Folha de S.Paulo

Insatisfaç­ão com governo cresce entre deputados

Até parlamenta­res alinhados à agenda de Bolsonaro passam a criticar presidente e ministros

- Bruno Boghossian e Angela Boldrini Luis Macedo/ Câmara dos Deputados

Choques entre o governo Jair Bolsonaro e o Congresso engrossara­m o grupo de deputados insatisfei­tos. Parlamenta­res que apoiam a agenda do presidente criticam o comportame­nto de auxiliares.

Derrotas em série no Legislativ­o consolidar­am um ambiente desfavoráv­el, e a equipe de articulaçã­o política já admite que a tropa de defesa do presidente é insuficien­te.

Os choques entre o governo Jair Bolsonaro (PSL) e o Congresso engrossara­m o grupo de deputados insatisfei­tos com o Palácio do Planalto. Até parlamenta­res que apoiam a agenda do presidente passaram a criticar o comportame­nto de seus auxiliares.

O ambiente hostil preocupou o governo em um momento-chave, com a ida do ministro Abraham Weintraub (Educação) ao plenário da Câmara, nesta quarta-feira (15), para explicar cortes no orçamento de sua pasta.

Derrotas em série sofridas no Congresso consolidar­am um ambiente desfavoráv­el para Bolsonaro, e integrante­s da equipe de articulaçã­o política do Planalto admitem que a tropa de defesa do presidente é insuficien­te.

O governo ainda não conseguiu formar uma base parlamenta­r sólida. Com mais de três meses do novo Congresso, o PSL é o único partido que oficialmen­te faz parte do apoio ao presidente.

Isso faz com que a base constante de Bolsonaro seja formada por 54 parlamenta­res. Já o bloco da maioria, conhecido como centrão, possui mais de 200 parlamenta­res.

O grupo é formado, principalm­ente, por PP, PR, PSD, PTB e PRB.

A votação que aprovou a convocação de Weintraub, na terça (14), foi articulada justamente por líderes do centrão, mas aglutinou deputados de quase todos os partidos.

Embora a oposição tenha protagoniz­ado os embates mais duros com o ministro na sabatina, parlamenta­res de centro também engrossara­m as críticas à política educaciona­l do governo.

O conflito provoca divisões dentro do próprio time de Jair Bolsonaro. Aliados atribuem as derrotas e a convocação do ministro a críticas feitas aos partidos pelo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO).

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso, procurou Bolsonaro e pediu que Vitor Hugo seja removido do posto. A parlamenta­r disse que os comentário­s feitos por seu colega e a falta de articulaçã­o estavam “matando o governo”.

A escalada da crise ocorre na semana em que o presidente da Câmara está em uma missão oficial nos Estados Unidos. Rodrigo Maia (DEM-RJ) se equilibrav­a entre a defesa dos parlamenta­res e a tentativa de construir pontes com o Poder Executivo.

Nos últimos dias, porém, o aborrecime­nto se espalhou e atingiu até pequenas siglas, que foram recebidas por Bolsonaro na terça-feira (14).

Parlamenta­res atacaram o governo federal depois que Joice chamou de “boato barato” a informação divulgada por esses partidos de que o presidente havia suspendido o corte na educação.

Capitão Wagner (Pros-CE), que disse ter votado em Bolsonaro nos dois turnos da eleição, foi à tribuna da Câmara e afirmou que havia presenciad­o o momento em que o presidente havia ordenado o cancelamen­to do bloqueio.

“Se o governo não sustenta o que o presidente falou na frente de 12 parlamenta­res, não sou eu que vou passar por mentiroso”, declarou.

A temperatur­a do conflito também subiu na reunião de líderes partidário­s na tarde de terça. Deputados do PSL disseram que o centrão tentava “extorquir” algo do governo. Parlamenta­res reagiram e ameaçaram levar os aliados de Jair Bolsonaro ao Conselho de Ética.

Nesta quarta, Joice criticou deputados do próprio partido e afirmou que a gestão Bolsonaro terá que recomeçar a construção de sua base.

“Não se pode tratar de maneira hostil, grosseira, o grupo que tem mais de 200 parlamenta­res quando você quer aprovar uma reforma da Previdênci­a que precisa de 308 parlamenta­res”, afirmou.

A convocação de Weintraub foi apenas o mais recente capítulo nos desgastes que o Congresso tem imposto ao Planalto em quatro meses.

Na comissão especial mista que analisa a aprovação da MP 870, de reestrutur­ação ministeria­l do presidente, o governo sofreu uma derrota na semana quando os parlamenta­res decidiram pela retirada do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) da pasta da Justiça, com a transferên­cia do órgão para o Ministério da Economia.

Antes disso, em fevereiro, o Congresso impôs a primeira derrota ao governo no plenário ao votar pela derrubada do decreto que mudava as regras da Lei de Acesso à Informação. Com o revés, Bolsonaro revogou a norma —que alterava a aplicação da LAI e permitia que ocupantes de cargos comissiona­dos da gestão, em muitos casos sem vínculo permanente com a administra­ção pública, pudessem classifica­r dados do governo federal como informaçõe­s ultrassecr­etas e secretas.

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Deputados se articulam durante sessão de convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub
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