pânico se instala, mas logo encontra um obstáculo poderoso: a incredulidade. “Isso é impossível de acontecer”, repetem cientistas e burocratas de vários escalões. A confiança na tecnologia soviética faz com que eles duvidem do que estão vendo.
O roteiro de “Chernobyl” reúne subtramas baseadas em pessoas reais, como o bombeiro que foi apagar o incêndio e deixou a mulher aflita em casa ou a médica preocupada porque o hospital em que trabalha não tem pílulas de iodo no estoque. Saber que esses dramas não têm nada de ficcional aumenta o impacto.
A melhor sequência do primeiro episódio acontece durante uma reunião de dirigentes sobressaltados. Um deles, membro sênior do Partido Comunista, determina que a cidade seja cercada pelo exército. Ninguém entra, ninguém sai. Telefones e outros meios de comunicação com o mundo exterior serão cortados. Todos aplaudem.
É então que fica claro quem é o verdadeiro vilão da minissérie. Não é a fatalidade nem mesmo a incompetência humana. É a cegueira ideológica. Fica a dica para aqueles que seguem aferrados a teorias sem respaldo na realidade, mesmo quando elas se revelam extraordinariamente equivocadas.
“Chernobyl”, a série, será muito lembrada na próxima temporada de prêmios. Não é o programa mais indicado para quem quer se distrair, mas funciona tanto como reflexão política quanto como obra de horror.