Folha de S.Paulo

Quebra de sigilo atinge ex-assessores do presidente

Cinco pessoas que terão dados fiscais e bancários investigad­os no caso Queiroz trabalhara­m também para pai de senador na Câmara

- Catia Seabra e Italo Nogueira Ricardo Moraes - 6.mai.19/Reuters

A quebra dos sigilos bancário e fiscal em inquérito sobre movimentaç­ões financeira­s do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) atinge ao menos cinco ex-assessores de Jair Bolsonaro.

Todos trabalhara­m tanto no gabinete do pai, na Câmara dos Deputados, como no do filho, na Assembleia do Rio, ao longo do período investigad­o, de janeiro de 2007 a dezembro de 2018.

RIO DE JANEIRO A quebra dos sigilos bancário e fiscal na investigaç­ão sobre as movimentaç­ões financeira­s do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, atinge ao menos cinco exassessor­es de Jair Bolsonaro.

Todos os cinco trabalhara­m tanto no gabinete do pai, na Câmara dos Deputados, como no do filho, na Assembleia Legislativ­a do Rio de Janeiro (Alerj), ao longo do período que engloba a quebra dos sigilos, de janeiro de 2007 a dezembro de 2018.

São eles: Daniel Medeiros da Silva, Fernando Nascimento Pessoa, Jaci dos Santos, Nelson Alves Rabello e Nathália Melo de Queiroz —esta filha de Fabrício Queiroz, policial militar aposentado que era uma espécie de chefe de gabinete de Flávio na Assembleia e um dos alvos da investigaç­ão.

A quebra dos sigilos, que atinge um total de 86 pessoas e nove empresas, é o primeiro passo judicial de investigaç­ão após um relatório do governo federal, há mais de 500 dias, ter apontado movimentaç­ão atípica de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Queiroz.

Além do volume movimentad­o na conta de quem era apresentad­o como motorista de Flávio, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo, em data próxima do pagamento de servidores da Assembleia, onde Flávio foi deputado durante 16 anos (2007-2018).

Como mostrou a coluna Painel, da Folha, integrante­s de órgãos de controle chamaram de “avassalado­ra” a varredura em mais de dez anos nas contas do filho do presidente e de pessoas ligadas a ele.

Entre os cinco que atuaram tanto para Flávio como para o pai, Nelson Rabello é o que tem maior tempo de serviços prestados à família Bolsonaro. Tenente da reserva, serviu com o presidente no Exército e, desde 2005, está lotado em algum gabinete do grupo —o que inclui o do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

Nelson ficou no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro por seis anos, de março de 2005 a maio de 2011. Antes disso, teve breve passagem de um mês na Câmara do Rio como assessor de Carlos.

Após deixar o gabinete de Jair em 2011, virou assessor de Flávio de maio a agosto de 2011. Ele teve os sigilos quebrados por um período de 12 anos em razão desse período de três meses na Alerj. Logo em seguida, voltou à Câmara dos Deputados para trabalhar com o hoje presidente, onde ficou até 2018. Atualmente é assessor de Carlos.

Outros dois nomes já estiveram em evidência por relações anteriores com a família Bolsonaro.

Um deles, Jaci dos Santos, é um ex-soldado que trabalhou como motorista da família. Está em nome dele uma das vans declaradas à Justiça Eleitoral pelo atual presidente, para quem ele atuou por sete meses.

Já Nathália, filha de Queiroz, ficou um ano e dez meses no gabinete de Bolsonaro na Câmara. Como a Folha revelou, ela trabalhava como personal trainer em academias do Rio no período em que esteve nomeada nos gabinetes da família.

Além de ao menos 65 ex-assessores, foram alvos da medida judicial o próprio senador, sua mulher, Fernanda, sua empresa, além de pessoas e firmas que fizeram transações imobiliári­as considerad­as suspeitas com Flávio.

Na solicitaçã­o para a quebra de sigilo, o Ministério Público apontou suspeitas de lavagem de dinheiro nas operações de compra e venda do senador entre 2010 e 2017.

Todas os indícios foram publicados pela Folha em janeiro de 2018. A reportagem revelou que ele realizou operações envolvendo 19 imóveis na zona sul e na Barra lucrando com transações relâmpagos.

Entre as suspeitas estão transações com a MCA Participaç­ões. Ela adquiriu 12 salas comerciais em novembro de 2010, 45 dias depois de o senador ter comprado 7 delas.

Segundo os registros, o político lucrou pelo menos R$ 300 mil nesse curto prazo.

A Promotoria também aponta possíveis irregulari­dades na compra de duas quitinetes em Copacabana em 2012, no qual ele lucrou R$ 813 mil em menos de um ano e meio. O caso foi revelado pela Folha em fevereiro.

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Flávio e Jair Bolsonaro em evento da Marinha no Rio

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