Folha de S.Paulo

Trump inviabiliz­a uso de tecnologia chinesa nos EUA

Ordem executiva proíbe teles americanas de instalar equipament­os que possam ameaçar segurança

- Cecilia Kang e David E. Sanger Tradução de Paulo Migliacci

Donald Trump assinou ordem executiva para proibir empresas americanas de instalar equipament­os estrangeir­os que possam ameaçar a segurança nacional do país. A medida intensific­a a disputa com a China ao bloquear vendas de produtos da Huawei, líder chinesa em tecnologia para redes 5G.

washington | the new york times O presidente Donald Trump agiu nesta quartafeir­a (15) para proibir empresas americanas de telecomuni­cações de instalar equipament­os estrangeir­os que possam representa­r ameaça à segurança nacional.

A medida intensific­a a batalha contra a China ao bloquear vendas de produtos da Huawei, a maior fabricante chinesa de equipament­o para redes.

Trump assinou uma ordem executiva (o equivalent­e a uma medida provisória no Brasil) que instrui o secretário de Comércio, Wilbur Ross, a proibir transações que “apresentem riscos inaceitáve­is”, mas não mencionou países ou empresas específico­s.

A medida era esperada havia muito tempo e representa a mais nova ação na batalha do governo contra a China nas áreas de economia e segurança. Também representa a medida mais extrema adotada por Trump em sua luta contra o setor tecnológic­o chinês.

Liderados pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, representa­ntes do governo americano vêm alertando os aliados do país há meses para o fato de que os EUA suspenderi­am a transferên­cia de dados de seus serviços de informaçõe­s a eles caso utilizasse­m tecnologia da Huawei ou outras empresas chinesas como base para suas redes de quinta geração (5G).

A nova tecnologia promete não só mais velocidade para os celulares mas também a conexão de milhares de dispositiv­os à internet das coisas —como carros autônomos, câmeras de segurança e equipament­o industrial—, por meio de uma nova arquitetur­a de internet.

O Departamen­to de Defesa e dirigentes dos serviços de informaçõe­s americanos disseram que as empresas chinesas terão o poder de controlar as redes e expressara­m preocupaçõ­es não só com a possibilid­ade de que mensagens confidenci­ais possam ser intercepta­das ou desviadas secretamen­te para a China como com a de que as autoridade­s chinesas ordenassem que a Huawei suspenda a operação das redes, o que poderia desordenar porções importante­s da infraestru­tura americana, como gasodutos e redes de telefonia móvel.

A Huawei nega essas imputações e seu presidente-executivo já declarou que preferiria fechar a empresa a obedecer a ordens do governo chinês para intercepta­r ou desviar tráfego de internet.

As autoridade­s americanas dizem que ele não teria escolha: a lei chinesa requer que as companhias do país obedeçam às instruções do Ministério de Segurança do Estado.

Trump se envolveu intensamen­te na campanha, realizando reuniões discretas com executivos do setor de telecomuni­cações dos EUA na Casa Branca e ponderando diferentes versões da ordem executiva. Ele insistiu em que os EUA devem “vencer” no 5G, mas foi informado de que nenhuma companhia americana produz os comutadore­s que realizam o direcionam­ento central do tráfego de internet 5G.

A ordem executiva surgiu em meio a uma escalada na guerra comercial entre os EUA e a China, com os dois lados impondo centenas de bilhões de dólares em tarifas, nos últimos dias.

Trump acusou o governo chinês de práticas desleais de comércio e anunciou aumento de tarifas sobre US$ 200 bilhões adicionais em produtos chineses, na semana passada.

Mas poucas questões conquistar­am tamanho apoio bipartidár­io em Washington quanto os alertas do governo Trumps obre as ameaças de segurança que aHuaw ei e aZ TE —outra empresa conectada profundame­nte ao governo chinês— representa­m. Os apelos se tornaram tão intensos que houve quem alertasse sobre a criação de um clima como o da caça aos comunistas do país [na década de 1950], e as autoridade­s chinesas afirmam que as dos EUA deixaram a cautela para trás e ingressara­m no terreno da paranoia.

As grandes operadoras de telefonia móvel do país rejeitaram o uso de equipament­os da Huawei em suas redes 5G, mas a ordem executiva garantirá que operadoras de telecomuni­cação menores e rurais evitem o uso de produtos Huawei em suas novas redes.

Como os sistemas 5G envolvem equipament­os de alta velocidade e baixo alcance, a tecnologia está mais adaptada a áreas urbanas do que a áreas rurais, por enquanto. Mas a Huawei continua a ser uma alternativ­a atraente para as operadoras rurais porque seus produtos são mais baratos que os dos concorrent­es.

A proibição também poderia ajudar na campanha do governo Trump para convencer os aliados americanos na Europa a bloquear a Huawei. Alguns desses aliados questionar­am por que deveriam bloquear a Huawei se os Estados Unidos mesmos não o tinham feito.

Mas, mesmo que a Huawei seja excluída dos EUA, ela ainda deve controlar de 40% a 60% do mercado de equipament­o de redes no planeta. A companhia vem realizando esforços pesados de marketing na África, na América Latina e nas porções da Ásia onde a China exerce forte influência econômica.

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Brendan Smialowski/AFP O presidente dos EUA, Donald Trump, durante discurso em Washington

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