Nossa realidade é que estamos no fundo do poço
Governo confirma que vai revisar para baixo previsão de crescimento, com novos cortes no Orçamento; setor de serviços encolhe no trimestre
Paulo Guedes no Congresso, ao confirmar queda na projeção do crescimento para 1,5%
Em meio à redução de estimativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, nesta terça-feira (14), que a economia brasileira está no “fundo do poço”.
Conforme a Folha publicou nesta terça, a equipe econômica prepara uma revisão de alta do PIB em 2019, prevendo uma expansão de 1,5% a 2%.
O anúncio deve ser feito no dia 22, quando o governo apresentará uma reavaliação da expectativa de receita e de despesas para 2019. No relatório anterior, de março, a perspectiva era de 2,2% de crescimento.
Bancos estão ainda mais pessimistas e já estimam um crescimento na casa de 1%.
Diante do menor crescimento, menos recursos entram nos cofres públicos. Por isso, também deve ser anunciado um corte na programação de gastos.
“Vocês vão ver que o crescimento, que era de 2% quando eles fizeram as primeiras simulações, já caiu para 1,5%. Quando cai para 1,5%, as receitas são menores ainda, e aí já começam os planejamentos de contingenciamentos de verbas. Já começam as trajetórias futuras de despesas a serem apertadas”, disse Guedes, ressaltando que, desde o começo do governo, as projeções da equipe econômica e do mercado estão alinhadas.
O ministro, no entanto, não deixou claro que essa será a revisão a ser anunciada formalmente no dia 22.
“Independentemente de os mercados quererem que as coisas aconteçam rapidamente, nossa realidade é que estamos no fundo do poço. Está nas mãos da Casa nos tirar do fundo do poço com equacionamento fiscal”, afirmou o ministro, que compareceu à Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.
A revisão da expansão do PIB foi confirmada pelo secretário especial da Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues Júnior.
“Essa [projeção de] 2,2% vai ser revisada; vai ser menor do que 2%, porque a economia não responde à altura”, disse o secretário. Ele estima que o contingenciamento de gastos será bem menor que os R$ 30 bilhões anunciados em março.
A revisão do crescimento deve representar um bloqueio de até R$ 10 bilhões.
Rodrigues Júnior declarou ainda que a equipe econômica tem estudado medidas para estimular a economia.
“Temos ferramentas e ações que podem fazer com que a economia reaja intensamente de maneira rápida de forma a termos outra avaliação desses parâmetros.”
Na comissão, Guedes disse nunca ter achado que “a coisa ia ser fácil” e que via com ceticismo a possibilidade de crescimento de 2,5% da economia brasileira neste ano.
À comissão do Congresso Guedes e seus secretários buscam explicar os parâmetros econômicos que usaram em suas projeções para a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e responder a questionamentos dos parlamentares presentes.
Segundo o ministro, as premissas para a economia neste ano foram superadas “desfavoravelmente” em relação às projeções feitas em março.
“Quando chegou o governo novo, havia expectativas de que as reformas tivessem uma certa rapidez e já se estava antecipando uma forte recuperação econômica. Então o Brasil já estaria crescendo 2,5%, 2,7%. Isso nos números dos mercados, da equipe”, afirmou. “Eu sempre olhei para isso com um pouco mais de ceticismo.”
Nesta terça-feira (14), o IBGE divulgou que o volume de serviços do Brasil foi pressionado pela atividade de informação e comunicação em março e quebrou uma sequência de dois trimestres positivos com contração nos três primeiros meses deste ano, ampliando o cenário de economia fraca no início de 2019.
O primeiro trimestre encerrou com contração de 0,6% sobre os três meses anteriores, depois de ganhos de 1% e 0,6%, respectivamente, nos terceiro e quarto trimestres de 2018.