Insatisfação com governo cresce entre deputados
Até parlamentares alinhados à agenda de Bolsonaro passam a criticar presidente e ministros
Choques entre o governo Jair Bolsonaro e o Congresso engrossaram o grupo de deputados insatisfeitos. Parlamentares que apoiam a agenda do presidente criticam o comportamento de auxiliares.
Derrotas em série no Legislativo consolidaram um ambiente desfavorável, e a equipe de articulação política já admite que a tropa de defesa do presidente é insuficiente.
Os choques entre o governo Jair Bolsonaro (PSL) e o Congresso engrossaram o grupo de deputados insatisfeitos com o Palácio do Planalto. Até parlamentares que apoiam a agenda do presidente passaram a criticar o comportamento de seus auxiliares.
O ambiente hostil preocupou o governo em um momento-chave, com a ida do ministro Abraham Weintraub (Educação) ao plenário da Câmara, nesta quarta-feira (15), para explicar cortes no orçamento de sua pasta.
Derrotas em série sofridas no Congresso consolidaram um ambiente desfavorável para Bolsonaro, e integrantes da equipe de articulação política do Planalto admitem que a tropa de defesa do presidente é insuficiente.
O governo ainda não conseguiu formar uma base parlamentar sólida. Com mais de três meses do novo Congresso, o PSL é o único partido que oficialmente faz parte do apoio ao presidente.
Isso faz com que a base constante de Bolsonaro seja formada por 54 parlamentares. Já o bloco da maioria, conhecido como centrão, possui mais de 200 parlamentares.
O grupo é formado, principalmente, por PP, PR, PSD, PTB e PRB.
A votação que aprovou a convocação de Weintraub, na terça (14), foi articulada justamente por líderes do centrão, mas aglutinou deputados de quase todos os partidos.
Embora a oposição tenha protagonizado os embates mais duros com o ministro na sabatina, parlamentares de centro também engrossaram as críticas à política educacional do governo.
O conflito provoca divisões dentro do próprio time de Jair Bolsonaro. Aliados atribuem as derrotas e a convocação do ministro a críticas feitas aos partidos pelo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO).
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso, procurou Bolsonaro e pediu que Vitor Hugo seja removido do posto. A parlamentar disse que os comentários feitos por seu colega e a falta de articulação estavam “matando o governo”.
A escalada da crise ocorre na semana em que o presidente da Câmara está em uma missão oficial nos Estados Unidos. Rodrigo Maia (DEM-RJ) se equilibrava entre a defesa dos parlamentares e a tentativa de construir pontes com o Poder Executivo.
Nos últimos dias, porém, o aborrecimento se espalhou e atingiu até pequenas siglas, que foram recebidas por Bolsonaro na terça-feira (14).
Parlamentares atacaram o governo federal depois que Joice chamou de “boato barato” a informação divulgada por esses partidos de que o presidente havia suspendido o corte na educação.
Capitão Wagner (Pros-CE), que disse ter votado em Bolsonaro nos dois turnos da eleição, foi à tribuna da Câmara e afirmou que havia presenciado o momento em que o presidente havia ordenado o cancelamento do bloqueio.
“Se o governo não sustenta o que o presidente falou na frente de 12 parlamentares, não sou eu que vou passar por mentiroso”, declarou.
A temperatura do conflito também subiu na reunião de líderes partidários na tarde de terça. Deputados do PSL disseram que o centrão tentava “extorquir” algo do governo. Parlamentares reagiram e ameaçaram levar os aliados de Jair Bolsonaro ao Conselho de Ética.
Nesta quarta, Joice criticou deputados do próprio partido e afirmou que a gestão Bolsonaro terá que recomeçar a construção de sua base.
“Não se pode tratar de maneira hostil, grosseira, o grupo que tem mais de 200 parlamentares quando você quer aprovar uma reforma da Previdência que precisa de 308 parlamentares”, afirmou.
A convocação de Weintraub foi apenas o mais recente capítulo nos desgastes que o Congresso tem imposto ao Planalto em quatro meses.
Na comissão especial mista que analisa a aprovação da MP 870, de reestruturação ministerial do presidente, o governo sofreu uma derrota na semana quando os parlamentares decidiram pela retirada do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) da pasta da Justiça, com a transferência do órgão para o Ministério da Economia.
Antes disso, em fevereiro, o Congresso impôs a primeira derrota ao governo no plenário ao votar pela derrubada do decreto que mudava as regras da Lei de Acesso à Informação. Com o revés, Bolsonaro revogou a norma —que alterava a aplicação da LAI e permitia que ocupantes de cargos comissionados da gestão, em muitos casos sem vínculo permanente com a administração pública, pudessem classificar dados do governo federal como informações ultrassecretas e secretas.