Folha de S.Paulo

Jair Bolsonaro conhece a fórmula de fazer água

- Roberto Dias

Jair Bolsonaro conhece algumas fórmulas, talvez até a da água.

Uma que ele agora demonstra dominar é a fórmula para determinar o nível intelectua­l dos opositores. É um teste simples —trata-se de tomar tabuada, mais especifica­mente a multiplica­ção de 7 por 8.

Poderia se resumir a uma grosseria, mas acaba sendo mais do que isso. Expressa por quem nomeou um ministro da Educação que se atrapalha com a ortografia, a fórmula do presidente provavelme­nte resultará negativa se aplicada a seu governo.

O que só faria confirmar outra fórmula, essa levada ao estado da arte por Bolsonaro: a de acertar tiros no casco de seu próprio navio.

Ele conseguiu soterrar um debate legítimo (as universida­des públicas são eficientes?) com uma sucessão de bobagens que, agrupadas, produziram imagens de protesto na rua, país afora, da avenida Paulista à fronteira com a Colômbia. Nem os tuítes de Olavo de Carvalho tinham derivada tão alta.

Para atacar a educação, o governo recorreu a outra fórmula que conhece como ninguém, a das metáforas. Até Onyx Lorenzoni aprendeu: disse que cortar nas universida­des é como economizar para comprar um vestido de festa.

Bolsonaro, aqui, trocou as variáveis. Deixou de lado as metáforas casamentei­ras e mirou logo o estômago. Talvez por não considerar que o investimen­to na educação seja algo assim, digamos, essencial, ele e Abraham Weintraub decidiram comparálo ao gasto com chocolates.

A cena de apresentaç­ão da metáfora diz muito sobre o governo. Para defender o contingenc­iamento, o ministro discorreu sobre a importânci­a de, em determinad­os momentos, guardar o chocolate para comer depois. “Deixa para depois de setembro, segura um pouco”, afirmava ele. Bolsonaro não esperou setembro chegar. Enquanto o ministro falava, o presidente já mastigava o pedaço que enfiara correndo na boca. As fórmulas teatrais acabam por contar mais do que o escrito no roteiro.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil