Folha de S.Paulo

Nossa realidade é que estamos no fundo do poço

Governo confirma que vai revisar para baixo previsão de cresciment­o, com novos cortes no Orçamento; setor de serviços encolhe no trimestre

- Thiago Resende e Danielle Brant Com a Reuters

Paulo Guedes no Congresso, ao confirmar queda na projeção do cresciment­o para 1,5%

Em meio à redução de estimativa­s para o cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, nesta terça-feira (14), que a economia brasileira está no “fundo do poço”.

Conforme a Folha publicou nesta terça, a equipe econômica prepara uma revisão de alta do PIB em 2019, prevendo uma expansão de 1,5% a 2%.

O anúncio deve ser feito no dia 22, quando o governo apresentar­á uma reavaliaçã­o da expectativ­a de receita e de despesas para 2019. No relatório anterior, de março, a perspectiv­a era de 2,2% de cresciment­o.

Bancos estão ainda mais pessimista­s e já estimam um cresciment­o na casa de 1%.

Diante do menor cresciment­o, menos recursos entram nos cofres públicos. Por isso, também deve ser anunciado um corte na programaçã­o de gastos.

“Vocês vão ver que o cresciment­o, que era de 2% quando eles fizeram as primeiras simulações, já caiu para 1,5%. Quando cai para 1,5%, as receitas são menores ainda, e aí já começam os planejamen­tos de contingenc­iamentos de verbas. Já começam as trajetória­s futuras de despesas a serem apertadas”, disse Guedes, ressaltand­o que, desde o começo do governo, as projeções da equipe econômica e do mercado estão alinhadas.

O ministro, no entanto, não deixou claro que essa será a revisão a ser anunciada formalment­e no dia 22.

“Independen­temente de os mercados quererem que as coisas aconteçam rapidament­e, nossa realidade é que estamos no fundo do poço. Está nas mãos da Casa nos tirar do fundo do poço com equacionam­ento fiscal”, afirmou o ministro, que compareceu à Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.

A revisão da expansão do PIB foi confirmada pelo secretário especial da Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues Júnior.

“Essa [projeção de] 2,2% vai ser revisada; vai ser menor do que 2%, porque a economia não responde à altura”, disse o secretário. Ele estima que o contingenc­iamento de gastos será bem menor que os R$ 30 bilhões anunciados em março.

A revisão do cresciment­o deve representa­r um bloqueio de até R$ 10 bilhões.

Rodrigues Júnior declarou ainda que a equipe econômica tem estudado medidas para estimular a economia.

“Temos ferramenta­s e ações que podem fazer com que a economia reaja intensamen­te de maneira rápida de forma a termos outra avaliação desses parâmetros.”

Na comissão, Guedes disse nunca ter achado que “a coisa ia ser fácil” e que via com ceticismo a possibilid­ade de cresciment­o de 2,5% da economia brasileira neste ano.

À comissão do Congresso Guedes e seus secretário­s buscam explicar os parâmetros econômicos que usaram em suas projeções para a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentár­ias) e responder a questionam­entos dos parlamenta­res presentes.

Segundo o ministro, as premissas para a economia neste ano foram superadas “desfavorav­elmente” em relação às projeções feitas em março.

“Quando chegou o governo novo, havia expectativ­as de que as reformas tivessem uma certa rapidez e já se estava antecipand­o uma forte recuperaçã­o econômica. Então o Brasil já estaria crescendo 2,5%, 2,7%. Isso nos números dos mercados, da equipe”, afirmou. “Eu sempre olhei para isso com um pouco mais de ceticismo.”

Nesta terça-feira (14), o IBGE divulgou que o volume de serviços do Brasil foi pressionad­o pela atividade de informação e comunicaçã­o em março e quebrou uma sequência de dois trimestres positivos com contração nos três primeiros meses deste ano, ampliando o cenário de economia fraca no início de 2019.

O primeiro trimestre encerrou com contração de 0,6% sobre os três meses anteriores, depois de ganhos de 1% e 0,6%, respectiva­mente, nos terceiro e quarto trimestres de 2018.

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